Von Braun, o vôo de Dario Thober
Ex-aluno
do Instituto de Física dirige centro de pesquisas
em inovação tecnológica
MANUEL
ALVES FILHO
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O
físico Dario Sassi Thober (à esq.)
e os pesquisadores do Centro Wernher von Braun,
todos recrutados na Unicamp |
A ciência é
feita a partir de uma série de fatores. Envolve
desde o talento e a qualificação do
pesquisador até o desenvolvimento de novos
métodos, processos ou tecnologias, passando
evidentemente pela alavancagem de recursos e a investigação
exaustiva. Mas há um elemento que, para muitos,
serve de combustível adicional ao saber científico:
o sonho. É o caso do físico Dario Sassi
Thober, graduado e pós-graduado pela Unicamp.
Ainda na adolescência, ele se impôs o
desafio de calcular com precisão a massa do
elétron. Imaginava que, resolvido o problema,
o resultado poderia ser empregado na prática.
Há dois anos, ele encontrou respostas que abriram
caminhos para a compreensão do problema. Além
disso, durante a pesquisa, o físico começou
a sonhar com um espaço onde esse e outros conhecimentos
poderiam ser transformados em inovações
para o benefício da sociedade. O devaneio inicial
do físico responde hoje pelo nome de Centro
de Pesquisas Avançadas Wernher von Braun, instituição
que oferece soluções nas áreas
de softwares em geral, design e experimentos com dispositivos
ópticos e sem-fio, sistemas de gestão
da produção e computação
de
alta performance.
De acordo com Thober, diretor
técnico do von Braun, o centro emprega atualmente
dez pesquisadores, todos eles recrutados junto à
Unicamp. A instituição está instalada
numa ampla sede construída recentemente no
loteamento Alphaville, em Campinas. Lá, os
especialistas desenvolvem projetos que têm objetivos
lunares, segundo o físico. Ele
explica melhor esse conceito: Nossa pesquisa
tem como meta a exploração do conhecimento
e do Universo, cujos subprodutos são novas
tecnologias, métodos e até empresas.
Isso segue o exemplo do projeto espacial norte-americano,
que tinha por objetivo a conquista da Lua. Para ser
cumprido, o desafio lunar exigiu a invenção
dos computadores pessoais, de simuladores, de novos
materiais, da internet, de técnicas de gestão
etc.
Thober enfatiza que o von
Braun acredita na pesquisa pura, segundo ele a base
para qualquer desenvolvimento sólido. Nosso
objetivo é fazer, a partir desse fundamento,
uma ponte para a prática dos problemas reais,
propondo soluções inovadoras e consistentes.
As áreas de competência do centro, acrescenta,
estão relacionadas com a Física, a Matemática
e as Engenharias. Os projetos realizados pela instituição,
que não tem fins lucrativos e está credenciada
junto ao Ministério da Ciência e Tecnologia,
estão direcionados a empresas multinacionais
que atuam nos segmentos da produção
de bens digitais e telecomunicações.
Os especialistas do Von Braun
desenvolveram, por exemplo, uma antena capaz de lançar
ondas não-dispersivas a grandes profundidades,
para aplicações de comunicação
celular. O projeto, incentivado pela Motorola, foi
apresentado inclusive na Nasa, a agência espacial
dos Estados Unidos. O centro concebeu também
softwares para gestão de processos produtivos
e logísticos. São soluções
sob medida, voltadas à otimização
tanto da atividade fabril quanto dos aspectos ligados
a cadeias de suprimento. O princípio que move
esses e outros planos de trabalho, afirma Thober,
é a originalidade. Nós incentivamos
nossos pesquisadores a iniciarem um projeto do zero;
a nem sequer lerem um livro sobre o problema em questão.
Há o risco de gerarmos algo que já existe,
mas também há grande possibilidade de
concebermos algo novo. E esse novo, como demonstram
nossas experiências, sempre surge.
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Thober
mostra sede física do von Braun: conhecimento
transformado em inovação |
Mas não é só
isso, como é possível apreender dos
esclarecimentos do diretor técnico do von Braun.
Ao propor uma solução para o problema
de um determinado cliente, a instituição
de pesquisa vale-se dessa demanda para gerar conhecimento
e recursos que possam realimentá-la. É
o que o físico chama de pisada de elefante.
Traduzindo, é preciso usar todo o peso do saber
para resolver uma dada questão. É
isso que gera a propriedade intelectual, diz.
