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Unicamp supera a marca de 20.000 teses
LUIZ
SUGIMOTO
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O
professor Daniel Hogan, pró-reitor de Pós-Graduação:
As interdisciplinaridades irão dominar
qualquer discussão da ciência em
nível internacional |
A Unicamp, que na avaliação
da Capes possui a melhor pós-graduação
do país, atingiu a marca de 20.000 teses defendidas
no período que vem de 1970 até julho
de 2003, com a titulação de 13.763 mestres
e 6.265 doutores. Trata-se de uma marca como
outras que serão alcançadas, mas também
oferece um bom momento para refletir sobre a importância
que a pós-graduação teve para
a construção da Unicamp e terá
para o seu futuro enquanto instituição,
afirma o pró-reitor de Pós-Graduação
Daniel Hogan.
O pró-reitor preocupa-se
em fazer justiça aos autores das primeiras
teses defendidas na Unicamp, antes de 1970, quando
vigorava o regime antigo em que pesquisadores formados
em outras instituições tinham seus trabalhos
científicos avaliados por bancas escolhidas
pela Universidade. Estamos divulgando números
duros, a partir da criação dos cursos
formais de pós-graduação. A rigor,
a Unicamp não pode se vangloriar de ter formado
aqueles mestres e doutores, mesmo que muitos deles
tenham feito carreiras brilhantes dentro da Universidade
inclusive orientando teses e ajudando
a transformá-la no que é hoje,
explica.
Na opinião de Hogan, construiu-se
uma instituição ímpar no Brasil
e uma das poucas do mundo a possuir até mais
alunos de pós-graduação que de
graduação. A Unicamp se encontra
no meio de um processo de planejamento estratégico
e vale a pena aproveitar este marco para discutir
questões como a abertura de vagas e a criação
de novos cursos, avaliando qual é a nossa real
vocação hoje e que universidade queremos
a partir do que está construído,
insiste o pró-reitor.
A marca de 20.000 teses foi ultrapassada
no final de julho, graças ao aumento progressivo
do número de alunos nos últimos anos,
tanto no mestrado como no doutorado. A procura por
parte de doutorandos, porém, tem sido mais
acentuada. Estamos perto de receber o mesmo
número de teses de doutorado que de mestrado,
o que também será absolutamente inédito.
Quando informei ao presidente da Capes sobre as 20
mil teses, sua reação foi de grata surpresa.
Não possuo o dado, mas somente a USP deve ter
superado esta marca no Brasil, afirma Daniel
Hogan.
Reconhecida a vocação
da Unicamp na formação de quadros para
outras universidades, o crescimento da demanda torna-se
irreversível. Somente em julho deste ano foram
aprovados quatro novos cursos de pós-graduação:
os doutorados em Antropologia e Sociologia, e os de
Ensino em Geociências e de Ambiente e Sociedade,
ambos interdisciplinares. A pós-graduação
fatalmente vai crescer. Neste estágio em que
as áreas básicas estão consolidadas,
recebendo conceitos muito positivos de avaliação,
devemos decidir para onde crescer. Uma boa direção
é a priorização de cursos interunidades
e interdisciplinares. As interdisciplinaridades irão
dominar qualquer discussão da ciência
em nível internacional, prevê o
pró-reitor.
Daniel Hogan lembra que um dos primeiros
cursos interdisciplinares criados na Unicamp foi o
de Planejamento Energético, em meados da década
de 1980. Na época, não tínhamos
estrutura para abrigar esses cursos interdisciplinares
nem clareza sobre a importância que eles
viriam a adquirir e, por isso, acabou sediado
em uma unidade. É o mesmo caso da Demografia
(que requer conhecimentos da Sociologia, História,
Estatística, Matemática), curso alocado
no IFCH. Hoje, a tendência seria a colaboração
entre unidades. Como exemplo de curso interunidades
temos o de Ciências e Engenharia de Petróleo,
ilustra o professor.
Interinstituições
Ainda batendo na tecla de que a atual estrutura
da pós-graduação foi criada em
função das áreas básicas,
Hogan aponta outra característica futura, que
são os mestrados interinstitucionais. O primeiro
curso, de relações internacionais, começou
a funcionar este ano, envolvendo docentes da Unesp,
PUC de São Paulo e Unicamp. O aluno terá
o título emitido pela instituição
em que estiver matriculado, onde também estará
seu orientador.
