Mudanças climáticas, poluição por metais pesados e efeitos do meio ambiente na saúde humana foram alguns dos temas que nortearam as discussões no XI Congresso Brasileiro de Geoquímica, que aconteceu entre os dias 21 e 26 de outubro, em Atibaia-SP. Pesquisadores brasileiros e de várias partes do mundo, incluindo Austrália, Japão, EUA, Suécia, Canadá, Portugal e países latino-americanos, entre outros, estiveram presentes nesse evento, que fez parte das comemorações do Ano Internacional do Planeta Terra, uma proposta aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas com o apoio de 191 países, incluindo o Brasil.
Mais do que uma oportunidade de discutir temas científicos, o congresso ganhou notoriedade por colocar em prática o objetivo do Ano Internacional: destacar a importância das Ciências da Terra na solução de problemas que preocupam a humanidade.
Ao eleger os 10 temas do Ano Internacional, a comissão organizadora do congresso esteve à frente de um grande desafio, já que, tradicionalmente, os congressos de Geoquímica elencam disciplinas mais especializadas. Afortunadamente, entretanto, a comunidade acadêmica não somente acatou a proposta, como submeteu mais de 400 trabalhos de excelente nível científico.
Isso demonstrou que pesquisadores e estudantes, das mais variadas áreas, compreendem a importância de investirem em estudos focados nas questões que despertam a atenção da população e de gestores públicos. Mais do que isso, estão conscientes da necessidade de articular os conhecimentos de diferentes áreas e trabalhar com uma visão integrada e multidisciplinar.
Na tentativa de atender aos objetivos do Ano Internacional, a comissão organizadora, em parceria com a prefeitura municipal de Atibaia, programou uma série de atividades de extensão voltadas à comunidade local. Debates sobre meio ambiente, saúde, agricultura e educação reuniram professores, estudantes e demais pessoas interessadas em discutir os problemas locais e globais.
Um planetário portátil inflável, cedido pelo MAST (Museu de Astronomia e Ciências Afins), do Rio de Janeiro, uniu divulgação científica e educação e trouxe a oportunidade para centenas de estudantes de Atibaia com idades entre 10 e 15 anos de conhecerem o Sistema Solar e entenderem a importância da água para a existência de vida no Planeta Terra.
Ainda foi exibido o documentário “Uma Verdade Inconveniente” para uma platéia formada por estudantes e pessoas da comunidade interessadas na questão ambiental. O filme serviu como um pontapé inicial para um importante debate, realizado na Câmara Municipal de Atibaia, e que contou com a participação de congressistas e de pesquisadores, inclusive de membros de duas associações internacionais: International Medical Geology Association (IMGA) e International Union of Geological Sciences (IUGS-GEM).
Na tentativa de contribuir para a educação ambiental de jovens e crianças, estimulando a mudança de comportamento para a preservação do meio ambiente, foi programado um plantio de árvores em duas áreas de Atibaia Bairro da Usina e Parque das Águas , infelizmente prejudicado pela mudança do tempo.
Diálogo entre ciência e sociedade
O XI Congresso Brasileiro de Geoquímica debateu também um assunto que preocupa a comunidade científica e divide opiniões: a falta de mobilização e de uma maior conscientização por parte dos geocientistas em divulgar, de forma simples, os resultados de suas pesquisas para que eles sejam levados em conta no processo de tomada de decisão.
A pesquisadora da Malásia Joy Jacqueline Pereira, presidente da IUGS, por exemplo, destacou que é preciso conscientizar as pessoas principalmente políticos, gestores e tomadores de decisão da importante contribuição que as Geociências podem oferecer para a solução dos problemas de gestão ambiental.
A necessidade de pesquisadores que façam a convergência entre Geociências e governança é um assunto debatido no mundo todo. Os desafios envolvidos nesta questão são muitos: ausência de conscientização política; necessidade de criar e fortalecer uma rede de atores que debata os principais problemas e as possíveis soluções existentes; a elaboração de estratégias e planos de ação em conformidade com as necessidades que se apresentam; e exercer, de fato, o poder de influenciar o processo decisório.
Neste sentido, as comemorações do Ano Internacional do Planeta Terra, como a realização do XI Congresso Brasileiro de Geoquímica, são bem-vindas. Mas devem envolver muito mais do que debates, workshops ou outras ações pontuais. É preciso que haja estratégias para gerar, de fato, mudanças focadas nos problemas ambientais e de melhoria da qualidade de vida da população. O Ano Internacional é uma excelente oportunidade para contribuir para mudanças positivas nos países.
Espera-se, assim, reduzir os riscos dos impactos causados por desastres naturais; construir edificações mais seguras, tanto para o meio ambiente como para o ser humano; inovar no conhecimento sobre os recursos naturais; criar políticas ambientais e assegurar que todas as pessoas possam ter uma vida mais digna e humana.
A Geologia Médica, tema de uma das conferências internacionais que aconteceram nesta semana do congresso, foi enriquecida com relato de experiências na Colômbia, Uruguai, Brasil, México, países europeus, Japão e nos Estados Unido, que mostraram a necessidade de comunicação das Ciências da Terra com a Medicina, Agronomia, Química, Biologia, Comunicação, entre outras áreas, para entender melhor o ambiente que nos cerca e para contribuir para as políticas ambientais.
É importante reconhecer que, para a realização desse congresso, foi fundamental contar com o generoso apoio das autoridades e instituições atibaienses, da Sociedade Brasileira de Geologia e Sociedade Brasileira de Química. É preciso registrar também o interesse demonstrado por diversos periódicos científicos e órgãos da imprensa nos resultados do evento e agradecer, sobretudo, às organizações internacionais IUGS-GEM e IMGA, às agências de financiamento Capes, CNPq e Fapesp bem como a um número considerável de empresas e organizações brasileiras.
Bernardino Ribeiro de Figueiredo é professor do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp