Urbanização faz Atibaia perder volume
de água
Crescimento desordenado degrada
principal manancial de abastecimento da população
de Campinas
ANTONIO
ROBERTO FAVA
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Rio Atibaia na altura do distrito de Sousas, onde
foi feita a pesquisa: círculo vicioso de
problemas |
Pesquisa desenvolvida pela engenheira
civil Maria Rejane Siviero constatou que o rio Atibaia,
responsável pelo abastecimento de 80% da população
de Campinas, está perdendo volume de água.
Depois de mais de três anos de pesquisa, a engenheira
concluiu que a degradação ocorre em
virtude dos problemas causados pela urbanização
desenfreada, entre eles o desmatamento, as obras irregulares
e as atividades agrícolas sem os mínimos
critérios de conservação. Foram
coletadas amostras num trecho de 73 quilômetros
do rio. Nos levantamentos, a pesquisadora constatou
também que as águas do Atibaia estão
cada vez mais poluídas.
Verifiquei que a construção
de núcleos residenciais em cidades próximas
a Campinas entre elas, Valinhos, Vinhedo, Itatiba,
Morungaba, Jarinu, Bragança Paulista e Atibaia
produz grande volume de esgoto doméstico
e industrial e material erosivo (argila, silte, areia
e cascalho). Todo esse lixo vai para o
rio, diz a pesquisadora. Como conseqüência
direta desse processo, as enchentes e inundações,
provocadas pela água das chuvas, passaram a
ser cada vez mais freqüentes devido ao mau uso
e à degradação do solo das cidades
vizinhas.
Assim, assoreado, o rio passa a
correr mais lentamente na época da estiagem,
o que, por sua vez, provoca acúmulo de sedimentos,
gerando um círculo vicioso que modifica o ecossistema
e que causa graves problemas de abastecimento, além
de inundações e enchentes na época
das chuvas. Segundo a pesquisadora, esse problema
tende se agravar caso medidas urgentes não
forem tomadas pelo poder público.
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A engenheira civil Maria Rejane Siviero: lixo
no rio |
Maria Rejane é autora da
tese de doutorado Estudo da ocupação
do solo a montante de uma seção do Rio
Atibaia associada à descarga sólida
transportada, defendida recentemente na Faculdade
de Engenharia Civil (FEC), sob orientação
do professor Evaldo Miranda Coiado. Para desenvolver
sua pesquisa, a engenheira trabalhou numa passarela,
antiga ponte de trens, no distrito campineiro de Sousas,
onde coletou amostras com o objetivo de determinar
a quantidade da descarga sólida e de sedimentos
em suspensão e arraste (areia e cascalho),
entre outros materiais.
Pude verificar que naquele
trecho do rio foi registrada uma média de 147
toneladas/dia no ano de 1993, e 522 toneladas/dia
para 1999 de material nocivo à vida do rio.
Desse total, 74% representam os sólidos fixos,
que são as matérias inorgânicas,
como as erosões, por exemplo, e 26% são
o que chamamos de sólidos voláteis,
matéria orgânica produzida pelo esgoto
doméstico e industrial, explica Maria
Rejane.
Coincidentemente, medições
realizadas no período entre 1993 e 1999, revelam
intensa atividade antrópica resultante
da ação do homem , principalmente
no que se refere ao uso e manejo do solo na área
do trecho investigado do rio Atibaia, uma vez que
a urbanização aumentou em 50%, no período
investigado.
Os estudos de Maria Rejane mostram
que basicamente são seis os principais fatores
que afetam a erosão pela água: chuva,
escoamento superficial, solo, topografia, uso e manejo
do solo e práticas sem critérios de
conservação, como o plantio ou cultivo
em curvas de nível e terraceamento. Rejane
explica que muitas vezes o impacto da chuva sobre
o solo desprotegido onde há plantio
de algumas culturas é por onde se dá
o início ao processo da erosão do rio.
As principais características da chuva incluem
intensidade, duração e freqüência.
A maior parte do solo erodido pela
água é transportado declive abaixo pelo
escoamento superficial. Esse escoamento não
tem início até que a intensidade da
chuva exceda a capacidade de infiltração
do solo e que a capacidade de armazenamento da superfície
do solo seja satisfatória. Dessa forma, os
solos que apresentam capacidade de infiltração
e ou capacidade de armazenamento superficial elevado,
podem retardar o escoamento superficial e reduzir
substancialmente o índice de escoamento,
explica Maria Rejane.
O declive íngreme e extenso
de um terreno configura-se na principal característica
topográfica que provoca a erosão. A
quantidade de solo destacado e transportado pelo escoamento
superficial e o tamanho dos sedimentos que podem ser
removidos, aumenta à medida que o declive se
torna mais íngreme e prolongado.
Para a pesquisadora, deveriam ser
adotadas práticas de conservação
do solo com referência à construção
de núcleos residenciais nos respectivos municípios.
Ela acredita que só assim o rio Atibaia poderá
ter suas águas preservadas. É
por isso que estou procurando as prefeituras e apresentando
um estudo dos problemas que estão ocorrendo
nesses 73 quilômetros de extensão do
Atibaia, acentua Maria Rejane.