Indagações sobre o desenvolvimento da
Unicamp
ELIÉZER
RIZZO DE OLIVEIRA
No momento em que celebra a marca
das 20 mil teses de doutorado e mestrado, a Unicamp
se defronta com uma série de questões
sobre o seu desenvolvimento. Na minha ótica
enquanto docente de Ciências Humanas, destacarei
o financiamento, a Previdência, critérios
para bolsas e avaliação docente, critério
social no vestibular e uma sugestão curricular.
Os recursos orçamentários
da Unicamp - um percentual do ICMS e outros tributos
- provêm do governo do Estado por força
de decreto. É hora de fundar esta autonomia
financeira em lei, abrigada de preferência na
Constituição estadual, onde achará
segurança jurídica mais adequada.
A reforma da Previdência poderá
ser um terremoto para a Unicamp, cujos aposentados,
embora tenham contribuído mensalmente para
o IPESP, são pagos com recursos orçamentários,
ao passo que os 5% que o governo paulista passa a
recolher adicionalmente de todos os servidores não
aliviarão a folha de inativos. A prevalecer
a vontade do governo Lula, as universidades públicas
serão impedidas de criar fundações
para resolver seu problema previdenciário.
Ora, a reforma em curso assegura direito adquirido
aos docentes e funcionários que satisfazem
os critérios da aposentadoria integral. Como
não há clareza sobre seus efeitos para
os que podem aposentar-se na proporcional, muitos
estão buscando na aposentadoria, previamente
à reforma, a segurança que esta está
destruindo.
Dado que a carreira docente combina
tempo de serviço e mérito acadêmico,
são previsíveis os reflexos, nas atividades
da Unicamp, da eventual saída dos mais experientes.
Está assegurada a competência dos que
ocuparão estes espaços, mas as vagas
não se recomporão na proporção
das aposentadorias, por força da legislação
e dos recursos escassos.
O financiamento de bolsas de estudo
precisa ser melhor equacionada, pois as agências
de financiamento orientam-se pela hegemonia das áreas
duras. Ao contrário, é preciso erigir
uma situação mais favorável às
Ciências Humanas, tão importantes para
a Unicamp e para o Brasil. Esta disparidade manifesta-se
também nos critérios de avaliação
do corpo docente, segundo os quais um livro vale menos
do que um ensaio, o trabalho individual menos do que
o trabalho em laboratório, a docência
na graduação não sendo devidamente
valorizada. A alteração de tal situação
dependerá, sobretudo, de iniciativas dos docentes
das Humanas, a começar pela Unicamp.
Outro problema diz respeito às
relações entre graduação
e pós-graduação, que têm
números assemelhados de estudantes com tendência
para a ampliação dos pós-graduandos.
Ora, uma contribuição essencial da Unicamp
na formação de recursos humanos se dá
nas carreiras de graduação. Em que pese
seu incremento nos últimos anos, acredito que
é dever da Unicamp ampliar ainda mais seus
cursos e vagas neste nível, talvez em regiões
carentes do Estado.
Em função de uma agenda
nacional, a Unicamp é pressionada a adotar
critérios de compensação social
no seu vestibular. Não caberá empregar
isoladamente o critério de cor; é indispensável
a consideração da condição
social do vestibulando e sua família. Em todo
caso, se adotado(s) critério(s) social(is),
será necessário ampliar o apoio aos
estudantes carentes, área em que a Unicamp
é exemplar.
Finalmente, a grade curricular das
diversas carreiras deveria abrigar disciplina de cidadania
e Direitos Humanos, adaptada aos ambientes culturais
das áreas de conhecimento. Pois a cidadania
precisa ser cultivada e constituída em cada
ambiente da universidade. Não basta produzir
bons profissionais, do ponto de vista das habilidades.
É preciso que cultivem a tolerância,
a responsabilidade social, a solidariedade e o desenvolvimento
da democracia. E que descubram o que está sendo
feito na (e através da) Unicamp, na cidade
e no país.
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Eliézer Rizzo de Oliveira é professor
do Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas da Unicamp (IFCH)