Isso está implicando, inclusive, na criação
de uma empresa para difundir algumas das tecnologias
ali geradas. Atualmente, revela Thober, uma companhia
está em fase de abertura nos Estados Unidos,
com capital brasileiro e norte-americano, para dar
vazão aos produtos e processos desenvolvidos
pelo centro. Queremos gerar lucro para eles,
mas para o Brasil também, assegura o
físico, completando que esse tipo de parceria
com investidores estrangeiros é extremamente
rentável.
Mas como foi que o von Braun
alcançou o atual estágio, num País
onde o investimento em pesquisa e desenvolvimento
(P&D) tem pouca tradição, sobretudo
pelo risco a ele inerente? Na opinião de Thober,
é preciso conjugar dois fatores para superar
as eventuais desconfianças. Primeiro, é
necessário desenvolver um excelente plano de
trabalho. Segundo, é indispensável oferecer
as soluções às pessoas certas,
ou seja, àquelas que tomam as decisões.
Bons projetos reduzem os riscos e ampliam as
chances de lucro. O von Braun oferece soluções
até certo ponto normais, que exigem baixos
investimentos e geram excelentes resultados. De forma
bastante simples, nós queremos demonstrar a
nossos parceiros que investir em inovação
é um ótimo negócio, muito melhor
do que investir em shoppings.
Isso não significa,
porém, que o von Braun não tenha preocupações
de ordem financeira. Afinal, vender fé
é como caminhar numa corda bamba. Como
todo empreendimento, nós também temos
que pagar salários e energia elétrica
todo mês. Até aqui e espero que
pelo futuro -, temos nos dado bem. Quando me perguntam
qual é o segredo para que um sonho se torne
realidade, eu costumo recorrer ao filme Apollo 13.
Nele, não houve apenas um herói
todos foram heróis. Em outros termos, ninguém
faz nada sozinho. No von Braun, nós temos um
time competente que trabalha de forma coesa. E esse
time só consegue promover realizações
porque também conta com o envolvimento da sociedade,
destaca Thober.
O pai das viagens espaciais
O engenheiro alemão
Wernher Magnus Maximilliam von Braun,
que empresta nome ao centro de pesquisa
instalado em Campinas, foi o responsável
pelo desenvolvimento dos foguetes de combustível
líquido da Alemanha e dos Estados
Unidos. Durante a Segunda Guerra Mundial,
coordenou em seu país a pesquisa
sobre foguetes militares, especialmente
a V2, o primeiro artefato do tipo operacional
do mundo.
No fim da guerra, von
Braun e sua equipe se entregaram ao exército
americano. O grupo formou um dos principais
centros de desenvolvimento da Nasa e foi
responsável pelo lançamento
do primeiro satélite americano
e do primeiro astronauta americano, bem
como pelo desenvolvimento do foguete Saturno
V, usado para levar à Lua as missões
Apollo. Von Braun é considerado
o pai das viagens espaciais.
Sua vida foi uma cruzada
pela exploração do espaço.
Ele era ao mesmo tempo vendedor, cientista
e coordenador de projetos. Para cumprir
seus objetivos, ele incentivou (e em alguns
casos criou) universidades, empresas e
instituições.
Von Braun doutorou-se
em Física com 22 anos de idade
pela Universidade de Berlin, sendo que
desde os 20 anos era o diretor de desenvolvimento
de foguetes da República Alemã.
Von Braun havia se tornado o relações-públicas
da Verein für Raumschiffahrt (Sociedade
para Viagens Espaciais) aos 15 anos, sociedade
esta composta de cinco membros. Esse pequeno
grupo chamou a atenção do
Exército alemão.
Von Braun se destacou
por ter organizado rapidamente um time
e um plano técnico consistente
de desenvolvimento de foguetes, o que
levou à construção
de um centro de pesquisas em Peenemünde,
no mar Báltico, empregando mais
de 100 cientistas e dois mil técnicos.
Esse grupo viria a ser o time-chave para
a conquista do espaço realizada
pelos Estados Unidos nos anos seguintes.
Von Braun era aviador, velejador, mergulhador
e historiador amador. Ele teve três
filhos. Retirou-se daNasa em 1972, tornando-se
vice-presidente da Fairchild Industries,
cargo que ocupou até 1976. Morreu
em 1977, em Alexandria, Virgínia,
com 65 anos, acumulando mais de 25 graus
de doutorado, centenas de artigos e vários
livros.
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