Nenhuma das três instituições,
sozinha, poderia oferecer o mestrado em relações
internacionais. Desta forma, potencializamos os recursos
humanos concentrados em uma região, oferecendo
um corpo docente altamente qualificado. A facilidade
de comunicação, hoje, vai permitir cursos
interinstitucionais em outras áreas ,
explica o pró-reitor.
Daniel Hogan considera que a marca
de 20.000 teses é uma referência importante
também para a comunidade externa, visto que
o Ministério da Educação está
preparando o 5º Plano Nacional de Pós-Graduação,
oferecendo diretrizes e bases para as políticas
das instituições. O plano nacional
não possui caráter obrigatório,
mas certamente será levado em consideração
não só pela Capes como por órgãos
de fomento como CNPq e Fapesp. A Unicamp, que atingiu
este amadurecimento na pós-graduação,
tem certa obrigação de contribuir na
elaboração do plano, opina o professor.
Autonomia Outra tendência,
colocada nas discussões do planejamento estratégico
da Unicamp, diz respeito à flexibilidade da
grade curricular. Daniel Hogan aponta a herança
de estruturas rígidas que tinham razão
de ser quando criadas, mas que hoje pedem flexibilização,
atribuindo-se novo caráter inclusive a cursos
da graduação. Vários cursos
estão excessivamente escolarizados, exigindo
muitos créditos em disciplinas que demoram
a autonomizar o aluno. Precisamos trabalhar
no sentido de tornar o estudante mais livre para escolher
as disciplinas e construir sua grade curricular,
afirma.
O pró-reitor lembra, por
último, que o curso de graduação
em Farmácia começa no próximo
ano, reunindo três unidades de ensino (Faculdade
de Ciências Médicas, Instituto de Química
e Instituto de Biologia) e uma unidade de pesquisa
(Centro Pluridisciplinar em Pesquisas Químicas,
Biológicas e Agrícolas, CPQBA). É
inevitável que esta área amadureça
e também venha a propor uma pós-graduação,
finaliza Hogan.
Autor da primeira tese
também
foi o primeiro a ocupar o campus
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O
professor emérito Luiz Augusto
Magalhães, autor da primeira
tese: pioneirismo |
Autor
da primeira tese defendida na Unicamp,
o professor emérito Luiz Augusto
Magalhães reserva uma cadeira de
forro esverdeado para os que visitam sua
sala no Instituto de Biologia. Bem modesta
perto das cadeiras de trabalho projetadas
atualmente, aquela possui encosto baixo
demais para a posição dos
braços e um assento estranhamente
estreito, numa altura que permite a um
homem de pequena estatura sentir os pés
no chão. Sentado nela, na época
em que a Faculdade de Medicina estava
ainda instalada na Maternidade de Campinas,
Zeferino Vaz planejou a construção
da Unicamp. No dia em que defendi
a tese de doutoramento, em 1967, o reitor
disse que eu precisava de uma cadeira
nova e me presenteou com a sua,
recorda o anfitrião.
Antes,
Zeferino Vaz já havia cedido sua
secretária para datilografar a
tese de Magalhães, além
de ajudar pessoalmente nas correções
do texto. Ele tinha pressa, pois
convinha ao chefe do Departamento de Parasitologia
o título de doutor, diz o
professor emérito. A amizade entre
os dois começou na Universidade
de Brasília, desmantelada após
o golpe militar de 1964 porque o reitor
Zeferino Vaz rejeitou ingerências
políticas na instituição,
recebendo o apoio de todos os professores.
Assinei o manifesto e, como os demais,
acabei desempregado, afirma Magalhães.
Médico sanitarista, para ser professor
ele havia deixado um posto seguro na refinaria
da Petrobrás em Duque de Caxias,
e também as pesquisas na Seção
de Esquistossomose do Instituto Oswaldo
Cruz em Manguinhos.
Luiz
Augusto Magalhães aparece em algumas
fotos da cerimônia de lançamento
da pedra fundamental da Unicamp, em 5
de outubro de 1966. Mas o foco das câmaras
estava no marechal Castelo Branco, cuja
presença foi encarada como deferência
especial, visto que ele mesmo se declarou
avesso a tais cerimônias: O
país está cheio de pedras
fundamentais que não frutificaram,
ironizou. Desconheço qual
era o tipo de relacionamento entre Castelo
e Zeferino. O que ouço é
que Castelo foi o mais liberal entre os
presidentes militares e que desejava o
fim do regime o mais rápido possível.
Ficou aborrecido com a crise na UnB e
talvez por isso quis prestigiar o ex-reitor
no projeto em Campinas, opina Magalhães.
