No grupo pesquisado do gênero feminino, por exemplo, a orientação sexual é tratada de forma mais reservada, não havendo a necessidade de declarar abertamente a orientação. “Essas mulheres acreditam que se trata, apenas, de uma faceta a mais da identidade. Ademais, possuem relacionamentos mais estáveis com suas parceiras”, afirma a psicóloga. Já os homens que foram objeto de estudo estão dispostos a viver as relações afetivas de modo mais transparente no meio social ao qual pertencem.
Segundo Daniela, uma das justificativas para tais diferenças seria a própria herança cultural que carrega cada gênero. Para a psicóloga, em última análise, a sexualidade feminina foi marcada, historicamente, pela privacidade. Já a sexualidade masculina, prossegue a pesquisadora, sempre carregou um caráter de visibilidade.
O estudo contemplou pesquisa de campo, por meio de entrevistas individuais, visitas a boates e festas privadas, além da participação em manifestações de movimentos sociais. A pesquisa foi comparativa e, para isso, a psicóloga entrevistou 60 indivíduos homossexuais e 60 heterossexuais, pareados a partir da faixa etária, gênero e escolaridade.
O método escolhido para o recrutamento dos sujeitos foi o chamado “bola de neve”, ou seja, um indivíduo indicava outro para ser entrevistado, o que atribuiu maior confiabilidade e credibilidade aos dados.
Outro aspecto nos resultados que chamou a atenção da pesquisadora foi a similaridade entre os índices de qualidade de vida dos dois grupos os indivíduos estudados estão inseridos socialmente e não isolados em grupos fechados, como se imagina. “Com isso, é importante uma reflexão mais profunda sobre as construções e preconceitos presentes no imaginário social”, acredita Daniela, referindo-se aos estereótipos que reforçam uma outra realidade.
Uma questão a ser considerada refere-se às características do grupo. Os voluntários têm, em média, 30 anos, possuem nível de escolaridade superior e todos pertencem à classe média. Por isso, segundo Daniela, as conclusões podem ter referência, apenas, a partir do perfil selecionado.
O estudo constatou ainda maior prevalência de transtornos mentais no grupo de orientação homossexual em comparação com o grupo de heterossexuais, com destaque para o transtorno depressivo e risco de suicídio. Estes resultados confirmam pesquisas recentes realizadas na Inglaterra e Estados Unidos, que sugerem o impacto do preconceito e da discriminação sobre a saúde mental.
O trabalho realizado por Daniela inaugura uma linha de pesquisa no Laboratório de Saúde Mental e Cultura do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria. Os estudos deverão investigar a homossexualidade também na terceira idade e na adolescência.