Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 231 - 29 de setembro a 5 de outubro de 2003
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Artigo - O triunfo da pós
Desafio: informação nutricional
Agricultura familiar
Software: textos em braile
Pequenos movimentos
Linha Branca: setor em alta
Pós além dos 20 mil
`Banco de gelo´: economia
O prêmio de um romance
O Vôo de Dário Thober
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A hora de cada um
 

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Unicamp supera a marca de 20.000 teses

LUIZ SUGIMOTO
O professor Daniel Hogan, pró-reitor de Pós-Graduação: “As interdisciplinaridades irão dominar qualquer discussão da ciência em nível internacional”

A Unicamp, que na avaliação da Capes possui a melhor pós-graduação do país, atingiu a marca de 20.000 teses defendidas no período que vem de 1970 até julho de 2003, com a titulação de 13.763 mestres e 6.265 doutores. “Trata-se de uma marca como outras que serão alcançadas, mas também oferece um bom momento para refletir sobre a importância que a pós-graduação teve para a construção da Unicamp e terá para o seu futuro enquanto instituição”, afirma o pró-reitor de Pós-Graduação Daniel Hogan.

O pró-reitor preocupa-se em fazer justiça aos autores das primeiras teses defendidas na Unicamp, antes de 1970, quando vigorava o regime antigo em que pesquisadores formados em outras instituições tinham seus trabalhos científicos avaliados por bancas escolhidas pela Universidade. “Estamos divulgando números duros, a partir da criação dos cursos formais de pós-graduação. A rigor, a Unicamp não pode se vangloriar de ter formado aqueles mestres e doutores, mesmo que muitos deles tenham feito carreiras brilhantes dentro da Universidade – inclusive orientando teses – e ajudando a transformá-la no que é hoje”, explica.

Na opinião de Hogan, construiu-se uma instituição ímpar no Brasil e uma das poucas do mundo a possuir até mais alunos de pós-graduação que de graduação. “A Unicamp se encontra no meio de um processo de planejamento estratégico e vale a pena aproveitar este marco para discutir questões como a abertura de vagas e a criação de novos cursos, avaliando qual é a nossa real vocação hoje e que universidade queremos a partir do que está construído”, insiste o pró-reitor.

A marca de 20.000 teses foi ultrapassada no final de julho, graças ao aumento progressivo do número de alunos nos últimos anos, tanto no mestrado como no doutorado. A procura por parte de doutorandos, porém, tem sido mais acentuada. “Estamos perto de receber o mesmo número de teses de doutorado que de mestrado, o que também será absolutamente inédito. Quando informei ao presidente da Capes sobre as 20 mil teses, sua reação foi de grata surpresa. Não possuo o dado, mas somente a USP deve ter superado esta marca no Brasil”, afirma Daniel Hogan.

Reconhecida a vocação da Unicamp na formação de quadros para outras universidades, o crescimento da demanda torna-se irreversível. Somente em julho deste ano foram aprovados quatro novos cursos de pós-graduação: os doutorados em Antropologia e Sociologia, e os de Ensino em Geociências e de Ambiente e Sociedade, ambos interdisciplinares. “A pós-graduação fatalmente vai crescer. Neste estágio em que as áreas básicas estão consolidadas, recebendo conceitos muito positivos de avaliação, devemos decidir para onde crescer. Uma boa direção é a priorização de cursos interunidades e interdisciplinares. As interdisciplinaridades irão dominar qualquer discussão da ciência em nível internacional”, prevê o pró-reitor.

Daniel Hogan lembra que um dos primeiros cursos interdisciplinares criados na Unicamp foi o de Planejamento Energético, em meados da década de 1980. “Na época, não tínhamos estrutura para abrigar esses cursos interdisciplinares – nem clareza sobre a importância que eles viriam a adquirir – e, por isso, acabou sediado em uma unidade. É o mesmo caso da Demografia (que requer conhecimentos da Sociologia, História, Estatística, Matemática), curso alocado no IFCH. Hoje, a tendência seria a colaboração entre unidades. Como exemplo de curso interunidades temos o de Ciências e Engenharia de Petróleo”, ilustra o professor.

Interinstituições – Ainda batendo na tecla de que a atual estrutura da pós-graduação foi criada em função das áreas básicas, Hogan aponta outra característica futura, que são os mestrados interinstitucionais. O primeiro curso, de relações internacionais, começou a funcionar este ano, envolvendo docentes da Unesp, PUC de São Paulo e Unicamp. O aluno terá o título emitido pela instituição em que estiver matriculado, onde também estará seu orientador.