A
área de 30 alqueires no distrito
de Barão Geraldo, escolhida para
a implantação da Unicamp,
era considerada um fim de mundo. Em 1968,
quando Zeferino Vaz enfrentava críticas
de professores ao projeto, principalmente
em relação à distância
e à lama, Luiz Augusto Magalhães,
em sinal de apoio ao reitor, juntou sua
equipe de oito pessoas, a cadeira herdada
e as tralhas pessoais para tomar
posse do terreno. O Departamento
de Parasitologia instalou-se em construção
precária ao pé da caixa
dágua, onde hoje funciona
a Diretoria Geral de Administração,
em frente à Reitoria. Ir ao banheiro
significava excursionar pelo mato. O
objetivo era marcar presença no
campus. Uma semana depois o professor
João Baptista Parolari trouxe o
Departamento de Anatomia, recorda.
Caramujos
Moluscos Planorbídeos do Distrito
Federal Brasília é
o título da primeira tese defendida
na Unicamp, mas que foi desenvolvida na
UnB. Magalhães teve a orientação
do professor Lobato Paraense, um especialista
em moluscos transmissores da esquistossomose,
com quem trabalhava em Manguinhos. Fui
incumbido de ir verificar as primeiras
ocorrências de esquistossomose em
Brasília. Tudo indicava que eram
autóctones, ou seja, as pessoas
contraíram a doença lá.
O problema atingiu principalmente a população
operária que construiu a cidade
e vivia perto das coleções
de água onde os moluscos se multiplicaram,
explica o professor.
Luiz Magalhães
apresentou seu trabalho para a banca da
Unicamp às 9 horas da manhã
do dia 5 de abril de 1967. Vinte
e quatro horas depois foi defendida a
segunda tese, pelo professor Bruno Köning
Junior, do Departamento de Anatomia. Como
eu e Bruno fomos posteriormente locados
no Instituto de Biologia, a Faculdade
de Ciências Médicas não
guarda registros das duas primeiras teses,
esclarece o médico.
Outro detalhe pioneiro
da tese de Magalhães é que,
antes de iniciar sua pesquisa em Brasília,
o autor foi levado ao presidente do CNPq
Antonio Moreira Couceiro: Ele me
informou sobre o objetivo do governo de
mudar o sistema de doutoramento no país,
seguindo o modelo dos Estados Unidos e
Europa que exigiam cursos formais de pós-graduação.
Ofereceu-me uma bolsa e fiquei mais de
um ano em Belo Horizonte, região
em que a parasitologia estava muito desenvolvida,
recebendo aulas e treinamento em laboratórios.
O CNPq queria utilizar minha experiência
para a criação de cursos
de pós, conta.
Questionado sobre o
número de mestres e doutores que
orientou no Instituto de Biologia, Magalhães
arrisca de antemão que foram cerca
de 40 teses. Mas busca entre seus
documentos um dado mais preciso e constata
que foram perto de 100. Estão
na lista mais de uma dezena de alunos
de outros países como Chile, Panamá,
Bolívia, Colômbia; três
deles se tornaram reitores, acrescenta.
Em sua opinião, a marca de 20.000
teses defendidas na Unicamp confirma o
reconhecimento que vê por parte
das outras instituições
brasileiras. Estive há duas
semanas em um congresso de parasitologia
no Rio e é curioso como os colegas
de outras universidades ressaltam a força
da Unicamp na pós-graduação,
afirma.
Humanista
Desde o acampamento sob a caixa dágua,
Luiz Augusto Magalhães vem cativando
alunos com seu perfil de médico
humanista e também por suas imitações
de moluscos em sala de aula sua
performance mais aplaudida é a
do Ancylostoma duodenalis. Aposentado
em 1994, não conseguiu se desvincular
do instituto e continua dando aulas como
professor convidado. Em 20 de junho de
2001, recebeu o título de professor
emérito. Pautado pelo aspecto social
da ciência, acha que os cientistas
devem estar atentos à desestabilização
das sociedades, defendendo projetos que
tragam benefícios imediatos e atendam
um pouco mais às necessidades regionais.
Sobre o andamento das
pesquisas no Brasil, Magalhães
reconhece o progresso das últimas
décadas, mas ultimamente vê
motivos para uma queixa. Nunca passou
pela minha cabeça criticar as pesquisas
de ponta, que têm e terão
importância enorme. O problema está
nas fases de modismo que ocorrem em todo
o mundo, quando se drenam quase todos
os esforços para determinada área,
em detrimento de outras. Na minha área
constato uma fase aguda em que os poucos
recursos existentes são quase todos
drenados para a biologia molecular. Como
não faço biologia molecular,
sinto o drama na pele, um certo desprezo
pela pesquisa mais terra a terra. Um país
em desenvolvimento como o Brasil tem lugar
para as duas coisas.
