Pesquisa mede risco de hipertensão entre jovens
trabalhadores
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Carla Spinella, aluna do quarto ano de Enfermagem
da FCM, acompanhou 193 patrulheiros durante sete
meses |
A incidência
de hipertensão arterial entre adolescentes
brasileiros está entre 6% e 8%, segundo dados
consensuais divulgados em 1998 por entidades médicas.
É um índice que justifica a necessidade
de novas pesquisas e de programas educativos voltados
para esta população, visto que a pressão
arterial acima do normal na infância e adolescência
é um fator prognóstico para hipertensão
na idade adulta. Um tratamento preventivo minimizaria
os efeitos no futuro.
Entre os
fatores de risco que o adolescente pode apresentar
estão herança familiar, excesso de peso,
doenças associadas como diabetes, sedentarismo,
ingestão de sal e gordura, consumo de drogas,
álcool e tabaco, além de aspectos emocionais
como irritação, raiva e estresse. Esta
situação tende a se agravar quando o
adolescente entra no mercado de trabalho, não
encontrando mais tempo para a prática de esportes
e se sujeitando a ambientes que propiciam tensão
em alguma medida.
Carla Spinella, aluna do quarto ano de enfermagem
da Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
da Unicamp, acompanhou 193 patrulheiros que prestam
serviços à Universidade, por um período
de sete meses. Visitei todos os locais de trabalho
e cada entrevista durou em média 20 minutos,
afirma. Do total, 135 são do sexo masculino
e 58 do feminino. Quanto à raça, 79
brancos, 52 negros e 62 pardos. Em relação
ao índice de massa corpórea, 22 estavam
abaixo do peso, 128 com peso normal e 14 apresentavam
algum grau de obesidade.
O professor
José Luiz Tatagiba Lamas, que orientou a pesquisa,
informa que a amostra indicou 4 adolescentes hipertensos
e 9 com pressão limítrofe, prevalência
que ficou abaixo da média reconhecida oficialmente.
Mas a proposta deste trabalho era identificar
os fatores de risco mais comuns entre os adolescentes
trabalhadores e buscar uma associação
com a pressão arterial de cada um. Todos os
que apresentaram pressão acima do normal se
enquadravam na população de risco,
observa.
A presença de fatores de risco entre os adolescentes
foi muito grande, ressalta Carla Spinella. No questionário,
120 deles admitiam irritação (enquanto
sensação passageira), 109 o estresse
(submetidos a preocupação constante)
e 104 a raiva (irritação mais duradoura).
Muitos reclamavam das chefias, do trabalho cansativo
e de problemas com pais e irmãos, lembra
a estudante. Também foi alto o índice
de doenças na família, como as cardiovasculares,
a hipertensão e a diabetes.
O sedentarismo
mostrou-se um fator de risco preocupante, pois 118
deles limitavam-se a trabalhar e a estudar. Eles
argumentam que não têm mais tempo para
praticar esporte. Notamos ainda o grande consumo de
café, talvez pelo fácil acesso no período
de trabalho. A bebida alcoólica é consumida
aos finais de semana por 56 deles e 6 admitiam fumar.
Ninguém confessou o uso de drogas, creio que
por medo ou vergonha, acrescenta a estudante.
Tais respostas vão na contramão
dos dados do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações
sobre Drogas Psicotrópicas), segundo os quais
51,2% das crianças entre 10 e 12 anos já
tiveram contato com álcool, 7,8% com tabaco
e 2% com solventes, complementa o professor.
Manguitos Carla Spinella
realizou três aferições em cada
voluntário, em duas utilizando um manguito
(borracha que envolve o braço) de 9cm de largura
e em outra o aparelho padrão de 12 cm. A
largura correta do manguito corresponde a 38% da circunferência
do braço e 77,4% dos adolescentes exigiram
o tamanho, menor que o padrão. Comparando as
medições feitas com o aparelho correto
e o padrão, vimos diferenças significativas
tanto da pressão máxima (sistólica)
quanto da mínima (diastólica). Um deles
foi considerado hipertenso sistólico na medição
com o manguito correto, mas normotenso quando se usou
o padrão, exemplifica.
Para a maioria dos adolescentes
devemos usar rotineiramente aparelhos mais estreitos
para medir a pressão. Ao utilizarmos o manguito
padrão, o valor fica subestimado, dificultando
a detecção da hipertensão e privando
a pessoa do tratamento adequado, finaliza o
professor Lamas. (L.S.)