Romance rende prêmio nacional a aluna da Unicamp
ANTONIO
ROBERTO FAVA
"
As férias na praia foram mais do que
recompensadoras. Meu irmão voltou com
novas capacidade. Passou a ser mais independente
dentro de casa pois sabia como se locomover
rastejando."
|
Lia Persona, 23 anos, estudante
do curso de graduação em enfermagem
da Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
da Unicamp, fundiu ficção e realidade
para construir seu romance Uma Luta Pela Vida (Editora
Mondrian), vencedor do 1º Concurso Literário
Anjos de Branco, promovido pelo Conselho Federal de
Enfermagem (Cofen). Concorrendo com mais de 650 obras
inscritas, que contou também com a participação
de nomes de peso da literatura brasileira, Lia elaborou
a obra inspirada no seu relacionamento com o irmão
adotivo, Pedro, deficiente físico e mental,
que entrou em sua vida quando a estudante tinha apenas
seis anos de idade.
Lia conta que seu livro é
uma espécie de diário, no qual é
narrada a história de vida de uma enfermeira,
com seus exaustivos plantões, o trabalho árduo
e delicado numa enfermaria do setor de pediatria e
os conflitos normais do cotidiano. Ao longo de toda
a obra concluída em apenas dois meses
, Lia exprime suas dúvidas e seus desejos,
entre eles o de como cuidar bem do menino. Às
vezes interrompe sua narrativa para fazer considerações
a respeito do garoto sob sua responsabilidade. Esse
contraponto mostra-se inteiramente adequado à
pungência de sua história. O desenvolvimento
das relações entre a enfermeira e a
criança é mostrado com toda a clareza,
não dando a impressão de ser o livro
simplesmente um romance escrito, mas sim, o registro
dos momentos de um ser humano que avança na
direção ao entendimento, conforme
observa Antônio Olinto, da Academia Brasileira
de Letras.
|
Lia
Persona, estudante do curso de Enfermagem da Unicamp:
ficção e realidade |
A idéia do livro, segundo
Lia, sempre esteve presente em sua vida. Diz que desde
pequena queria compartilhar com todos a alegria de
possuir uma inspiração diária.
E essa inspiração veio de seu irmão
adotivo. Sua história de vida, além
de uma luta, é uma grande vitória, digna
de ser compartilhada com o maior número de
pessoas possível. O concurso literário,
promovido pelo Cofen, foi o incentivo que eu precisava
para realizar o sonho de escrever a história
de Pedro, hoje com 21 anos, e dividir com todos, se
possível, os significados que ela trouxe à
minha vida, conta Lia.
Leitora de Herman Melville, de quem
leu Moby Dick, e Charles Dickens, autor de Oliver
Twist, Lia Persona explica que, antes mesmo que pudesse
elaborar as primeiras linhas do seu livro, se propôs
primeiramente a escrever o livro na terceira pessoa,
transferindo à personagem emoções
que, na verdade, eram da própria autora. Percebendo
o distanciamento que criara, resolvi comprometer-me
totalmente com a obra transferindo a narrativa para
a primeira pessoa. A partir de então, parei
de escrever com a mente e deixei meu coração
dar vida às sentenças, conta a
autora de Uma Luta pela Vida.
O romance mescla ficção
e realidade, ao trazer o relato, na primeira pessoa,
de uma enfermeira que decide escrever um livro. Coincidência?,
pergunta a autora. Possivelmente, como a maior parte
da narrativa. A enfermeira faz de seu diário,
um amigo, um confidente e uma inspiração
para escrever o tão sonhado livro. Mas não
se trata de um livro qualquer.
É a história
de seu irmão adotivo deficiente físico
e mental que entrou em sua vida quando tinha seis
anos de idade, influenciando não somente sua
vida, mas na decisão de sua carreira. Assim
como a enfermeira dedicou seu livro ao seu irmão,
que na verdade é meu, dedico este livro a ele.
Suas gargalhadas, na sala ao lado, me incentivaram
a continuar digitando letra após letra de sua
vida, diz a escritora.
Segundo Lia, o Uma Luta Pela Vida bem que poderia
ser o título da história de muitas pessoas.
Deficientes físicos, deficientes mentais, familiares,
profissionais da saúde e muitos outros, fazem
parte dessa luta pela vida. Podem fazer das palavras
da enfermeira as suas, quando diz sempre tive
ao meu lado um milagre de vida.
Lia estuda e trabalha. Ainda assim
sobra-lhe tempo para pensar não
por enquanto em outros livros. Um tema
que pode virar livro é a adolescência.
No entanto, Lia adianta que Uma Luta Pela Vida pode
se transformar em roteiro de televisão. Talvez
um episódio ou uma mini-série, não
sei, vamos ver.