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A professora e o tempo
VILMA CLÓRIS DE CARVALHO (*)
Deixei o Recife em 1964 para fazer pós-graduação
na USP, já então empolgada com as
Neurociências. No ano seguinte fui convidada
pelo professor João Baptista Parolari para
integrar o corpo docente e organizar a área
de Neuroanatomia da recém-fundada Faculdade
de Medicina de Campinas. Já tendo cumprido
as disciplinas exigidas, poderia continuar o trabalho
que constituía a tese fora da USP. Fui me
envolvendo com a construção da universidade,
partilhando os problemas, criando laços.
Ao final da tese, um marco na minha vida universitária,
não se justificava que ela fosse defendida
fora da Unicamp. Fazíamos parte da instituição.
Para a obtenção
do grau de doutora em Ciências, defendi em 24
de junho de 1967 a tese intitulada Aspectos da morfologia
e arquitetura do Músculo Plantar. O evento
realizou-se numa sala em construção
da atual Maternidade de Campinas, onde iniciou a Faculdade
de Ciências Médicas. Naquele dia eu era
portadora de um panarício, inflamação
supurada da extremidade de um dedo, que doía
bastante até o inicio do ato, só voltando
a doer ao término da solenidade. Desde então
penso em interação corpo/mente. O tema
da tese evidencia a minha permanente preocupação
em relacionar forma e função. A arquitetura
de um órgão, em todos os níveis,
está diretamente relacionada à função
a que ele se propõe. É a anatomia morfofuncional.
|
A
professora Vilma Clóris de Carvalho:
tese defendida em junho de 1967 |
O músculo plantar não era bem compreendido
quanto a sua ação.
Lembrar a imagem dos canaviais, precursores dos
prédios atuais que compõem o campus
da Unicamp, é como ver um álbum com
fotos antigas de familiares. Traz uma sensação
doce, misto de saudade e satisfação
por sentir-se parte. Inicialmente pensei que dois
anos seriam suficientes para usufruir o prazer de
organizar o curso de Neuroanatomia. No entanto,
a seguir veio o desejo de ver o resultado, constatar
as falhas e os acertos, tentar melhorar, ampliar
e, para tal, faz-se preciso observar o desenvolvimento
do aluno, que é onde se faz sentir o resultado
do trabalho do professor. Vem então a empolgação
com o desabrochar de uns, a tristeza com as dificuldades
de outros. Vamos nos enredando de tal maneira, nos
entrelaçando com tantas vidas que compõem
a universidade, que não vemos o tempo passar.
Registrou-se um marco na Anatomia quando ela se
fez Departamento e ocupou prédio próprio.
Criaram-se novos cursos e intensificaram-se as participações
nas atividades da Ciências Médicas
aumentando o número de usuários e
de trabalhos alí desenvolvidos. Com a instalação
da pós-graduação, e com a ida
de seus docentes para o exterior, que retornando
com novas técnicas precisavam de laboratórios
adequados, novamente o ambiente ficou pequeno. A
construção de mais um andar no prédio
possibilitou financiamento para novos aparelhos
e instalações de laboratórios
coerentes com a nova situação, gerando
trabalhos científicos, incluindo teses de
boa qualidade.
Tenho uma profunda admiração pela
Unicamp quanto à qualidade de seus cursos.
Sendo um centro de excelência é compreensível
a ênfase dada à pós-graduação.
No entanto, vale lembrar que a pós é
precedida de um curso de graduação
que requer, igualmente, alto nível. Preocupou-me,
muitas vezes, que a valorização dada
à pós-graduação pudesse
pôr em risco seu ensino de graduação.
Parabenizo a Unicamp pelas 20.000 teses e reconheço-a
como relevante oficina de trabalhos científicos.
Há que considerar a importância da
realização de uma tese para seu autor,
quando, então, vive um período submetido
a intenso processo educativo. O aluno desenvolve
espírito cientifico, poder de observação,
de atenção, desperta-o para a iniciativa
e ajuda-o a gerar uma massa critica.
O pós-graduando é desafiado, por
força das circunstancias, a render o máximo
em termos de produção e conhecer em
profundidade o tema trabalhado. Este processo educativo
repercute em todas as facetas de sua vida, interfere
na sua mentalidade e amplia sua visão de
mundo.
A Unicamp foi para mim uma grande escola. Conheci
inúmeras pessoas que despertaram minha admiração.
