De acordo com pesquisas de Cavalett, este processo de criação de peixes, embora ainda pouco desenvolvido no Brasil, vem sendo implantado no estado de Santa Catarina desde a década de 80, com a construção de açudes pelo governo para essa finalidade.
“O que procurei fazer foi avaliar se o sistema que estão desenvolvendo é ou não ambientalmente equilibrado. E a conclusão a que cheguei é atestar que tal processo é altamente eficaz”, diz o pesquisador. Tanto é que, como se pode constatar, nos últimos anos tem havido crescente interesse por parte de proprietários rurais com o propósito de formar viveiros de peixes intercalados à produção de suínos. Isso tem ocorrido com mais freqüência exatamente na região Oeste de Santa Catarina, onde a piscicultura destaca-se entre as atividades com enorme potencial para manter o homem trabalhando nos campos, “possibilitando rendimentos consideráveis para a manutenção das famílias dos agricultores naquela região do estado”, salienta o pesquisador da FEA. Para se ter uma idéia do desenvolvimento dessa atividade na região, basta dizer que a região Oeste de Santa Catarina se constituiu hoje o maior pólo de produção de suínos do Brasil, com aproximadamente três milhões de cabeças.
Dessa forma, a sustentabilidade da criação de peixes, integrada à suinocultura, vai depender da qualidade dos efluentes (que libera corpos invisíveis) lançados na água e da saúde das diversas espécies de peixes. Segundo o pesquisador, os dejetos orgânicos dos porcos, em viveiros de piscicultura, permitem o desenvolvimento de três cadeias de alimentação para peixes: a primeira, onde estão as macropartículas não digeridas do esterco, a segunda, é composta pela decomposição do esterco, e a terceira está representada pelas bactérias que colonizam as micropartículas do esterco (sem valor nutricional para os peixes), mas que, pela colonização das bactérias e protozoários, o alimento passa a ter alto valor biológico na alimentação de peixes.
Nuggets e filé Para Otávio Cavalett, autor da dissertação de mestrado Análise emergética da piscicultura integrada à criação de suínos e de pesque-pagues, defendida recentemente sob orientação do professor Enrique Ortega Rodrigues, na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), o propósito de sua investigação científica foi avaliar os aspectos ambientais do sistema de produção de peixes naquela região do país.
“Para isso usei um método denominado metodologia emergética, com o objetivo de quantificar todos os recursos necessários para a produção de peixes. Essa metodologia tem o propósito de ‘contabilizar’ sistematicamente não apenas as contribuições vindas da economia (mão-de-obra, combustível, eletricidade e infra-estrutura), mas também as contribuições da natureza, como o sol, o vento e a chuva, com a finalidade de proporcionar a avaliação da sustentabilidade do sistema de produção de peixes”, diz o pesquisador.
Tal atividade no Estado de Santa Catarina tem suscitado o interesse de empresas particulares que vêem na criação de peixes integrada à produção de suínos a chance de abrir boas possibilidades de comércio. “Um bom exemplo da industrialização de peixes é a empresa Cardume, considerada a mais importante da região, que fabrica diversos produtos industrializados como lingüiça, nuggets e filé de peixe, distribuídos por todo o território nacional”, diz Otávio. É preciso salientar que na região Oeste de Santa Catarina não se produz apenas uma única espécie de peixe, mas cinco: a carpa comum e a tilápia, em maior quantidade, e a carpa prateada, a capim e o bagre africano.
A produção brasileira de peixes passou de 20,5 mil toneladas em 1990, para 210 mil em 2001, com um aumento acumulado de 925%. Enquanto isso a produção mundial de peixes obteve um crescimento de 187% no mesmo período. “Essa rápida expansão na produção de peixes no Brasil, muitas vezes de forma desordenada e sem a devida regulamentação, tem preocupado autoridades da área quanto aos possíveis impactos que a atividade pode causar ao meio ambiente, como a redução de oxigênio da água causada pelo excesso de nutrientes, poluição dos rios e a contaminação dos lençóis freáticos”, observa o pesquisador.