Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 233 - de 13 a 19 de outubro de 2003
Leia nessa edição
Capa
Educação: futuro sustentável
Desenvolvimento da Unicamp
Vestibular: recorde de inscritos
Farmácias de manipulação
Pesquisa: risco de hipertensão
Incontinência urinária
Pesquisa: subproduto da cana
Quilombos: ensinar e aprender
Plástico biodegradável
Livros sobre leitura
Trabalhos com o Nobel
Unicamp na Imprensa
Painel da semana
Oportunidades
Teses da semana
Entrevista: Contardo Calligaris
Fotografia: clicar e teclar
 

2

Indagações sobre o desenvolvimento da Unicamp

ELIÉZER RIZZO DE OLIVEIRA

No momento em que celebra a marca das 20 mil teses de doutorado e mestrado, a Unicamp se defronta com uma série de questões sobre o seu desenvolvimento. Na minha ótica enquanto docente de Ciências Humanas, destacarei o financiamento, a Previdência, critérios para bolsas e avaliação docente, critério social no vestibular e uma sugestão curricular.

Os recursos orçamentários da Unicamp - um percentual do ICMS e outros tributos - provêm do governo do Estado por força de decreto. É hora de fundar esta autonomia financeira em lei, abrigada de preferência na Constituição estadual, onde achará segurança jurídica mais adequada.

A reforma da Previdência poderá ser um terremoto para a Unicamp, cujos aposentados, embora tenham contribuído mensalmente para o IPESP, são pagos com recursos orçamentários, ao passo que os 5% que o governo paulista passa a recolher adicionalmente de todos os servidores não aliviarão a folha de inativos. A prevalecer a vontade do governo Lula, as universidades públicas serão impedidas de criar fundações para resolver seu problema previdenciário. Ora, a reforma em curso assegura direito adquirido aos docentes e funcionários que satisfazem os critérios da aposentadoria integral. Como não há clareza sobre seus efeitos para os que podem aposentar-se na proporcional, muitos estão buscando na aposentadoria, previamente à reforma, a segurança que esta está destruindo.

Dado que a carreira docente combina tempo de serviço e mérito acadêmico, são previsíveis os reflexos, nas atividades da Unicamp, da eventual saída dos mais experientes. Está assegurada a competência dos que ocuparão estes espaços, mas as vagas não se recomporão na proporção das aposentadorias, por força da legislação e dos recursos escassos.

O financiamento de bolsas de estudo precisa ser melhor equacionada, pois as agências de financiamento orientam-se pela hegemonia das áreas duras. Ao contrário, é preciso erigir uma situação mais favorável às Ciências Humanas, tão importantes para a Unicamp e para o Brasil. Esta disparidade manifesta-se também nos critérios de avaliação do corpo docente, segundo os quais um livro vale menos do que um ensaio, o trabalho individual menos do que o trabalho em laboratório, a docência na graduação não sendo devidamente valorizada. A alteração de tal situação dependerá, sobretudo, de iniciativas dos docentes das Humanas, a começar pela Unicamp.

Outro problema diz respeito às relações entre graduação e pós-graduação, que têm números assemelhados de estudantes com tendência para a ampliação dos pós-graduandos. Ora, uma contribuição essencial da Unicamp na formação de recursos humanos se dá nas carreiras de graduação. Em que pese seu incremento nos últimos anos, acredito que é dever da Unicamp ampliar ainda mais seus cursos e vagas neste nível, talvez em regiões carentes do Estado.

Em função de uma agenda nacional, a Unicamp é pressionada a adotar critérios de compensação social no seu vestibular. Não caberá empregar isoladamente o critério de cor; é indispensável a consideração da condição social do vestibulando e sua família. Em todo caso, se adotado(s) critério(s) social(is), será necessário ampliar o apoio aos estudantes carentes, área em que a Unicamp é exemplar.

Finalmente, a grade curricular das diversas carreiras deveria abrigar disciplina de cidadania e Direitos Humanos, adaptada aos ambientes culturais das áreas de conhecimento. Pois a cidadania precisa ser cultivada e constituída em cada ambiente da universidade. Não basta produzir bons profissionais, do ponto de vista das habilidades. É preciso que cultivem a tolerância, a responsabilidade social, a solidariedade e o desenvolvimento da democracia. E que descubram o que está sendo feito na (e através da) Unicamp, na cidade e no país.

---------------------------------------------------------------------------------------
Eliézer Rizzo de Oliveira é professor do Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas da Unicamp (IFCH)


SALA DE IMPRENSA - © 1994-2003 Universidade Estadual de Campinas / Assessoria de Imprensa
E-mail: imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP