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Estudo relaciona
alcoolismo a lesões na próstata


RAQUEL DO CARMO SANTOS


A professora Valéria Helena Alves Cagnon Quitete: resultados abrem caminho para descobertas importantes
Pesquisa experimental do Departamento de Anatomia do Instituto de Biologia revela que o uso crônico de álcool causa lesões nas células da próstata e pode afetar a fertilidade masculina. O estudo realizado pela professora Valéria Helena Alves Cagnon Quitete investiga os efeitos ultra-estruturais do alcoolismo no sistema genital masculino, mais especificamente sobre as glândulas sexuais acessórias - que compreende a próstata e a vesícula seminal - e vem sendo conduzido em ratos e camundongos. Ela esclarece que os órgãos dos roedores são similares aos dos seres humanos, o que sugere que os mesmos efeitos podem também ocorrer em homens. Em outra perspectiva, os resultados abrem caminho para descobertas importantes quanto à influência nociva do uso do álcool sobre diferentes patologias prostáticas. A pesquisadora alerta, porém, que os mesmos experimentos ainda precisam ser expandidos antes de serem diretamente relacionados aos humanos.

Durante o estudo, Valéria observou que a severidade das lesões das células secretoras da próstata - responsáveis pela nutrição e motilidade dos espermatozóides - de roedores são proporcionais ao tempo de exposição ao álcool e à quantidade ingerida. Isto traz como conseqüência prejuízo no processo de secreção das glândulas sexuais, como por exemplo a diminuição da produção de enzimas. Em vários experimentos, as células chegaram até mesmo a uma ruptura das organelas responsáveis pela secreção, comprometendo a fertilidade dos animais.

As experiências foram realizadas propositalmente em roedores em idade reprodutiva, por volta de seis meses de idade. A ingestão de etanol era feita de forma espontânea, ou seja, não foi introduzido por sonda gástrica ou via endovenosa. Os animais consumiam naturalmente o álcool deixado em recipientes junto aos de ração.

A ação do alcoolismo crônico no organismo pode ser entendida, segundo Valéria, de duas formas. A primeira é a ação direta. Neste caso, o álcool é absorvido no sangue e é levado diretamente ao sistema genital masculino, causando sérios danos. A outra forma em que se baseia grande parte da pesquisa é a ação indireta através do sistema nervoso central, desequilibrando o eixo hipotálamo-hipófise-gonadal – já que as glândulas sexuais acessórias dependem do hormônio masculino testosterona que deixam de atuar no órgão, causando as lesões.

Outro ponto importante da pesquisa é a relação do alcoolismo com o câncer da próstata. Segundo Valéria, até o momento não se pode afirmar que o álcool é um fator de risco para o desenvolvimento da doença. Contudo, os experimentos revelaram neoplasia intra-epitelial prostática, que embora não seja considerado um câncer, sua mudança morfo-funcional pode evoluir para este tipo de alteração celular. "Também foram observados vários focos de processo inflamatório em partes da glândula prostática dos animais alcoolistas".

Este tipo de constatação propõe diversos tratados para estudos futuros na área de urologia. Valéria lembra que esses resultados são preliminares e induzem outras pesquisas para se chegar à comprovação dos efeitos em humanos. De acordo com a pesquisadora, é difícil conseguir um grupo homogêneo de homens para realizar a pesquisa além do aspecto ético. "Teriam que ter os mesmos hábitos alimentares e não poderia ter outros fatores que podem influenciar, como é o caso do fumo". Nestes estudos com roedores, Valéria explica que algumas das linhagens foram geneticamente selecionadas e, em determinados momentos, foram escolhidos os animais que já tinham uma tendência ao alcoolismo, sendo os roedores excelentes modelos para o estudo do uso crônico de álcool.

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