| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 306 - 17 a 23 de outubro de 2005
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Atividades marcam nesta semana as comemorações
das duas décadas de funcionamento do hospital

HC, referência em saúde, faz 20 anos

CAIUS LUCILIUS

O Hospital das Clínicas em construção, na década de 70 (Foto: Arquivo FCM)O Hospital das Clínicas (HC) da Unicamp completa 20 anos nesta semana. Idealizado pelo fundador da universidade, Zeferino Vaz, o HC é o elo mais visível da cadeia de relações da Unicamp com a sociedade. Em duas décadas, o Hospital de Clínicas atendeu cerca de seis milhões de pessoas de todo país, realizou 3.300 transplantes e atinge, nesta semana, a marca de 300 mil cirurgias. Nesse período, passaram pelo hospital mais de 10 mil alunos de graduação de medicina, enfermagem, farmácia e fonoaudiologia.

A data será comemorada com uma série de atividades, entre as quais o abraço simbólico ao hospital, com a participação de cerca de 1.500 pessoas, que acontece na terça-feira (18), às 12 horas. “Estamos organizando uma grande homenagem”, revela Sandra Terra, diretora do Serviço de Assistência Social do HC e uma das organizadoras do abraço.

Lançamento da pedra fundamental (Foto:Siarq)Segundo o superintendente do hospital, professor Luiz Carlos Zeferino, o objetivo das atividades da semana do aniversário é parabenizar a todos que ajudaram de alguma maneira a construir o hospital. “Sem o empenho e dedicação de muitas pessoas e dos profissionais de saúde, dificilmente alcançaríamos um patamar como o de hoje”, garante Zeferino, que foi aluno da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e residente na Santa Casa.

Idealizado no final dos anos 60 no contexto do funcionamento da Faculdade de Ciências Médicas e da própria Universidade, o Hospital de Clínicas virou realidade na década seguinte. O professor Sérgio Leornadi, pioneiro da Unicamp, lembra que os debates sobre o tamanho do hospital extrapolavam os muros da instituição e chegavam aos cafés da cidade. “Independentemente das críticas ao projeto original, as discussões deram partida a um projeto ambicioso idealizado por Zeferino Vaz”, recorda o professor Leornadi. Em 1975 foi lançada a pedra fundamental do hospital.

O HC nos dias de hoje: seis milhões de atendimentos em duas décadas  (Foto: Antoninho Perri)A história do Hospital de Clínicas da Unicamp não pode passar sem referência aos quase 20 anos de atividades ambulatoriais de cirurgia e clinica médica na Santa Casa de Misericórdia de Campinas. Para o professor Mário Mantovani, que chegou na Unicamp em 1969 vindo da Escola Paulista de Medicina, havia um “clima especial” na Santa Casa. Com a evolução do projeto do HC, muitos não queriam “ir para o mato”, como diziam na época. O professor emociona-se ao falar do hospital.

Segundo Mantovani, o projeto do hospital contemplava as necessidades futuras. A empresa responsável pelas obras do HC – o pacote incluía projeto, construção e equipamentos – a alemã Hospitalia, tinha consultores que ouviam constantemente os docentes da FCM, sobre as necessidades do HC. “O problema é que levou quase dez anos para a construção e o que era ideal na década de 70 precisou ser readequado nos anos seguintes”, recorda Mantovani, que foi o primeiro superintendente do HC.

Consagrado pela assistência de qualidade, o HC foi inovador ao longo de sua história. Com o passar dos anos, a estrutura proposta adquiriu uma forma mais complexa. A planta do hospital, por exemplo, sofreu uma série de modificações para adequar-se às novas tecnologias e às necessidades originadas pela demanda crescente. “Todo grande hospital é capaz de ter equipamentos de primeira linha. O que realmente faz diferença são os profissionais que vão lidar com esses pacientes”, comenta o médico Rogério Antunes, aluno da primeira turma e ex-diretor associado da FCM.

Centro de excelência médica que atende 500 mil pacientes por ano, o HC da Unicamp não pára. São dez mil pessoas que circulam todos os dias em seu interior, boa parte em busca de um atendimento de saúde que compreende 44 especialidades clínicas, divididas em quase 600 sub-especialidades médicas, o que representa 95% das doenças existentes, inclusive as raras.