“Nenhuma das três instituições, sozinha, poderia oferecer o mestrado em relações internacionais. Desta forma, potencializamos os recursos humanos concentrados em uma região, oferecendo um corpo docente altamente qualificado. A facilidade de comunicação, hoje, vai permitir cursos interinstitucionais em outras áreas ”, explica o pró-reitor.

Daniel Hogan considera que a marca de 20.000 teses é uma referência importante também para a comunidade externa, visto que o Ministério da Educação está preparando o 5º Plano Nacional de Pós-Graduação, oferecendo diretrizes e bases para as políticas das instituições. “O plano nacional não possui caráter obrigatório, mas certamente será levado em consideração não só pela Capes como por órgãos de fomento como CNPq e Fapesp. A Unicamp, que atingiu este amadurecimento na pós-graduação, tem certa obrigação de contribuir na elaboração do plano”, opina o professor.

Autonomia – Outra tendência, colocada nas discussões do planejamento estratégico da Unicamp, diz respeito à flexibilidade da grade curricular. Daniel Hogan aponta a herança de estruturas rígidas que tinham razão de ser quando criadas, mas que hoje pedem flexibilização, atribuindo-se novo caráter inclusive a cursos da graduação. “Vários cursos estão excessivamente escolarizados, exigindo muitos créditos em disciplinas que demoram a ‘autonomizar’ o aluno. Precisamos trabalhar no sentido de tornar o estudante mais livre para escolher as disciplinas e construir sua grade curricular”, afirma.

O pró-reitor lembra, por último, que o curso de graduação em Farmácia começa no próximo ano, reunindo três unidades de ensino (Faculdade de Ciências Médicas, Instituto de Química e Instituto de Biologia) e uma unidade de pesquisa (Centro Pluridisciplinar em Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas, CPQBA). “É inevitável que esta área amadureça e também venha a propor uma pós-graduação”, finaliza Hogan.

 

Autor da primeira tese também
foi o primeiro a ocupar o campus

O professor emérito Luiz Augusto Magalhães, autor da primeira tese: pioneirismo

Autor da primeira tese defendida na Unicamp, o professor emérito Luiz Augusto Magalhães reserva uma cadeira de forro esverdeado para os que visitam sua sala no Instituto de Biologia. Bem modesta perto das cadeiras de trabalho projetadas atualmente, aquela possui encosto baixo demais para a posição dos braços e um assento estranhamente estreito, numa altura que permite a um homem de pequena estatura sentir os pés no chão. Sentado nela, na época em que a Faculdade de Medicina estava ainda instalada na Maternidade de Campinas, Zeferino Vaz planejou a construção da Unicamp. “No dia em que defendi a tese de doutoramento, em 1967, o reitor disse que eu precisava de uma cadeira nova e me presenteou com a sua”, recorda o anfitrião.

Antes, Zeferino Vaz já havia cedido sua secretária para datilografar a tese de Magalhães, além de ajudar pessoalmente nas correções do texto. “Ele tinha pressa, pois convinha ao chefe do Departamento de Parasitologia o título de doutor”, diz o professor emérito. A amizade entre os dois começou na Universidade de Brasília, desmantelada após o golpe militar de 1964 porque o reitor Zeferino Vaz rejeitou ingerências políticas na instituição, recebendo o apoio de todos os professores. “Assinei o manifesto e, como os demais, acabei desempregado”, afirma Magalhães. Médico sanitarista, para ser professor ele havia deixado um posto seguro na refinaria da Petrobrás em Duque de Caxias, e também as pesquisas na Seção de Esquistossomose do Instituto Oswaldo Cruz em Manguinhos.

Luiz Augusto Magalhães aparece em algumas fotos da cerimônia de lançamento da pedra fundamental da Unicamp, em 5 de outubro de 1966. Mas o foco das câmaras estava no marechal Castelo Branco, cuja presença foi encarada como deferência especial, visto que ele mesmo se declarou avesso a tais cerimônias: “O país está cheio de pedras fundamentais que não frutificaram”, ironizou. “Desconheço qual era o tipo de relacionamento entre Castelo e Zeferino. O que ouço é que Castelo foi o mais liberal entre os presidentes militares e que desejava o fim do regime o mais rápido possível. Ficou aborrecido com a crise na UnB e talvez por isso quis prestigiar o ex-reitor no projeto em Campinas”, opina Magalhães.

