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Tecnologia mais precisa e barata do que a convencional
foi desenvolvida por pesquisadores do IQ

Dispositivo permite monitoramento
de liberação controlada de fármaco

MANUEL ALVES FILHO

O químico André Romero da Silva (à esquerda), autor da tese, e o professor Renato Atilio Jorge, seu orientador: novas perspectivas para o controle de qualidade (Foto:Antonio Scarpinetti)A substituição dos fármacos livres pelos de liberação controlada é uma tendência cada vez mais forte na medicina. Estes últimos, quase sempre mais eficazes, possibilitam a redução da quantidade da droga aplicada, o que traz benefícios adicionais ao organismo humano, como a diminuição de efeitos adversos. Tecnologia desenvolvida por pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da Unicamp abre novas perspectivas para o controle de qualidade desses produtos. Um dispositivo acoplado a um equipamento denominado espectrofotômetro permite monitorar a velocidade e o perfil da liberação de fármacos encapsulados em micros e nanopartículas. Confrontado com os modelos convencionais, o novo método é mais simples, preciso, rápido e barato.

Invenção foi concebida a
partir de tese
de doutorado

A invenção, cujo pedido de patente foi protocolado em julho deste ano pela Unicamp, nasceu da tese de doutoramento do químico André Romero da Silva, sob a orientação do professor Renato Atilio Jorge. Desde o início, o desafio dos pesquisadores foi desenvolver um método alternativo que permitisse monitorar a liberação de produtos encapsulados em sistemas carreadores. A análise convencional, explicam os pesquisadores, é feita em geral com o auxílio de cromatógrafo e exige a prévia separação entre os meios líquido e sólido, a fim de permitir a quantificação do composto liberado na fase líquida.

“A metodologia convencional requer etapas de separação das fases líquida e sólida, mais a fase da análise cromatográfica, o que demanda mais tempo se comparado à nova tecnologia. Além disso, os métodos usados na separação da fase líquida (filtração, centrifugação, por exemplo) podem causar distorções nos períodos iniciais de liberação, levando freqüentemente a uma estimativa inexata do perfil de liberação”, esclarece André. 

Para resolver esse problema, os cientistas do IQ utilizaram um acessório de reflectância difusa acoplado ao espectrofotômetro. “Com essa solução nós conseguimos fazer o monitoramento sem a prévia separação das fases líquida e sólida, o que gera menos resíduo, e eliminar a interferência da radiação das micro e nanopartículas sobre o espectro do produto liberado. Além disso, foi possível obter um maior número de pontos [dados], o que permite um controle mais abrangente do perfil da liberação”, acrescenta o professor Renato.

Ao contrário do tempo normalmente empregado nas metodologias convencionais, cada análise feita por meio do novo método demora apenas cinco minutos. Nos ensaios laboratoriais, os pesquisadores da Unicamp monitoraram a liberação controlada de uma substância denominada In(III)-meso-tetrafenilporfirina, encapsulada em micro e nanoesferas do copolímero de ácido lático e glicólico (PLGA).

Fármacos como a verteporfina, hematoporfirina, m-tetrahidroxifenilclorina e o ácido aminolevulínico, destaca André, têm sido aplicados na terapia fotodinâmica, alternativa considerada menos nociva para o tratamento de alguns tipos de câncer, bem como de outras doenças causadas por vírus, bactérias ou fungos.

Dito de outro modo, os especialistas lançam mão de reações fotoquímicas para destruir o tecido afetado pela doença, preservando a área ao redor. A função da substância (fotossensibilizador) é captar a energia proveniente da radiação luminosa e transferi-la às moléculas de oxigênio molecular, gerando espécies reativas que danificam o tecido doente. A terapia vem sendo utilizada com sucesso no tratamento de carcinoma basocelular (câncer de pele mais freqüente), degeneração macular (doença que causa a perda da visão), papiloma vírus e em procedimentos odontológicos. “Por isso é importante ter um controle efetivo em torno da liberação controlada desses compostos. O processo não pode ser nem muito rápido nem muito lento, visto que a velocidade tem um papel relevante dentro da terapêutica”, afirma o professor Renato.

 Segundo os especialistas do IQ, o sistema de monitoramento foi desenvolvido usando-se a In(III)-meso-tetrafenilporfirina, mas pode ser aplicado a quaisquer substâncias que absorvam na região do espectro eletromagnético entre 200 a 800 nanômetros. “Incluem-se nessa lista desde compostos farmacêuticos até cosméticos, entre outros”, assegura André.

O professor Renato considera que a transferência da tecnologia para o setor produtivo, caso este venha a se interessar, não será complexa, dado que envolve apenas uma adaptação de um método já conhecido. Os contatos com a indústria estão sendo mantidos pela Agência de Inovação da Unicamp (Inova Unicamp). “Pelo que estamos sabendo, pelo menos uma empresa já manifestou o desejo de conhecer melhor o invento”, adianta André. 

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