Para o secretário estadual da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata, o HC é um importante parceiro do Estado e um dos hospitais mais importantes do Brasil. “Motivo de orgulho para todos nós, o HC oferece aos paulistas serviços e atendimento de ponta. Mais do que equipamentos, o diferencial do HC são as pessoas que, além de exercerem uma medicina de qualidade, oferecem conforto e afetividade aos pacientes”, enfatiza o secretário.

Nestes 20 anos, como conseqüência lógica da dedicação profissional, diversas equipes do HC desenvolveram grande experiência em inúmeros tratamentos clínicos e cirúrgicos de alta complexidade. “Nossos especialistas incorporam, no cotidiano, mais experiência nos procedimentos, como por exemplo transplantes renais pediátricos, em crianças a partir de dois anos”, completa o cirurgião. A partir do HC, outros unidades hospitalares foram surgindo para dar conta do crescimento da demanda. Na esteira surgiram as obras do Hemocentro, Caism, Gastrocentro, Ciped e Cipoi, unidades que passaram a integrar o complexo nos anos seguintes.

O serviços do HC são hoje referência, entre eles os implantes cocleares para crianças e adultos. A marca já supera 110 pacientes de quase todos os Estados em quatro anos de atividades. “Fomos um dos primeiros no Brasil a implantar esse procedimento, e hoje estamos treinando outras universidades”, ressalta o coordenador do programa na Unicamp, professor Paulo Porto. Na área de oncologia, o HC foi o terceiro hospital do Estado em atendimentos de casos de câncer, com 6.111 casos. As neurocirurgias e cirurgias de redução de estômago já integram a rotina do hospital.

Esse universo de profissionais faz a diferença. A combinação de agilidade com experiência no primeiro atendimento faz com que muitos pacientes com plano de saúde prefiram, em casos de emergência, o atendimento do HC. “Não existe diferença entre pobres e ricos dentro do hospital. A UER é um exemplo. Mesmo apinhada de gente, é a porta de entrada mais segura na região para um paciente com uma doença grave ou em risco de morte”, enfatiza o coordenador da UER, professor Paulo Madureira.

Para a enfermeira Silvia Angélica, desde 1981 trabalhando no hospital, a maior diferença entre a Santa Casa e o HC foi nas relações pessoais. “Na Santa Casa as pessoas se conheciam e conviviam mais”, diz. Sílvia, que foi aluna de enfermagem da FCM e conseguiu seu primeiro emprego na Unicamp, conta que o que leva um paciente a a escolher o HC é a reputação pelos serviços médicos. “Acompanhei a evolução desse hospital e sinto orgulho em constatar o seu crescimento. Fomos um divisor em saúde pública na região”, avalia.

Guiomar Terezinha C. Aranha também começou em 1982 na Santa Casa, onde coletava à mão os dados dos pacientes, e até hoje é responsável pelos indicadores do hospital. “Assim que cheguei no HC, precisei montar um manual de censo hospitalar. Era um universo novo a ser conquistado”, comenta, com orgulho. O primeiro computador chegou em suas mãos nos anos 90.

De acordo com o professor Luís Roberto Lopes, o que existe dentro do HC é uma grande troca de conhecimento entre os especialistas de cada área. “A discussão de casos pelos departamentos rende muitos frutos; alavanca estudos e permite traçar novas estratégias na ciência médica”, observa Lopes. “Acreditar no futuro e conjugar ações fazem parte de nossa missão”, conclui.

À frente do hospital há 40 dias, o professor Zeferino assegura que ajustes administrativos garantirão um futuro com pouca turbulência. “A administração do complexo HC exige ações que equilibrem receita e despesa. Estamos fazendo isso a fim de fortalecer a vocação do hospital no que diz respeito ao patrimônio que ele representa”, comenta o superintendente. Para Zeferino, medidas internas como a adoção integral do pregão eletrônico de compras e credenciamento de leitos de UTI espalhados pelas enfermarias, entre outras, são decisões que se mostraram acertadas.

Para Luiz Carlos Zeferino, a história do HC demonstra que ensino e saúde públicos podem ser o diferencial de uma comunidade, de uma região e de um País. “Estar entre as faculdades brasileiras de medicina mais admiradas é um indicador evidente de que a missão vem sendo cumprida. No Hospital das Clínicas, os alunos vivenciam a realidade da saúde brasileira”, finaliza Zeferino.

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