A área de 30 alqueires no distrito de Barão Geraldo, escolhida para a implantação da Unicamp, era considerada um fim de mundo. Em 1968, quando Zeferino Vaz enfrentava críticas de professores ao projeto, principalmente em relação à distância e à lama, Luiz Augusto Magalhães, em sinal de apoio ao reitor, juntou sua equipe de oito pessoas, a cadeira herdada e as tralhas pessoais para “tomar posse” do terreno. O Departamento de Parasitologia instalou-se em construção precária ao pé da caixa d’água, onde hoje funciona a Diretoria Geral de Administração, em frente à Reitoria. Ir ao banheiro significava excursionar pelo mato. “O objetivo era marcar presença no campus. Uma semana depois o professor João Baptista Parolari trouxe o Departamento de Anatomia”, recorda.

Caramujos – Moluscos Planorbídeos do Distrito Federal – Brasília é o título da primeira tese defendida na Unicamp, mas que foi desenvolvida na UnB. Magalhães teve a orientação do professor Lobato Paraense, um especialista em moluscos transmissores da esquistossomose, com quem trabalhava em Manguinhos. “Fui incumbido de ir verificar as primeiras ocorrências de esquistossomose em Brasília. Tudo indicava que eram autóctones, ou seja, as pessoas contraíram a doença lá. O problema atingiu principalmente a população operária que construiu a cidade e vivia perto das coleções de água onde os moluscos se multiplicaram”, explica o professor.

Luiz Magalhães apresentou seu trabalho para a banca da Unicamp às 9 horas da manhã do dia 5 de abril de 1967. “Vinte e quatro horas depois foi defendida a segunda tese, pelo professor Bruno Köning Junior, do Departamento de Anatomia. Como eu e Bruno fomos posteriormente locados no Instituto de Biologia, a Faculdade de Ciências Médicas não guarda registros das duas primeiras teses”, esclarece o médico.

Outro detalhe pioneiro da tese de Magalhães é que, antes de iniciar sua pesquisa em Brasília, o autor foi levado ao presidente do CNPq Antonio Moreira Couceiro: “Ele me informou sobre o objetivo do governo de mudar o sistema de doutoramento no país, seguindo o modelo dos Estados Unidos e Europa que exigiam cursos formais de pós-graduação. Ofereceu-me uma bolsa e fiquei mais de um ano em Belo Horizonte, região em que a parasitologia estava muito desenvolvida, recebendo aulas e treinamento em laboratórios. O CNPq queria utilizar minha experiência para a criação de cursos de pós”, conta.

Questionado sobre o número de mestres e doutores que orientou no Instituto de Biologia, Magalhães arrisca de antemão que foram “cerca de 40” teses. Mas busca entre seus documentos um dado mais preciso e constata que foram perto de 100. “Estão na lista mais de uma dezena de alunos de outros países como Chile, Panamá, Bolívia, Colômbia; três deles se tornaram reitores”, acrescenta. Em sua opinião, a marca de 20.000 teses defendidas na Unicamp confirma o reconhecimento que vê por parte das outras instituições brasileiras. “Estive há duas semanas em um congresso de parasitologia no Rio e é curioso como os colegas de outras universidades ressaltam a força da Unicamp na pós-graduação”, afirma.

Humanista – Desde o acampamento sob a caixa d’água, Luiz Augusto Magalhães vem cativando alunos com seu perfil de médico humanista e também por suas imitações de moluscos em sala de aula – sua performance mais aplaudida é a do Ancylostoma duodenalis. Aposentado em 1994, não conseguiu se desvincular do instituto e continua dando aulas como professor convidado. Em 20 de junho de 2001, recebeu o título de professor emérito. Pautado pelo aspecto social da ciência, acha que os cientistas devem estar atentos à desestabilização das sociedades, defendendo projetos que tragam benefícios imediatos e atendam um pouco mais às necessidades regionais.

