Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 268 - de 4 a 10 de outubro de 2004
Leia nessa edição
Capa
Diário da Cátedra
Prêmio Finep Sudeste
Universo das sensações
Há 38 anos: pedra fundamental
Teia do Saber: Vale do Ribeira
Teia do Saber: 932 escolas
Vitamina do século 21
Fóruns
Painel da semana
Oportunidades
Teses da semana
Unicamp na mídia
Biomassa: fonte de energia
Entre a mesa farta e a mesa de
  cirurgia
 

9

Pesquisa pioneira desenvolvida por doutorando
da FEA simplifica extração de folatos para análise

Metodologia determina
quantidade de ‘vitamina
do século 21’ nos alimentos



MANUEL ALVES FILHO



Rodrigo Ramos Catharino, autor da tese de doutorado: folatos previnem, reduzem ou retardam o surgimento de doençasOs folatos compõem uma classe de vitaminas cuja deficiência pode acarretar vários distúrbios bioquímicos no organismo humano, concorrendo para o surgimento de doenças cardiovasculares e neurodegenerativas. Nas gestantes, até o 28º dia de gravidez, o baixo consumo dessas substâncias pode ocasionar a má formação fetal. A despeito da importância dos folatos, o Brasil ressentia-se de uma metodologia analítica que os determinasse e quantificasse nos alimentos. Tal carência acaba de ser suprida graças a uma pesquisa pioneira no país, desenvolvida para a tese de doutorado de Rodrigo Ramos Catharino, defendida recentemente na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp. O método concebido pelo pesquisador, que cumpre com eficiência os dois objetivos propostos, apresenta uma vantagem sobre as técnicas convencionais: simplifica a extração das amostras para a análise. A metodologia já está sendo objeto de pedido de patente.

Folatos vêm sendo redescobertos

De acordo com Catharino, os folatos passam atualmente por um processo de “redescoberta” em todo o mundo. Anteriormente, eles eram vistos apenas como uma alternativa de combate à anemia. Agora, vários estudiosos os classificam como “vitaminas do século 21”. Tal empolgação tem uma razão de ser. A deficiência dessas substâncias no organismo humano está relacionada com o surgimento de doenças cardiovasculares e neurodegenerativas. Conforme o pós-graduando da FEA, a ciência tem identificado cada vez mais pessoas que sofreram enfartos ou acidentes vasculares cerebrais sem que apresentassem quadros que as predispusessem a esses problemas, como hipertensão, níveis altos de colesterol etc. Todavia, muitas delas tinham no sangue um aminoácido chamado homocisteína, apontado por muitos autores como um fator de degeneração das artérias e veias.

Mas onde entram os folatos nessa história? Conforme Catharino, as vitaminas agem contra a homocisteína, transformando-a em metionina, aminoácido benéfico ao organismo humano. “Além disso, alguns estudos têm apontado os folatos como substâncias que previnem, reduzem ou retardam o surgimento de doenças como o mal de Parkinson e o mal de Alzheimer”, afirma o pesquisador. De posse dessas informações, vários países adotaram legislações que determinam o enriquecimento de alimentos [farinhas, biscoitos, derivados do leite etc] com folatos. Recentemente, o Brasil também encampou a medida, obrigando os fabricantes a adicionar o ácido fólico, que pertence à classe dos folatos, às farinhas de trigo e milho.

Ocorre, porém, que sem uma metodologia analítica eficiente é praticamente impossível identificar e quantificar a presença dos folatos nos alimentos processados. Ou seja, torna-se difícil constatar se a legislação está sendo cumprida e, conseqüentemente, se a saúde dos consumidores está sendo de fato beneficiada. Para chegar ao novo método, Catharino valeu-se da Cromatografia Liquida de Alta Eficiência (CLAE). Primeiro, ele promoveu a extração dos folatos de três matrizes diferentes: frutas tropicais [jenipapo e murici], carne bovina e bebidas fermentadas [vinho tinto e cerveja pilsen]. Depois, injetou as amostras no equipamento de CLAE, que é capaz de separar os diversos tipos de folatos e o ácido fólico.

Por último, o pesquisador gerou, com a ajuda de um software específico, gráficos identificando e quantificando os folatos contidos nas amostras tomadas para análise. Segundo o pós-graduando da FEA, o processo é rápido e preciso. “É possível identificar e quantificar as vitaminas presentes num determinado alimento, com alto grau de precisão, em cerca de meia hora. Essas características são muito importantes para a indústria e a medicina, por exemplo, pois são áreas que dependem de metodologias que forneçam informações ágeis e seguras. Sem isso, perde-se dinheiro e vidas deixam de ser salvas”, pondera o autor da tese.

O Brasil, diz Catharino, é um país privilegiado no que diz respeito à biodiversidade. De acordo com ele, a enorme variedade de frutas e verduras já seria um fator determinante para combater a deficiência vitamínica da população. Ocorre, porém, que nem todos os brasileiros têm acesso a uma vasta gama de alimentos. Além disso, os hábitos alimentares modernos, que privilegiam as comidas congeladas e com alto teor de gordura, fazem com que a dieta de vários segmentos da sociedade não seja a mais adequada às necessidades diárias do organismo. No caso dos folatos, há ainda um agravante.

As principais fontes dessas vitaminas são os vegetais de cor verde escura, como o espinafre e brócolis, não tão comuns na mesa dos brasileiros. “É por isso que o consumo de alimentos enriquecidos com folatos passa a ser importante, pois ajuda a suprir pelo menos parte as necessidades vitamínicas da população”, analisa Catharino. Na própria FEA, acrescenta o autor do trabalho, outros estudos relacionados ao tema apontam para a validade desse tipo de estratégia. Ao adicionarem o ácido fólico ao queijo fresco, os pesquisadores da Unicamp constataram que o consumo de apenas 40 gramas do alimento enriquecido já seriam suficientes para atender às necessidades diárias de uma gestante.

Desde 1998, lembra Catharino, os Estados Unidos já investiram cerca de US$ 10 bilhões em pesquisas envolvendo o ácido fólico. “Lá, eles sabem que prevenir é melhor do que remediar”, destaca. A metodologia desenvolvida pelo pós-graduando da Unicamp, como foi dito, está sendo objeto de um pedido de patente. Ele acredita que, caso haja interesse, a transferência da tecnologia para o setor produtivo não deverá enfrentar complicações e poderá ser feita num curto prazo de tempo. O estudo de Catharino foi orientado pela professora Helena Teixeira Godoy, da FEA, e contou com o apoio financeiro da Capes.

Topo

SALA DE IMPRENSA - © 1994-2004 Universidade Estadual de Campinas / Assessoria de Imprensa
E-mail: imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP