Pesquisa de doutorado realizada na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) aponta para uma relação entre cânceres hematológicos e a utilização de agrotóxicos, na região Sul de Minas Gerais. Trata-se de um dos poucos estudos feitos no Brasil sobre o assunto. “Em geral, a bibliografia foca em pesquisas realizadas em outros países. No Brasil, a abordagem sobre o câncer é ligada, principalmente, à mortalidade” revela a médica sanitarista Jandira Maciel da Silva, que obteve o título de doutora em Saúde Coletiva, sob a orientação do professor Heleno Rodrigues Corrêa Filho.
Segundo a médica sanitarista, sua principal motivação para desenvolver o estudo seria a preocupação dos trabalhadores rurais com relação à exposição aos agrotóxicos. Nas regiões estudadas, a cafeicultura e a bataticultura, entre outras, utilizam as mais diversas substâncias para combater pragas e doenças.
Para o estudo, Jandira aplicou questionário em uma população de 149 portadores dos três tipos de câncer hematológico: leucemias, linfomas e mieloma múltiplo. “Recorri às informações contidas na autorização de procedimentos de alta complexidade oncológica da região para identificar os casos e prontuários médicos que confirmavam os diagnósticos”, explica. Também aplicou as mesmas questões para um grupo não-portador de cânceres hematológicos, composto por 161 moradores da região e usuários dos serviços médicos e ambulatoriais locais.
As perguntas envolviam, basicamente, características do estilo de vida, atividades ocupacionais realizadas até o momento do diagnóstico e hábitos de tabagismo e álcool. “A relação mais forte encontrada nas comparações dos dados foi referente à exposição a agrotóxicos, tanto no preparo como na aplicação destes produtos”. Foi observada também correlação, de menor intensidade, na manipulação de solventes orgânicos.
Jandira explica que há contradições na literatura científica com relação a apontar o uso de agrotóxico como fator de risco ocupacional para cânceres hematológicos, o que contribui para que este tipo de estudo seja alvo de muitas polêmicas. Por isso, a médica defende a necessidade de mais estudos e pesquisas que avaliem os impactos causados pela exposição ocupacional aos agrotóxicos sobre a saúde humana de modo geral e em relação aos cânceres, de forma particular.