Não tenho dúvidas que estive sempre
crescendo enquanto participava do crescimento de
tantos. Valeu. Foi prazeroso. A aposentadoria, portanto,
não trouxe alívio, apenas atingi outro
estágio e queria vivê-lo. Aos 70 anos,
ainda não senti vazio à minha volta.
Continuo a viver mantendo plenitude mental e sentindo
prazer nos meus dias. Vivendo num âmbito mais
restrito, percebo a importância do contato
puramente humano e vivo bem perto da natureza. Observo
muitas mudanças em mim, ocorridas nestes
sete anos de aposentada. Certas pessoas, nesta fase
da vida, afastadas de seus pares, de tantos amigos,
são afligidas por sentimentos desagradáveis.
Não me enquadro neste grupo e lamento que
estes não se tenham lembrado que, nesta altura
da vida, devemos ampliar a voz subjetiva, pois ela
vai valer por todo tempo.
Não tenho saudades de mim mesma, de outras
épocas. Quando consideramos um tempo passado,
mesmo que tenha sido maravilhoso, quase sempre não
deixa espaço para incluirmos o presente,
que está sendo vivido. Cada instante ao seu
tempo. Nos 32 anos de Unicamp, embora feliz, tive
sempre a sensação de estar contida
num invólucro, que me limitava e me conferia
uma forma estabelecida: a professora. Agora tenho
procurado romper esta casca, me descobrir, me mostrar
além da professora, não esperando
aplauso nem repreensão. Tenho horas de pura
ociosidade, em outras trabalho muito, das maneiras
mais diversas. Desde preparar um peixe recém-pescado
para o almoço até continuar escrevendo.
No momento estou preparando um livro que talvez
se chame Envelhecendo junto ao Mar. Em 2001 lancei
o livro Vivendo sem Calendário, Editora Komedi,
que fluiu da minha vida. Ali registrei episódios
que, de um modo ou de outro, se fizeram especialmente
lembrados. É mais um registro dos pensamentos
que afloraram à minha mente, enquanto escrevia,
sem compromisso, livre. Agora escrevo sobre envelhecimento,
procurando levar em conta as mudanças que
estão se operando em mim, lendo a respeito
do tema e, observando velhos ou quase velhos que
estão ao meu redor.
Estou vivendo com entusiasmo a vida no Recife.
Na infância fui criança sonhadora e
solitária, refugiando-me em pensamentos que
voavam sem limites, criando passatempos, histórias
fantásticas e devorando livros e mais livros.
Em adulta, fui coerente com minha índole
ao optar pela carreira universitária, cuja
base é o estudo. Atualmente vivo junto ao
mar. Quando a maré está cheia é
como se estivesse num navio, tal a proximidade da
água. Ando na praia, penso, elaboro meus
escritos, vejo nascer o sol e a lua, me familiarizo
cada vez mais com a natureza. A vida acadêmica
foi fascinante e a vida de aposentada me deixa feliz.
Tudo é bom no tempo certo.
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(*) Vilma Clóris de Carvalho participou
da criação do Departamento de Anatomia,
onde foi professora por 32 anos. Aposentou-se em
1996 e hoje reside na Praia da Piedade, em Recife
A melhor pós-graduação
do país
O
primeiro curso de pós-graduação
da Unicamp foi o mestrado em Ortodontia,
iniciado em 1962 na Faculdade de Odontologia
de Piracicaba (FOP), então um
Instituto Isolado do Ensino Superior
do Estado de São Paulo
por isso, as teses defendidas na época
também não foram computadas
no quadro desta página. Em 1969,
a Faculdade de Engenharia de Alimentos
criou os cursos de mestrado em Tecnologia
de Alimentos e em Ciências dos
Alimentos. Estes cursos pioneiros foram
seguidos pelos de mestrado e de doutorado
do Instituto de Física Gleb
Wataghin, que começaram
em março de 1970.
Atualmente a Unicamp
oferece 63 cursos em diferentes áreas
de concentração, sendo
vários deles classificados entre
os melhores do país. Segundo
a avaliação da Capes (Coordenadoria
de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior), 94% dos cursos
oferecidos são bons (avaliados
com conceitos maiores ou iguais e a
4) e 50% são excelentes (conceitos
maiores ou iguais a 5). O último
relatório da Capes atribui à
Unicamp a melhor performance na pós-graduação
entre as universidades brasileiras,
elevando 17 cursos, entre mestrado e
doutorado, a níveis de excelência.
Nenhum de seus programas foi reprovado.
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