Nem mesmo livros didáticos de Geografia elaborados por pesquisadores em cartografia escapam de erros e incorreções quando tratam de mapas ou outros tipos de ilustrações. “Faltam informações e elementos que permitam leituras além do que consta nas legendas. As letras são pequenas e as legendas são feitas sem nenhum critério” aponta a geógrafa Gabriela Regina Caldeira Pereira Lima.
Outro exemplo mencionado pela pesquisadora é o caso de dois mapas que solicitam correlação de aspectos do clima com a vegetação. Em momento algum, afirma Gabriela, é ensinado o que é correlação.
Além desses aspectos, Gabriela observa que os mapas não são feitos para o público adolescente. O material é retirado de publicações especializadas ou destinadas a adultos. “É preciso ter maior cuidado na preparação do material, assim como na avaliação da melhor forma de se representar as informações escritas, relacionando os diversos elementos gráficos”, avalia.
Para Gabriela, da mesma forma que as crianças são alfabetizadas para a leitura de textos escritos, também deveria ser estimulada a leitura dos mapas desde as séries iniciais. “Não há essa preocupação. Os mapas são tratados apenas como ilustração de texto e não como elemento integrante da própria compreensão”, afirma.
O orientador da pesquisa de mestrado, o professor Carlos Alberto Lobão Cunha, destaca que é grande o investimento do governo federal para aquisição de material didático para alunos e professores da rede pública de ensino. De 1995 a 2005, por exemplo, o gasto de recursos foi de aproximadamente R$ 4 bilhões, sendo que foram adquiridos um bilhão de livros para as mais variadas disciplinas.
“São quase 31 milhões de alunos beneficiados anualmente, o que equivale a uma população como a da Argentina. É importante ter em conta esses valores e exigir das autoridades um olhar mais atento”, explicita.
A responsabilidade de avaliação do material didático é do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). O problema, no entanto, consiste na falta de recomendações especiais para a aprendizagem com os mapas. “Eles são incluídos na categoria como ilustrações ou elementos de descanso quando há textos longos. Trata-se de um conceito inadequado, uma vez que os mapas são documentos fundamentais para a compreensão de várias áreas do conhecimento”, esclarece Gabriela.
O estudo desenvolvido por Gabriela começou em projeto de iniciação científica, desenvolvido em 2001 e 2002, quando entrevistou alunos e professores para avaliar o grau de compreensão dos mapas e qual a percepção sobre o material oferecido. “No mestrado, selecionei para análise uma coleção do próprio ensino fundamental e, mesmo assim, persistem os erros detectados na iniciação”, concluiu.