Software transcreve textos em braile
Ferramenta
desenvolvida por pesquisadora do CEB torna-se instrumento
de inclusão de alunos cegos em sala de aula
RAQUEL
DO CARMO SANTOS
|
O
professor José Oscar Fontanini de Carvalho
(à esq.) conversa com a pesquisadora Maria
Caixeta Bezerra (com o livro): ferramenta |
Facilitar a inclusão do aluno
cego em sala de aula foi uma das principais motivações
de Cláudia Maria Caixeta Bezerra, doutoranda
do Centro de Engenharia Biomédica (CEB) da
Unicamp, ao desenvolver um software que faz a transcrição
de textos em braile para a língua portuguesa.
A nova ferramenta, chamada BR Braille, auxiliará
o professor na correção de provas e
tarefas escolares de deficientes visuais.
A idéia de elaborar um sistema
automatizado de transcrição de textos
nasceu quando Cláudia assistiu, em 2001, a
defesa da tese de doutorado Soluções
tecnológicas para viabilizar o acesso do deficiente
visual à educação a distância
no ensino superior. A tese foi defendida na
Unicamp pelo professor José Oscar Fontanini
de Carvalho, da Área de Tecnologia da PUC-Campinas.
Naquela época, consegui vislumbrar uma
ferramenta que proporcionasse acessibilidade a uma
parcela da população que ainda enfrenta
barreiras para a inclusão. Surgiu então
essa alternativa para minimizar o problema,
justifica.
Foram colhidos depoimentos de professores
da rede pública de ensino e constatou-se que,
atualmente, os professores contam com soluções
pouco eficientes para resolver o problema. Em geral,
as escolas têm que contar com trabalho de um
profissional especializado em braile, conhecido como
professor itinerante, pois não fica constantemente
presente. Em outras vezes, recorrem à alternativa
de realizar prova oral para os cegos.
Multidisciplinariedade A partir dessas
questões, Cláudia desenvolveu a dissertação
de mestrado BR Braille: Programa Tradutor de
Textos Braille digitalizados para Caracteres Alfanuméricos
em Português e apresentou junto à
Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação
(FEEC), em janeiro deste ano. Nesta pesquisa, Cláudia
foi orientada pela professora Vera Lúcia da
Silveira Nantes Button, do Departamento de Engenharia
Biomédica. O desenvolvimento do BR Braille
contou com a colaboração dos graduandos
em Engenharia da Computação Adriana
Keiko Kawai e Rodrigo de Passos Barros.
De acordo com o professor Fontanini,
da PUC-Campinas, um aspecto que chama atenção
em todo trabalho foi o de juntar diversas pesquisas
acadêmicas em seus vários níveis.
Reunimos os estudos realizados para uma tese
de doutorado, uma dissertação de mestrado
e de dois trabalhos de iniciação científica.
Sistema óptico - Os testes feitos com
o BR Braille mostraram que o software é capaz
de transcrever os textos de forma legível,
podendo assim se constituir uma alternativa para a
troca de informações entre deficientes
visuais e as pessoas que possuem visão normal.
Seu funcionamento é simples. Um scanner de
mesa pode gerar a imagem digitalizada do texto em
braile. Em seguida, a imagem é traduzida para
caracteres alfanuméricos, por meio de um processo
típico de reconhecimento de padrões
que possui três etapas bem definidas. São
elas: pré-processamento, segmentação
e análise. Por isso basta que o futuro usuário
tenha um scanner, um microcomputador com configuração
mínima de um Pentium 100 MHZ, com 32 mb de
RAM, uma impressora jato de tinta, um software para
digitalização de textos em geral
acompanha o scanner e o sistema Microsoft Windows.
Para verificar se a transcrição
automática ficaria legível mesmo com
diferentes equipamentos existentes no mercado, foram
feitos vários testes, com quinze textos em
braile, utilizando três scanners de marcas e
modelos diferentes. O que se percebeu foi que os textos
digitalizados com resolução de 200dpi
levaram aproximadamente quatro minutos para serem
transcritas e as folhas com 100dpi em apenas um minuto.
Outra preocupação
da equipe foi desenvolver um processo de fácil
operação e de baixo custo para que pudesse
atender as condições econômicas
dos futuros usuários do software. Ela esclarece
que um outro produto disponível no mercado,
o OBR (Optical Braille Recognition), não transcreve
texto na língua portuguesa. O OBR é
ainda comercializado por um alto valor, o que inviabiliza
sua utilização pelos usuários
dentro realidade brasileira, público ao qual
o BR Braille se destina.
Trabalhos futuros
O trabalho da equipe não pára aí.
Um próximo passo será otimizar a ferramenta
para também realizar a reprodução
de textos mais antigos em braile, que não foram
digitalizados. Esse tipo de texto existe principalmente
em bibliotecas dos centros de auxílio ao deficiente
visual. Outro aspecto a ser aprimorado é com
relação à adequação
ao novo código braile unificado que deve estar
sendo utilizado nos próximos meses pela rede
pública de ensino.
Cláudia espera também desenvolver métodos
que permitam a interpretação de símbolos
químicos e matemáticos e ainda o aperfeiçoamento
da usabilidade e aumento da portabilidade. Isto permitirá
a utilização em plataforma Linux e estaria
ainda mais acessível ao público em geral.