Pesquisa realizada com 513 mulheres que deram à luz nos municípios paulistas de Sumaré e Hortolândia, na Região Metropolitana de Campinas (RMC), apontou que 49% das crianças apresentaram deficiência de ferro nos primeiros 180 dias de vida. Um dos principais fatores relacionados ao desenvolvimento da anemia, denominada ferropriva, seria o consumo dos mesmos alimentos ingeridos pelos adultos. A pesquisa mostrou que 87 crianças consumiam a mesma comida que a família, sendo que, deste número, 57 tinham anemia, ou seja, 65,5% dos bebês. A média de idade encontrada para introdução da comida dos adultos para as crianças foi de quatro meses.
Segundo o estudo, apenas 6% das mulheres mantinham a exclusividade no aleitamento materno. “São dados preocupantes”, alerta a nutricionista Fabíola F. Nejar, que defendeu tese de doutorado sobre o tema na Faculdade de Ciências Médicas (FCM). A pesquisa foi orientada pela professora Ana Maria Segall-Corrêa.
Fabíola esclarece que os bebês, nos primeiros meses de vida, precisam de porcentagens de ferro seis vezes maiores do que as de um adulto. Enquanto uma pessoa na fase adulta precisa de 18 microgramas de ferro diariamente, o bebê necessita de 120. Neste sentido, o leite materno fornece ferro de boa biodisponibilidade.
Por isso, o consumo da mesma comida da família pode ocasionar a deficiência de nutrientes essenciais para o bom desenvolvimento da criança. A nutricionista alerta que o aleitamento materno é fundamental neste processo, constituindo-se num cuidado extremamente necessário. “Não mamar exclusivamente no peito aumenta em três vezes o risco de desenvolver a anemia”, revela. Pelo estudo, outros alimentos são introduzidos, em média, a partir de 61 dias de vida. “O chá, por exemplo, foi o primeiro alimento da lista de introdução precoce”, revela. Em segundo lugar, as mulheres referiram outro tipo de leite que foi introduzido, em média, aos três meses de idade. Marca bastante semelhante à da água que dão ao bebê com 91 dias, em média.
Outro procedimento bastante simples que poderia evitar a prevalência alta da anemia observada nos primeiros meses de vida seria o tempo adequado para o clampeamento do cordão umbilical. Trata-se de uma técnica extremamente simples no momento do parto. “A recomendação é esperar de um a dois minutos para que o sangue transfunda da placenta para o bebê. Com isso, o cordão pára de pulsar é só colocar a presilha e efetuar o corte”, explica.
Neste pequeno espaço de tempo, a criança já receberia uma boa porção de sangue e, conseqüentemente, armazenaria uma quantidade significativa de ferro. “É uma intervenção de baixo custo e que traz grandes benefícios para os bebês”, acredita Fabíola. Em todos os casos estudados, a nutricionista observou um tempo muito pequeno de espera para o clampeamento média de 18 segundos. Este aspecto pode levar a uma baixa reserva de ferro para muitos dos bebês.
O estudo contemplou, além da coleta de sangue nas mães e bebês logo após o parto, entrevistas e exame de hemoglobina nas crianças com 180 dias de vida. Também foi realizado um acompanhamento com 30, 60, 90 e 120 dias para informações sobre a alimentação. Quando diagnosticada alguma alteração nos exames das mães ou bebês, as responsáveis foram orientadas a buscar auxílio especializado.