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Disciplina vista como emergente no meio
científico é tema de workshop internacional a ser realizado na Unicamp

Para entender
melhor a geologia médica


MANUEL ALVES FILHO


O professor Bernardino Figueiredo: pesquisas encontram-se num estágio inicial
Oito anos depois do encerramento das atividades da mineradora Plumbum, que operou por cinco décadas no Vale do Ribeira, uma das regiões mais pobres dos estados de São Paulo e Paraná, crianças que vivem nas imediações da empresa ainda apresentam altas concentrações de chumbo no sangue, resultado direto da presença do metal no solo da região. A constatação, feita por um grupo de pesquisadores do Instituto de Geociências (IG) e Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Instituto Adolfo Lutz e Universidade Estadual de Londrina, é um exemplo das contribuições que estudos relacionados à Geologia Médica têm trazido para a saúde humana, animal e vegetal. Diversos temas ligados a essa disciplina, considerada emergente em todo o mundo, estarão sendo discutidos em um workshop internacional que será realizado nos dias 14, 15 e 16 de outubro na Universidade.

De acordo Bernardino Figueiredo, professor do IG e coordenador do evento, o workshop será uma oportunidade única para que profissionais e estudantes ligados à geologia, medicina, toxicologia, biologia, química e ecologia troquem experiências. Para os brasileiros, também será uma rara chance de conhecer trabalhos importantes que vêm sendo desenvolvidos na área da Geologia Médica em outros países. Ele lembra que os instrutores do curso, dois geólogos e dois toxicologistas, são nomes reconhecidos internacionalmente com vasta experiência em pesquisas que relacionam fatores geológicos naturais e saúde.

O esforço dos cientistas, afirma Figueiredo, tem sido no sentido de compreender melhor a influência dos fatores ambientais ordinários na distribuição geográfica de enfermidades. Por ser uma missão extremamente complexa, os estudos têm caráter multidisciplinar. O objetivo final é propor soluções para minimizar, mitigar ou mesmo resolver esses problemas de saúde. O professor do IG lembra que algumas doenças não são provocadas unicamente por conta de uma atividade poluidora, como no caso da extinta mineradora do Vale do Ribeira. Alguns elementos tóxicos em excesso ou mesmo a deficiência de certas substâncias no ambiente, afirma, podem ocasionar muitos males para os homens, animais ou mesmo plantas.

Um exemplo é o flúor, encontrado naturalmente na água. O excesso da substância causa a fluorose, uma doença que provoca alteração nos dentes, podendo inclusive gerar a sua perda. Dependendo do nível de intoxicação, pode ocasionar, ainda, a deformação de ossos e o envelhecimento precoce. Um retrato extremo desse problema vem da Índia. Cerca de um terço dos 1.200 habitantes da cidade de Jhurana Khurd, no centro do estado de Rajasthan, tem as costas curvadas e os dentes estragados. Além disso, todos aparentam bem mais idade do que têm. Tudo conseqüência do consumo de água com excesso de flúor, conforme estudos realizados naquele país.

Exemplos de contaminação humana gerada por fatores ambientais podem ser encontrados em praticamente todo o mundo, desde a China até a Argentina, passando pela Europa e Estados Unidos, conforme Figueiredo. Ele ressalta que, conhecendo melhor como ocorre a distribuição espacial dos problemas de saúde provocados por fatores geológicos, a Geologia Médica tem condições de atuar de forma não apenas corretiva, mas também preventiva. "Identificada uma área que contém algum elemento natural potencialmente nocivo à saúde, é possível adotar ações para a correção do problema ou mesmo evitar que ele venha a prejudicar as pessoas", explica o especialista da Unicamp.

No Brasil, de acordo com o professor do IG, as pesquisas relacionadas à Geologia Médica encontram-se em estágio inicial. Figueiredo diz que tem conhecimento da execução de apenas um levantamento geoquímico completo no País, trabalho que deu origem ao Atlas Geoquímico do Paraná. Graças ao trabalho, foi identificado um caso de fluorose entre moradores do nordeste do Estado. "Os demais estudos têm sido localizados, como o que constatou a contaminação por chumbo no Vale do Ribeira. Temos outros trabalhos na mesma linha, envolvendo elementos diferentes, no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Recife e no Amapá, este último relacionado ao arsênio", revela.

Um esforço em favor do desenvolvimento da Geologia Médica no País, acrescenta o professor do IG, está sendo feito pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), órgão ligado ao Ministério das Minas e Energia. Com auxílio da Unicamp e de outras instituições de pesquisa, o CPRM instituiu o Programa Nacional de Pesquisa em Geoquímica Ambiental e Geologia Médica (PGAGEM), cujo principal objetivo é fornecer subsídios à saúde pública em todo território brasileiro, por meio da análise da água, solo e sedimentos de fundo de rios e lagos. Caso alguma substância ou composto seja identificado em quantidades nocivas, seus efeitos na população local são avaliados por intermédio de diagnóstico clínico e de análises de laboratório (sangue, urina e cabelo).

Workshop - Os tópicos científicos do workshop "Geologia Médica - Metais, Saúde e Ambiente", que ocorrerá entre os dias 14 e 16 de outubro, incluirão toxicologia ambiental, patologia ambiental, geoquímica, epidemiologia e conseqüências de exposições a íons de metais tóxicos no ambiente em geral, com atenção à qualidade da água. Envolverão, ainda, estudos de avaliação de risco biológico, tendências modernas em análise de metais e atualizações na geologia, toxicologia e patologia de exposições a metais.

Os instrutores do curso são: José A. Centeno, Chief, Biophysical Toxicology Division, United States Armed Forces Institute of Pathology; Robert B. Finkelman, Coal Quality Coordinator, Research Scientist, United States Geological Survey; Olle Selinus, Geological Survey of Sweden; Florabel G. Mullick is the Principal Deputy Director of the Armed Forces Institute of Pathology (AFIP) and member of the U.S. Federal Senior Executive Service. O evento acontecerá no Salão Nobre da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). A programação do workshop e outras informações adicionais podem ser obtidas no endereço eletrônico http://www.ige.unicamp.br/geomed/ ou pelo telefone (19) 3788-4653.

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