A tecnologia, batizada com o nome de “Sistema para investigação diagnóstica de distúrbios metabólicos através da assinatura térmica”, foi desenvolvida a partir da tese de doutoramento do médico Nélson Afonso Lutaif, apresentada na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Orientado pelo professor José Antonio Rocha Gontijo, atual diretor da FCM, Lutaif investigava no seu trabalho de pós-graduação que influências os distúrbios metabólicos causavam na temperatura do corpo humano.
O pesquisador explica que as células saudáveis produzem uma determinada quantidade de calor. Entretanto, quando estão doentes, elas tendem a emitir menos energia. Ocorre que, nessas condições, o organismo lança mão de alguns recursos para compensar tal perda. “Ou seja, quando existe um distúrbio ou alguma enfermidade, a termogênese do animal ou do ser humano altera-se. Dito de outro modo, se o corpo passa a produzir calor numa velocidade acima da normal, isso é indício de que algo não vai bem”, esclarece Lutaif.
Nos experimentos realizados com animais em laboratório, o médico constatou que de fato a termogênese apresentava mudanças, identificadas através de uma sonda colocada no intestino grosso. O próximo passo da pesquisa, conforme o seu autor, foi aprimorar o procedimento, de modo que ele se tornasse ainda mais preciso e pudesse ser aplicável por meio não-invasivo, numa segunda fase, aos seres humanos. O primeiro problema a ser superado, segundo Lutaif, foi determinar que órgão serviria às medições. No corpo humano, ressalta o médico, a temperatura mais estável encontra-se no sistema nervoso central. Este, porém, é selado pela caixa craniana.
A solução, imaginou o pesquisador, seria obter a informação desejada por meio da retina, membrana externa à caixa craniana, mas que está ligada ao sistema nervoso central. Assim, Lutaif concebeu, com a ajuda do orientador e do também médico Eduardo Melani Rocha, o protótipo do sistema de diagnóstico por assinatura térmica. A tecnologia é constituída por dispositivos acoplados a uma câmara capaz de registrar ondas próximas ao infravermelho.
“Nossa expectativa é que o sistema seja capaz de medir as curvas térmicas normais, que servirão de padrão para posteriores comparações. Os testes serão iniciados nos próximos dias, também em animais. Se conseguirmos detectar variações pequenas, da ordem de décimos de graus Celsius, isso será um grande passo para identificarmos precocemente doenças de origem metabólicas em seres humanos”, afirma.
Lutaif chama a atenção para a possibilidade de o sistema constatar, inclusive, a tendência de uma pessoa vir a desenvolver um determinado tipo de enfermidade. “Isso é exeqüível, pois antes de a doença se instalar definitivamente, o organismo passa por algumas alterações e emite sinais nesse sentido. A temperatura corpórea é uma delas. Dessa forma, se pudermos registrar essas variações precocemente, também será possível adotar procedimentos preventivos, de modo a evitar que a doença se manifeste”, prevê.
Atualmente, o diagnóstico dessas enfermidades é feito por meio de exames laboratoriais, como os de sangue e urina. Acontece, porém, que o resultado é freqüentemente obtido quando a pessoa já está doente e, não raro, quando seus órgãos já apresentam algum grau de comprometimento. Na opinião de Lutaif, a passagem do experimento em animais para humanos não deverá ser complicada. “Como o exame não é invasivo, nós não teremos problemas com a questão ética. Penso que precisamos apenas melhorar a imagem, para tornar o sistema mais confiável, e aprimorar o equipamento, de modo que ele registre variações mínimas de temperatura. Feito isso, o sistema poderá ser mais um produto para auxiliar a classe médica no diagnóstico de doenças”, acredita. O sistema contou ainda com a colaboração do professor Carlos Lenz César, do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW), e o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).