Em seu estudo, a fisioterapeuta procurou avaliar o índice geral de ausência no trabalho, os sintomas osteomusculares e a qualidade de vida dos trabalhadores. Para tanto, ela tomou para análise um grupo formado por 76 funcionários da área operacional da empresa, todos do sexo masculino, com idade média de 35 anos. Inicialmente, a pesquisadora aplicou três questionários, sendo um para coletar dados gerais e ocupacionais, outro para obter informações sobre a qualidade de vida dessas pessoas (SF-36) e um sobre sintomas músculo-esqueléticos (Questionário Nórdico). Assim, Symone apurou, entre outros aspectos, que 77,6% do universo pesquisado não praticava qualquer atividade física e que o maior índice de absenteísmo (48%) nos três meses anteriores à pesquisa havia sido causado justamente por conta de problemas osteomusculares. A área do corpo mais acometida, nesse caso, foi a coluna lombar (19,7% dos casos).
Um dado que chamou a atenção da pesquisadora foi o que constatou que trabalhadores de faixas etárias entre 30 a 39 e 40 a 49 anos apresentaram índices menores de desenvolvimento de distúrbios músculo-esqueléticos, em qualquer região corporal. Esse dado, segundo Symone, gera controvérsias na literatura. “Duas hipóteses podem explicar essa divergência entre idade avançada e distúrbios osteomusculares. Primeiro, o viés de sobrevivência, típico de pesquisas transversais. Segundo, o fato de a perda da capacidade de trabalho estar associada à função e não à idade”. Symone constatou, ainda, que o tempo na atividade é um fator importante na determinação do surgimento de problemas osteomusculares. Segundo ela, as pessoas com mais de 36 meses de trabalho têm quatro vezes mais chances de apresentar distúrbios dessa ordem.
Diante dessas e de outras constatações, Symone apresentou uma série de sugestões à empresa, que as adotou prontamente. Inicialmente, a pesquisadora fez diversas palestras educativas para os trabalhadores, sendo uma delas para a alta gerência da empresa. Nelas, a especialista explicou o que é ergonomia e abordou a necessidade da mudança de hábitos e posturas corporais. Também foi constituído um Comitê de Ergonomia dentro da indústria, para avaliar rotineiramente as condições de trabalho e, na medida do necessário, promover intervenções que ajudem a superar os problemas. Além disso, foi desenvolvido um dispositivo específico para o corte de sacarias, que trouxe melhorias ergonômicas para os trabalhadores. “O que nós fizemos foi criar uma faca que dispensasse o operador de realizar um movimento repetitivo de flexão do punho”, explica a fisioterapeuta.
Por fim, também por recomendação da autora da dissertação, um entornador de tambores sofreu adaptação para facilitar o seu uso no dia-a-dia pelos trabalhadores. “Todas essas intervenções só foram possíveis em razão da participação direta dos funcionários e da direção da empresa. De maneira geral, os trabalhadores se dizem muito mais satisfeitos após essas mudanças”, afirma Symone, que foi orientada pela professora Neusa Maria Costa Alexandre, do Departamento de Enfermagem da FCM.
Gesterg Além da dissertação, outra frente do trabalho de Symone foi a criação, há dois anos, do Grupo de Estudos de Ergonomia (Gesterg), que funciona junto à Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM). A iniciativa foi apoiada pelo diretor da FEM, professor Kamal Abdel Radi Ismail. O objetivo do Gesterg é desenvolver pesquisas que mantenham relação com as reais necessidades do setor produtivo. Atualmente, o grupo é composto por pesquisadores de diversas áreas do conhecimento e por representantes das empresas. Os membros se reúnem uma vez por mês, nas dependências da FEM. “A nossa missão é mobilizar profissionais de diversos segmentos na tarefa de difundir os conhecimentos em ergonomia e qualidade de vida no trabalho, por meio de reuniões técnicas ou eventos científicos”, explica a fisioterapeuta, que responde pela vice-presidência do Gesterg.