Pequenos mo(vi)mentos do discurso amoroso
LUIZ
SUGIMOTO
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A
pedagoga Rosana Rodrigues Gomes da Silva: amor
visto de forma holística |
Amor de mãe, de pai, filho,
namorado, marido, amigo, amor de amante, amor pelo
semelhante. Todos sentem a presença ou a falta
dele em suas vida, relacionando-o com bons e maus
momentos, mas não conseguem expressar o conceito
que fazem de amor. A curiosidade acadêmica levou
a pedagoga Rosana Rodrigues Gomes da Silva a avaliar
o significado deste fenômeno para 27 estudantes
da Unicamp, em pesquisa que balizou a tese de doutoramento
O Amor e seus Mo(vi)mentos, defendida em agosto na
Faculdade de Educação (FE), com orientação
do professor Carlos Alberto Vidal França.
Supus que os universitários,
mais habituados a manusear as palavras, pudessem expressar
melhor o significado do amor por escrito. Apenas suposição,
pois eles também encontraram muita dificuldade,
afirma Rosana Rodrigues. A pedagoga não ofereceu
aos entrevistados qualquer diretriz, quanto a se tratar
de amor de pai, namorado ou marido. Alguns deles
abordaram o amor universal, mas a maioria prejulgou
o amor entre casais, sem conseguir desvinculá-lo
de um relacionamento, observa.
Rosana Rodrigues afirma que a dificuldade
de expressão é natural, pois o conceito
de amor passa necessariamente pela experiência
de vida de cada um, desde o nascimento e a relação
com os pais, seguindo-se a interação
com todas as pessoas que vem a conhecer e culminando
na relação entre casais. Poucos
percebem o caminho que este fenômeno os leva
a percorrer, ou as conseqüências das opções
feitas a partir de seus relacionamentos, explica
a pedagoga. É daí que surgem idéias
difusas: se o amor é um momento, uma ilusão,
uma busca, um destino ou uma certeza; quando e como
começamos a amar; quais são os sintomas.
A caracterização do amor vai depender
da compreensão que cada pessoa tem de todas
essas variáveis, acrescenta.
A partir das respostas dos universitários
da Unicamp, Rosana Rodrigues realizou uma triagem
entre aqueles que já viveram a experiência,
os que não viveram e os que se consideravam
amantes naquele momento. Excluindo os estudantes
que nunca tinham amado, entre os que já amaram
prevaleceu a associação da experiência
com sofrimento e a sensação de vazio
do final da relação. Os amantes, na
maioria, ressaltaram o lado belo do sentimento, e
mesmo os que viam nele uma face ruim, observaram sua
importância para o amadurecimento emocional,
afirma a pedagoga.
Holismo Na opinião
de Rosana Rodrigues, a empolgação por
encontrar uma pessoa que atenda a suas expectativas
naquele momento, proporciona aos amantes uma visão
de amor mais real que a dos estudantes que guardaram
apenas imagens amargas da experiência anterior.
Os outros, que disseram nunca ter amado, talvez
mantenham uma expectativa de amor ideal, sobre o qual
leram ou ouviram de amigos, observa. Mas ela
observa que, mesmo entre os estudantes que estavam
amando, poucos colocaram o amor como já amadurecido
para uma relação mais estável
como o casamento.
Para a pedagoga, o amor é
uma questão holística e deve-se compreender
seu papel em todos os relacionamentos humanos, não
apenas entre homem e mulher. Quando nos reconhecemos
como seres amantes, as relações ficam
mais tranqüilas, livres de medos e preconceitos.
O universitário deveria lidar melhor com isso
e não apenas viver amor, mas refletir sobre
ele. Temos uma vida muito mais ampla do que o aqui
e agora, do será que ele vai telefonar?,
do por que ela está demorando.
Encarando o amor de forma holística, a pessoa
consegue subir um degrau em termos de evolução,
conclui.