Sobre o andamento das pesquisas no Brasil, Magalhães reconhece o progresso das últimas décadas, mas ultimamente vê motivos para uma queixa. “Nunca passou pela minha cabeça criticar as pesquisas de ponta, que têm e terão importância enorme. O problema está nas fases de modismo que ocorrem em todo o mundo, quando se drenam quase todos os esforços para determinada área, em detrimento de outras. Na minha área constato uma fase aguda em que os poucos recursos existentes são quase todos drenados para a biologia molecular. Como não faço biologia molecular, sinto o drama na pele, um certo desprezo pela pesquisa mais terra a terra. Um país em desenvolvimento como o Brasil tem lugar para as duas coisas”.

 

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A professora e o tempo


VILMA CLÓRIS DE CARVALHO (*)

Deixei o Recife em 1964 para fazer pós-graduação na USP, já então empolgada com as Neurociências. No ano seguinte fui convidada pelo professor João Baptista Parolari para integrar o corpo docente e organizar a área de Neuroanatomia da recém-fundada Faculdade de Medicina de Campinas. Já tendo cumprido as disciplinas exigidas, poderia continuar o trabalho que constituía a tese fora da USP. Fui me envolvendo com a construção da universidade, partilhando os problemas, criando laços. Ao final da tese, um marco na minha vida universitária, não se justificava que ela fosse defendida fora da Unicamp. Fazíamos parte da instituição.

Para a obtenção do grau de doutora em Ciências, defendi em 24 de junho de 1967 a tese intitulada Aspectos da morfologia e arquitetura do Músculo Plantar. O evento realizou-se numa sala em construção da atual Maternidade de Campinas, onde iniciou a Faculdade de Ciências Médicas. Naquele dia eu era portadora de um “panarício”, inflamação supurada da extremidade de um dedo, que doía bastante até o inicio do ato, só voltando a doer ao término da solenidade. Desde então penso em interação corpo/mente. O tema da tese evidencia a minha permanente preocupação em relacionar forma e função. A arquitetura de um órgão, em todos os níveis, está diretamente relacionada à função a que ele se propõe. É a anatomia morfofuncional.

 

A professora Vilma Clóris de Carvalho: tese defendida em junho de 1967

O músculo plantar não era bem compreendido quanto a sua ação.
Lembrar a imagem dos canaviais, precursores dos prédios atuais que compõem o campus da Unicamp, é como ver um álbum com fotos antigas de familiares. Traz uma sensação doce, misto de saudade e satisfação por sentir-se parte. Inicialmente pensei que dois anos seriam suficientes para usufruir o prazer de organizar o curso de Neuroanatomia. No entanto, a seguir veio o desejo de ver o resultado, constatar as falhas e os acertos, tentar melhorar, ampliar e, para tal, faz-se preciso observar o desenvolvimento do aluno, que é onde se faz sentir o resultado do trabalho do professor. Vem então a empolgação com o desabrochar de uns, a tristeza com as dificuldades de outros. Vamos nos enredando de tal maneira, nos entrelaçando com tantas vidas que compõem a universidade, que não vemos o tempo passar.

Registrou-se um marco na Anatomia quando ela se fez Departamento e ocupou prédio próprio. Criaram-se novos cursos e intensificaram-se as participações nas atividades da Ciências Médicas aumentando o número de usuários e de trabalhos alí desenvolvidos. Com a instalação da pós-graduação, e com a ida de seus docentes para o exterior, que retornando com novas técnicas precisavam de laboratórios adequados, novamente o ambiente ficou pequeno. A construção de mais um andar no prédio possibilitou financiamento para novos aparelhos e instalações de laboratórios coerentes com a nova situação, gerando trabalhos científicos, incluindo teses de boa qualidade.

Tenho uma profunda admiração pela Unicamp quanto à qualidade de seus cursos. Sendo um centro de excelência é compreensível a ênfase dada à pós-graduação. No entanto, vale lembrar que a pós é precedida de um curso de graduação que requer, igualmente, alto nível. Preocupou-me, muitas vezes, que a valorização dada à pós-graduação pudesse pôr em risco seu ensino de graduação. Parabenizo a Unicamp pelas 20.000 teses e reconheço-a como relevante oficina de trabalhos científicos.

Há que considerar a importância da realização de uma tese para seu autor, quando, então, vive um período submetido a intenso processo educativo. O aluno desenvolve espírito cientifico, poder de observação, de atenção, desperta-o para a iniciativa e ajuda-o a gerar uma massa critica.

O pós-graduando é desafiado, por força das circunstancias, a render o máximo em termos de produção e conhecer em profundidade o tema trabalhado. Este processo educativo repercute em todas as facetas de sua vida, interfere na sua mentalidade e amplia sua visão de mundo.

