| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 374 - 1 a 7 de outubro de 2007
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Samir Yazbek
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Dramaturgo e diretor teatral detalha as atividades
de artista-residente que desenvolverá na Unicamp

Samir Yazbek e a
dramaturgia em construção

MARIA ALICE DA CRUZ

O dramaturgo Samir Yazbek, que ficará na Unicamp até 12 de dezembro: "Sempre achei importante o elo entre o trabalho do artista e a universidade" (Foto: Luis Paulo Silva)A primeira atividade do projeto do dramaturgo e diretor Samir Yazbek para o Programa Artista-Residente da Unicamp em teatro foi a realização da mesa-redonda “Discursos: Literário, Dramatúrgico e Cênico”, realizada no último dia 26, no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). Um debate entre Yazbek, o ator Mário Santana e o professor e escritor Alcir Pécora, diretor do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), foi, na opinião do artista-residente, uma forma de iniciar seu projeto mostrando a importância do elo – e das diferenças – entre o texto literário e de teatro.
“É fundamental discutir isso, inclusive para o aprimoramento de uma idéia de uma dramaturgia sólida, constituída. É absolutamente necessário tentar entender os pontos em comum que existem entre literatura e dramaturgia e as distinções que existem entre essas duas formas de expressão que usam a palavra e a escrita”, afirmou o dramaturgo poucas horas antes do debate. O encontro foi seguido de oficina sobre o mesmo tema.
Até 12 de dezembro, o dramaturgo ministrará, às quartas-feiras, sempre das 19 às 22 horas, no IEL, a oficina “Dramaturgia em Movimento”, para a qual selecionará 25 alunos de graduação e de pós-graduação da Unicamp, além de integrantes de grupos de teatro de Campinas e da comunidade em geral. A primeira, ocorrida no dia 26, foi aberta.
O projeto elaborado por Yazbek está centrado em três vertentes de trabalho: uma pedagógica, com a realização da oficina “Dramaturgia em Movimento” de setembro a dezembro; outra de pesquisa, com três fóruns de discussão durante o mês de novembro; e a terceira, de criação, que prevê a partilha do processo de escritura de uma nova peça do autor.

Ensino, criação e pesquisa são o foco

Jornal da Unicamp – Qual sua expectativa em relação à residência na Unicamp?

Samir Yazbek – Recebi este convite com alegria e muita honra. Sempre tive muita admiração e respeito pela Unicamp, por seu trabalho em várias frentes, em várias áreas. Eu, por exemplo, já tive alguma relação com ensino superior – fui professor universitário, mas de maneira episódica. Não pude me enfronhar muito na universidade porque trabalho como artista, como dramaturgo e como diretor, e isso me ocupou muito ao longo dos anos. Mas sempre achei importante o elo entre o trabalho do artista e a universidade – trata-se de uma somatória de forças que faz com que o trabalho do artista, através da reflexão que a academia pode proporcionar, chegue ao público, à comunidade e à sociedade de forma mais vigorosa.

Essa experiência pode representar um avanço de um tipo de parceria entre academia, artista e universidade, visando ao bem comum da comunidade. Parece ser o principal ponto de valorização de um projeto como esse que a Unicamp empreende.

No meu entender, um trabalho único, importante, que valoriza o trabalho do artista e enaltece a criação no sentido de resgatar a sua importância perante a sociedade. No caso particular do teatro e mais especificamente na dramaturgia, trata-se de uma oportunidade única. Nem sempre você tem uma visibilidade diante da comunidade do trabalho artístico do teatro, menos ainda de uma dramaturgia brasileira, contemporânea e autoral.

JU – Quais serão as diretrizes do trabalho que você vai desenvolver na Universidade?

Yazbek – Existem três vertentes. A da pesquisa, a pedagógica e a de criação. Estão absolutamente entrelaçadas na minha prática e na minha reflexão. Fico muito feliz que um projeto como esse possa ser dinamizado. Ele, por si, já tem uma estrutura dinâmica de inter-relação entre diferentes áreas do conhecimento. À medida que a Unicamp abraça um projeto desses, ela também ajuda o fomento dessa inter-relação das áreas. Todas elas relacionadas, apontando para todo o desenvolvimento da dramaturgia brasileira.

