Governo traça metas para
os hospitais universitários
Secretário executivo do Ministério
da Saúde revela que política de financiamento
será mudada
CLAYTON
LEVY
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O professor Gastão Wagner de Souza, secretário
executivo do Ministério da Saúde:
Estamos evitando rompimentos unilaterais
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Reformular
a política de financiamento e reorganizar o
atendimento. Esta é a proposta do secretário
executivo do Ministério da Saúde, Gastão
Wagner de Souza, para tentar pôr fim à
crise dos 45 hospitais universitários no país.
Até o final do primeiro semestre, eles acumulavam
uma dívida de R$ 290 milhões, segundo
dados da Associação Brasileira de Hospitais
Universitários e Entidades de Ensino. Esse
endividamento representa mais de meio ano de faturamento
destas unidades com o Sistema Único de Saúde,
que em 2001 foi de R$ 540 milhões.
Os
primeiros passos para implementar a proposta do ministério
já foram dados. Segundo Gastão, o governo está
propondo um novo modelo de financiamento, específico
para os hospitais universitários. Em vez de
um contrato baseado na produtividade, o repasse seria
feito a partir de metas pré-estabelecidas.
O hospital se comprometeria a atingir determinadas
metas e receberia por isso, diz.
Ao
mesmo tempo, Gastão diz que o ministério já
reajustou o valor do repasse para alguns procedimentos
específicos, cujo teto não subia há
cerca de dez anos. Outra proposta é articular
parcerias com estados e municípios para desafogar
os pronto-socorros dos hospitais universitários
que, a rigor, deveriam atender somente casos de urgência
e alta complexidade. Em Ribeirão Preto
isso já está acontecendo, diz.
Gastão também quer que as prefeituras abram
espaço em suas policlínicas para que
estudantes de medicina e enfermagem desenvolvam sua
formação.
Na
entrevista que segue, concedida ao Jornal da Unicamp
durante o Fórum Permanente e Interdisciplinar
de Saúde, Gastão, que é professor da
Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp
(FCM), fala sobre a crise financeira dos hospitais
universitários e aponta caminhos para superá-la.
O evento, promovido no último dia 16 pelo Hospital
de Clínicas da Unicamp e Centro de Atenção
Integral à Saúde da Mulher (Caism),
focalizou o tema As políticas públicas
de saúde e o papel dos hospitais universitários.
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JU - Na visão do
ministério da saúde, qual deve ser o
papel do hospital universitário?
GastãoEsse papel precisa ser redefinido.
Hoje, o hospital universitário faz de tudo
um pouco. A nossa proposta é que ele seja um
espaço de atendimento especializado, de pesquisa,
ensino, residência e pós-graduação.
Também é importante que o SUS abra espaço
para o estágio. As prefeituras e os estados
precisam abrir um espaço para os alunos de
medicina e enfermagem desenvolverem sua formação
nas policlínicas e nos demais programas de
atendimento, como o Saúde da Família
e o Saúde Mental. Queremos reorganizar esse
sistema para que o atendimento especializado, como
transplante, tratamento do câncer, e a pesquisa,
ocorram no hospital universitário.
JUAs articulações
para essa parceria com estados e municípios
já estão sendo feitas?
GastãoJá estamos trabalhando nessa
linha.
JUE qual é a receptividade
à proposta?
GastãoMuito boa. Estamos trabalhando
com todos os hospitais universitários. Estamos
trabalhando na linha de contrato de metas. Definindo
ampliação do financiamento aos hospitais
universitários baseada em metas e envolvendo
estados e municípios. Estamos trabalhando nisso,
tentando evitar rompimentos unilaterais. Em razão
da crise financeira, muitas vezes a universidade pára
de atender às urgências antes que o município
se capacite, o que gera uma situação
difícil para a população.
JUEsse é um quadro
presente em quase todos os hospitais universitários
do país. Em razão disso, o ministério
pretende adotar uma política de financiamento
diferenciada para os hospitais universitários?