A Unicamp foi para mim uma grande escola. Conheci inúmeras pessoas que despertaram minha admiração. Não tenho dúvidas que estive sempre crescendo enquanto participava do crescimento de tantos. Valeu. Foi prazeroso. A aposentadoria, portanto, não trouxe alívio, apenas atingi outro estágio e queria vivê-lo. Aos 70 anos, ainda não senti vazio à minha volta. Continuo a viver mantendo plenitude mental e sentindo prazer nos meus dias. Vivendo num âmbito mais restrito, percebo a importância do contato puramente humano e vivo bem perto da natureza. Observo muitas mudanças em mim, ocorridas nestes sete anos de aposentada. Certas pessoas, nesta fase da vida, afastadas de seus pares, de tantos amigos, são afligidas por sentimentos desagradáveis. Não me enquadro neste grupo e lamento que estes não se tenham lembrado que, nesta altura da vida, devemos ampliar a voz subjetiva, pois ela vai valer por todo tempo.

Não tenho saudades de mim mesma, de outras épocas. Quando consideramos um tempo passado, mesmo que tenha sido maravilhoso, quase sempre não deixa espaço para incluirmos o presente, que está sendo vivido. Cada instante ao seu tempo. Nos 32 anos de Unicamp, embora feliz, tive sempre a sensação de estar contida num invólucro, que me limitava e me conferia uma forma estabelecida: a professora. Agora tenho procurado romper esta casca, me descobrir, me mostrar além da professora, não esperando aplauso nem repreensão. Tenho horas de pura ociosidade, em outras trabalho muito, das maneiras mais diversas. Desde preparar um peixe recém-pescado para o almoço até continuar escrevendo.

No momento estou preparando um livro que talvez se chame Envelhecendo junto ao Mar. Em 2001 lancei o livro Vivendo sem Calendário, Editora Komedi, que fluiu da minha vida. Ali registrei episódios que, de um modo ou de outro, se fizeram especialmente lembrados. É mais um registro dos pensamentos que afloraram à minha mente, enquanto escrevia, sem compromisso, livre. Agora escrevo sobre envelhecimento, procurando levar em conta as mudanças que estão se operando em mim, lendo a respeito do tema e, observando velhos ou quase velhos que estão ao meu redor.

Estou vivendo com entusiasmo a vida no Recife. Na infância fui criança sonhadora e solitária, refugiando-me em pensamentos que voavam sem limites, criando passatempos, histórias fantásticas e devorando livros e mais livros. Em adulta, fui coerente com minha índole ao optar pela carreira universitária, cuja base é o estudo. Atualmente vivo junto ao mar. Quando a maré está cheia é como se estivesse num navio, tal a proximidade da água. Ando na praia, penso, elaboro meus escritos, vejo nascer o sol e a lua, me familiarizo cada vez mais com a natureza. A vida acadêmica foi fascinante e a vida de aposentada me deixa feliz. Tudo é bom no tempo certo.


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(*) Vilma Clóris de Carvalho participou da criação do Departamento de Anatomia, onde foi professora por 32 anos. Aposentou-se em 1996 e hoje reside na Praia da Piedade, em Recife

 

A melhor pós-graduação do país

O primeiro curso de pós-graduação da Unicamp foi o mestrado em Ortodontia, iniciado em 1962 na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), então um Instituto Isolado do Ensino Superior do Estado de São Paulo – por isso, as teses defendidas na época também não foram computadas no quadro desta página. Em 1969, a Faculdade de Engenharia de Alimentos criou os cursos de mestrado em Tecnologia de Alimentos e em Ciências dos Alimentos. Estes cursos pioneiros foram seguidos pelos de mestrado e de doutorado do Instituto de Física “Gleb Wataghin”, que começaram em março de 1970.

Atualmente a Unicamp oferece 63 cursos em diferentes áreas de concentração, sendo vários deles classificados entre os melhores do país. Segundo a avaliação da Capes (Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), 94% dos cursos oferecidos são bons (avaliados com conceitos maiores ou iguais e a 4) e 50% são excelentes (conceitos maiores ou iguais a 5). O último relatório da Capes atribui à Unicamp a melhor performance na pós-graduação entre as universidades brasileiras, elevando 17 cursos, entre mestrado e doutorado, a níveis de excelência. Nenhum de seus programas foi reprovado.

 

 

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