JU – Você pensou no projeto no momento do convite ou ele já estava em desenvolvimento?

Yazbek – Ele já vem sendo realizado de forma natural e espontânea. Parcialmente, já vem sendo gestado. O grande diferencial é que permite lançar uma luz mais completa sobre meu trabalho. Um trabalho ainda em construção, apontando caminhos, buscando novas alternativas para a produção dramatúrgica. A vertente de criação é especial porque é o incentivo que a Unicamp dará para que eu crie um texto novo. Isso é especial para um autor, um dramaturgo. Você tem, por outro lado, as vertentes de pesquisa. Algumas unidades, por exemplo, vão se debruçar sobre três das peças mais importantes que escrevi nos últimos anos. São peças premiadas, que fizeram carreiras sólidas dentro e fora do Brasil e que estarão à disposição de alunos de letras, história e educação. Tenho me aprofundado na reflexão de um processo de construção do pensamento dramatúrgico em cima de oficinas realizadas pelo Brasil. Isso fez com que eu amadurecesse um método, uma forma de trabalhar a questão da dramaturgia, sempre buscando incentivar a criação autoral, encarando o dramaturgo como um artista criador e não apenas como um escriba.

JU – A mesa de abertura reuniu um dramaturgo, um ator e um professor da área de literatura. Como você vê a aproximação entre a literatura e o teatro?

Yazbek – É fundamental discutir isso, inclusive para o aprimoramento de uma idéia de uma dramaturgia sólida, constituída. É absolutamente necessário tentar entender os pontos em comum que existem entre literatura e dramaturgia e as distinções que existem entre essas duas formas de expressão que usam a palavra e a escrita. É sempre uma conversa esclarecedora.

JU – Que avaliação você faz do presente e do futuro da dramaturgia?

Yazbek – Em função das atividades que a gente tenta desenvolver, não é? Porque a palavra tem sofrido um abalo no mundo inteiro por conta do tipo de sociedade de consumo que a gente tem experimentado até a medula. Trata-se de um mundo absolutamente imagético, caótico – o sentido das coisas e das palavras tem sido muito ofuscado.

Tenho impressão que a sobrevivência, a evolução e o desenvolvimento da dramaturgia está na dependência de uma tentativa de entender que mundo é esse em que vivemos. Até porque uma dramaturgia que se pretende contemporânea só pode sê-la na medida em que consegue compreender o mundo em que vivemos.

E, de certa forma, a maior dificuldade no estado atual que atravessamos é o resgate da importância da palavra, que se faz absolutamente urgente. Nós mal falamos, não ouvimos. Há uma crise na comunicação oral que tem uma repercussão imediata nas artes cênicas, via dramaturgia. Isso faz quase com que a palavra seja extinta do panorama das artes cênicas.

A questão da sobrevivência da dramaturgia, pelo menos da que utiliza a palavra, é específica da razão e da natureza humanas. O resgate disso é uma forma de tentar reposicionar o papel do homem nesse mundo caótico em que vivemos.

Formação foi consolidada no CPT

Samir Yazbek é dramaturgo e diretor teatral. Consolidou sua formação com o diretor Antunes Filho, no Centro de Pesquisa Teatral (CPT) do Sesc-São Paulo. Escreveu, entre outras peças: O Fingidor (Prêmio Shell/1999); A Terra Prometida (entre os dez melhores espetáculos de 2002, segundo o jornal O Globo); O Regulamento; A Máscara do Imperador; A Entrevista e O Invisível. É organizador de Uma Cena Brasileira, da Editora Hucitec, coletânea de depoimentos de alguns dos mais importantes atores e atrizes brasileiros, tais como Eva Wilma, Laura Cardoso, Paulo Autran e Raul Cortez.

Também é autor de O Teatro de Samir Yazbek, lançado pela Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, com a edição de suas peças O Fingidor, A Terra Prometida e A Entrevista. Escreve artigos para jornais e revistas de circulação nacional. Ministra oficinas de dramaturgia em instituições como Sesc e outras. Prepara a montagem de seu texto Diálogo das Sombras, com a Cia. Teatral Arnesto nos Convidou. Recentemente foi ao ar pela TV Cultura o teleteatro Vestígios, que escreveu e dirigiu.

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