Por que as mulheres idosas correm mais riscos que
os homens
RAQUEL
DO CARMO SANTOS
|
Rosane Carvalho (à esquerda)
e a professora Vera Aparecida Madruga Forti |
As mulheres que têm entre
50 e 86 anos e que praticam atividades físicas
têm maior probabilidade de desenvolver patologias
como hipertensão, diabetes, obesidade, entre
outras, do que homens na mesma faixa etária,
segundo pesquisa feita em parques urbanos e instituições
de Campinas. Essa conclusão consta da dissertação
de mestrado Perfil de aptidão física
relacionada à saúde de pessoas a partir
de 50 anos praticantes de atividades físicas,
apresentada, na Faculdade de Educação
Física (FEF), pela especialista em gerontologia
Rosane Beltrão da Cunha Carvalho, orientada
pela professora Vera Aparecida Madruga Forti. O sobrepeso
provocado por uma alimentação inadequada,
constatou a pesquisadora, agrava este quadro.
Rosane aplicou um questionário
de avaliação e vários testes
de aptidão física em mais de mil pessoas,
do sexo masculino e feminino, que praticam atividades
físicas regularmente. No levantamento, contou
com a ajuda de aproximadamente 20 estudantes de graduação,
pós e de especialização da Faculdade.
Em sua pesquisa, constatou também que uma grande
porcentagem desse universo não-sedentário,
está classificada na faixa de sobrepeso e uma
taxa significativa encontra-se no grau de obesidade
tipo 1, ou seja, a leve, calculados com base no Índice
de Massa Corpórea (IMC).
Segundo Rosane, os dados mostraram
que embora essa parcela da população
pratique exercícios físicos regularmente,
as mudanças nos hábitos alimentares
ainda não foram incorporadas, podendo não
estar adequados a essa população. A
autora explica que para a manutenção
de um peso ideal, apenas 20% estariam relacionados
à atividade física, enquanto 80% envolvem
uma dieta balanceada e apropriada.
Rosane lembra que na faixa etária
estudada, as pessoas deveriam comer menor quantidade
com mais qualidade devido às alterações
do metabolismo. Ao invés disso, o que ocorre
na realidade é justamente o contrário
e, apesar de não ser o objetivo da pesquisa,
Rosane identificou grande parte de idosos que moram
sozinhos e com isso o fator alimentação
fica muito prejudicado. É senso comum, também,
a idéia de que pessoas com mais idade devem
comer mais, o que agrava este quadro.
Relação cintura/quadril
Para sustentar os dados apresentados em seu
trabalho, Rosane recorreu a parâmetros americanos
de índices de distribuição da
gordura no corpo humano ou Relação cintura-quadril
(RCQ). Esta relação, segundo ela, é
tradicionalmente utilizada para se prever a propensão
das pessoas desenvolverem certas patologias, como
por exemplo doenças cardiovasculares (DCV).
Foram avaliados 979 pessoas com mais de 50 anos, sendo
734 mulheres e 245 homens.
|
acompanhamento: novos parâmetros |
No caso das mulheres, as porcentagens
de RCQ foram bastante elevadas. Trata-se de um dado
preocupante no que diz respeito às patologias.
Na faixa etária entre 50 e 59 anos, por exemplo,
a porcentagem de mulheres com risco alto e muito alto
chega a 62,92% e, entre 60 e 69 anos, o índice
sobe para 65,66%. De acordo com a pesquisadora, os
homens avaliados estão com a distribuição
da gordura dentro das taxas aceitáveis pelos
parâmetros utilizados. De 50 a 59 anos, em torno
de 63% dos praticantes de exercícios físicos
do sexo masculino estão fora da área
de risco de desenvolver patologias. Já nas
idades entre 60 e 69, a porcentagem cai para 54,88%.
Rosane esclarece que foram cruzados os dados para
as faixas etárias em que se possuem índices
de correlação.
Se na relação cintura/quadril
as mulheres estão em desvantagem, no peso as
duas categorias não estão satisfatórias
para os padrões americanos. O trabalho demonstrou
que a maioria dos praticantes de exercícios
físicos está com o peso acima do normal.
Os homens lideram a contagem com 57,14% classificados
no sobrepeso e 13,88% com obesidade leve. Entre as
mulheres, 45,90% estão com sobrepeso e 18,98%
têm obesidade leve.
Para a coleta de dados dessa pesquisa
foi realizado um mutirão, entre julho e setembro
de 2002, em que os estudantes foram devidamente treinados
e deslocados para 17 locais entre bosques, parques
e instituições ligadas à Prefeitura
de Campinas. A receptividade e o número
de questionários preenchidos superaram as expectativas,
comemora Rosane.
O foco da pesquisa se concentrou
nas variáveis associadas à aptidão
física relacionada à saúde. São
elas: força muscular equivale a quanto
se consegue executar determinado movimento ,
composição corporal, resistência
cardiorrespiratória e flexibilidade. Além
disso, também fizeram medição
de pressão arterial e freqüência
cardíaca. Dessa forma os estudantes podiam
orientar as pessoas que estavam com a medida da pressão
arterial alterada a procurar um médico para
o controle. Em relação às variáveis
flexibilidade, força muscular e resistência
cardiorrespiratória, os resultados alcançados
pela amostra foram bastante satisfatórios,
tomando-se como padrão os dados relativos à
população americana.
Após a análise dos
dados coletados, todos os 979 voluntários participantes
da pesquisa receberam, através do correio ou
da instituição à qual estavam
vinculados, uma ficha técnica contendo os dados
relativos à sua avaliação. Segundo
a pesquisadora Rosane, o número de participantes
dessa pesquisa foi bastante representativo para a
literatura da área. Eles deverão contribuir
para os trabalhos em andamento e servir de parâmetro
para os debates da comunidade científica que
ressaltam a importância da atividade física
para melhorar a qualidade de vida.