GastãoSim. Esse contrato de metas é
específico. Em relação aos hospitais
federais, que fazem parte do orçamento da União,
já criamos um financiamento especial. Ampliamos
o número de funcionários em 30%. Eles
estavam usando dinheiro do SUS para pagar funcionários
e nós conseguimos orçamento para concurso,
que foi o primeiro da área. Com isso conseguimos
ampliar o número de médicos e enfermeiros.
Conseguimos ampliar o orçamento via SUS. Então,
temos uma proposta específica para os hospitais
universitários que está sendo construída
JUnto com eles.
JUQual a linha mestra dessa
proposta?
GastãoMudar o contrato de pagamento,
que atualmente é baseado na produtividade,
por um contrato por metas. O hospital se comprometeria
a atingir determinadas metas e receberia por isso.
Queremos fazer um contrato que mude o padrão
de financiamento.
JUEm muitos hospitais universitários,
o teto de repasse para determinados exames, como por
exemplo o de tomografia computadorizada, não
sobe há cerca de dez anos. No caso do HC da
Unicamp, a demanda por esse tipo de atendimento subiu
nesse período de 700 para 1,2 mil por mês.
A diferença cai na conta do hospital e gera
déficit. O senhor acha que essa nova proposta
será suficiente para acabar com o déficit
dos hospitais universitários?
GastãoSim. Porque em vez de pagar por
procedimento queremos pagar por metas. Por exemplo:
se um transplante implicar numa tomografia, então
pagaremos o conJUnto do procedimento, o que implica
na necessidade de o hospital ter tomógrafo.
Agora, o ministério já reaJUstou uma
série de procedimentos que estavam defasados,
como hemodiálise e atendimentos de média
complexidade. O problema é que alguns estados
não repassaram esse aumento aos hospitais universitários.
JUComo o ministério
pretende atuar nestes casos?
GastãoO estado é autônomo,
não podemos constrangê-lo. Mas temos
o dever de fazer a mediação. A verdade
é que houve esse aumento. O índice variou
conforme o procedimento. Em alguns casos chegou a
30%. A consulta médica, por exemplo, na área
pública, passou de R$ 2,00 para R$ 7,00. Acredito
que o déficit do HC da Unicamp, que gira em
torno de R$ 250 mil por mês, poderia ser coberto
com estes aumentos.
JUÉ possível
quantificar o aumento dos investimentos previstos
nos hospitais universitários?
GastãoEsse ano já ampliamos o
gasto com hospitais universitários em R$ 100
milhões além do que estava previsto.
Esse dinheiro foi destinado a repasses, pessoal e
equipamentos.
JUO senhor também
defende uma redefinição do papel do
pronto-socorro no hospital universitário. Redefinir
quais aspectos?
GastãoEsse tipo de pronto socorro, que é
aberto, é um atendimento que o município
tem de assumir, deixando para o hospital universitário
apenas os casos mais graves. Em Ribeirão Preto
isso já acontece. A prefeitura e a universidade
montaram um pronto-socorro conJUnto no centro
da cidade e o Hospital das Clínicas passou
a atender casos referenciados. Não tem mais
porta aberta. Pessoas com pressão alta, por
exemplo, não são encaminhadas ao HC
e sim para o posto de saúde ou para outro pronto-socorro.
JUComo é possível
aos hospitais universitários conciliar esse
atendimento brutal à população
com atividades de ensino e pesquisa?
GastãoO hospital universitário
tem de ser diferente dos outros. Tem de ter um espaço
para fazer pesquisa e adotar outro ritmo de atendimento.
Tem de reorganizar o modelo. Vários já
estão fazendo isso.
JUO governo liberou um
acréscimo de R$ 3 bilhões para o orçamento
do SUS. De que maneira esse dinheiro está sendo
usado?
GastãoEsse dinheiro é pactuado
com estados e municípios. Desse total, R$ 100
milhões foram para os hospitais universitários,
R$ 400 milhões foram para a atenção
básica, R$ 200 milhões foram para o
combate à epidemia de dengue, e R$ 1,1 bilhão
foi para o aumento dos procedimentos mais complexos.
Portanto, esse dinheiro foi todo aplicado na atenção
à saúde.