Ezequiel Theodoro da Silva lança quatro livros
sobre leitura
MARIA
ALICE DA CRUZ
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O professor Ezequiel Theodoro da Silva, que atua
no ALLE: leitura no centro do debate |
Desde que iniciou a sua vida acadêmica
na universidade, Ezequiel Theodoro da Silva se propôs
a publicar pelo menos um livro a cada dois anos. Em
2003, porém, o professor aposentado, que agora
atua como voluntário no Grupo de Pesquisa ALLE
- Alfabetização, Leitura e Escrita da
Faculdade de Educação da Unicamp (Departamento
de Metodologia de Ensino - Grupo de Pesquisa) superou
sua própria expectativa, entregando ao mundo
editorial quatro novos títulos. Um deles foi
produzido na companhia de três profissionais
da Unicamp, e os outros compõem uma trilogia
pedagógica, que traduz 30 anos de trabalho
dedicado à educação.
Num momento em que o Brasil concentra
20 milhões de analfabetos e outros 70 milhões
de alfabetizados que não lêem, Ezequiel
Theodoro da Silva contribui para o debate sobre os
rumos da leitura no País com a sua trilogia
pedagógica, editada pela Editora Autores Associados
de Campinas. Fui juntando um feixe de escritos
que, quando vi, não me deixavam nem abrir a
gaveta. São textos elaborados para cursos,
aulas e conferências apresentados por Ezequiel
em sua área de atuação. O primeiro
livro da coleção, Leitura em curso,
reúne textos elaborados para cursos de leitura
e tem como proposta alertar para uma revisão
urgente das formas pelas quais professores e bibliotecários
conduzem a prática da leitura.
Criador do Cole e um dos sócio-fundadores
da Associação de Leitura do Brasil (ALB),
Ezequiel não vem medindo esforços na
defesa do direito de acesso à leitura. Quando
uma criança tem problemas com matemática,
por exemplo, ela sofre somente nessa matéria.
Mas se tiver problemas com leitura, vai sofrer não
só com a matemática, mas com todas as
disciplinas do currículo escolar, analisa.
Diante disso, trouxe a público também
o conteúdo do segundo livro da trilogia, Conferências
sobre leitura.
De grande importância para
o momento atual, no qual a falta de leitura
é um dos principais fatores de exclusão
social, o terceiro livro tem como objetivo principal
apresentar a definição de Unidades de
Leitura, fornecendo exemplos concretos aos leitores.
A obra pretende elucidar dúvidas como: Que
cara tem uma unidade de leitura? Como planejar um
trajeto de leitura para os alunos? Sobre isso, o autor
vai direto ao assunto: Muitos professores não
sabem que unidade é um projeto para promover
a leitura e produzir leitores.
Produção virtual
De reuniões totalmente virtuais realizadas
com os co-autores Sérgio Ferreira do Amaral,
da Faculdade de Educação, Fernanda Freire,
do Núcleo de Informática Aplicada à
Educação (Nied) e Rubens Queiroz de
Almeida, do Centro de Computação da
Unicamp (CCUEC), surgiu A leitura nos oceanos da internet,
numa edição da Cortez Editora. Os ensaios
orientam educadores de qualquer nível de ensino
dispostos a conduzir o processo de formação
do leitor do texto eletrônico. Apesar
de a base do livro impresso e do eletrônico
ser a escrita, eles não lidos da mesma forma,
explica Silva. Diante disso, os autores decidiram
produzir a obra também virtualmente, encontrando-se
somente no lançamento durante o 20º Cole,
em julho. A edição de 3 mil exemplares,
de acordo com Ezequiel, está praticamente esgotada,
revelando o interesse dos professores pelo tema.
Para Ezequiel, é obrigação
do autor promover a obra. Ele afirma que todos os
livros produzidos por ele anteriormente já
ultrapassaram a décima edição.
Se você gera a criança, tem de
criar, observa. O professor acredita que, a
partir da primeira realização do Cole,
em 1978, a leitura ganhou o estatuto de um objeto
exclusivo de pesquisa. Na sua avaliação,
o Cole vem sendo um fator de estímulo para
as reflexões e a pesquisa sobre leitura em
todos os quadrantes do País. Hoje em dia, os
trabalhos sobre diferentes aspectos da leitura nascem
e se desenvolvem na maioria dos estados brasileiros,
de acordo com o professor.
O assunto nunca esteve tão
quente, observa Ezequiel, que comemora o fato
de o governo federal estar com um projeto de alfabetização
em massa. Uma das preocupações de um
dos maiores incentivadores da leitura é que
o consumo brasileiro de livros é de apenas
1,2 livro/habitante-ano. Ele também aprova
a iniciativa de veículos de comunicação,
como a Rede Globo, em atuar como incentivadores da
leitura. As chamadas para a importância
e o valor da leitura aparecem atualmente em intervalos
de programas de grande audiência, como os jogos
da seleção brasileira, pontua.
A luta pela superação
dos problemas da leitura é intensa, garante
o professor. O primeiro fator que contribui para números
tão baixos de leitores, na sua opinião,
é a crise econômica medonha.
Outro: O País é televisivo.
E outro ainda, que exige muito dos governantes e de
representantes da área educacional: Escolas
e cidades são muito precárias quanto
aos ambientes de leiturização,
reflete. Ele também se espanta com o fato de
Campinas possuir apenas quatro bibliotecas públicas,
enquanto Ribeirão Preto inaugura 330, Curitiba
mantém o Farol do Saber e o Rio de Janeiro
espalha postos avançados de leitura.
O ensino nas escolas é
livresco, mas não tem livros, lamenta
o acadêmico ao comentar as estruturas culturais
para a promoção da leitura. Ele acrescenta
que o desafio é grande diante das precariedades
acumuladas. Um dado assustador revelado por Silva
e que certamente pode retardar o sonho de se ter um
Brasil quase 100% leitor: Sessenta por cento
das escolas brasileiras não têm sequer
energia elétrica.
Apesar de defender os benefícios
de uma boa leitura, Silva reflete também sobre
obrigatoriedade. Também não vamos
usar o discurso que leitura é tudo na vida;
ela é um complemento. A pessoa deve conviver
com a leitura e os livros para satisfazer as suas
diferentes necessidades e nem todas as necessidades
humanas são atendidas exclusivamente pela leitura,
arremata.