A primeira iniciativa conjunta prevista no âmbito do convênio é a realização, nos dias 29 e 30, do Seminário Internacional Brasil-China (confira a programação nesta página). No encontro, que reunirá acadêmicos chineses e brasileiros no auditório do Instituto de Economia (IE), será debatida a conjuntura econômica dos dois países.
“Um dos objetivos do seminário é justamente discutir o crescimento meteórico e suas contradições da economia chinesa. De uma certa forma, queiramos ou não, eles são um exemplo para o Brasil, cuja economia vem patinando nos últimos anos”, afirma o organizador do seminário, professor Daví Nardy Antunes, do IE. “Será uma excelente oportunidade para ouvirmos o que os especialistas chineses têm a dizer sobre o crescimento que vem sendo registrado desde a reforma dos anos 1970, que não por acaso é um dos temas do evento. Essas proposições nos farão entender melhor, inclusive, a nossa realidade e a nossa estagnação”.
Os indicadores falam por si. Na semana passada, por exemplo, o país asiático ultrapassou os Estados Unidos em volume de exportação, figurando agora em segundo lugar no ranking mundial e em vias de destronar a líder Alemanha. A economia da China vem crescendo a uma taxa média de 10% nas últimas duas décadas.
Especialistas apontam que o país será a maior potência mundial já na década de 40 deste século. Um dado que será apresentado no seminário, por exemplo, chamou a atenção de Antunes: na década de 60, a expectativa de vida dos chineses era de 36 anos um dos piores da Ásia e, hoje, já ultrapassou os 70. “É evidente que há problemas advindos desse fenômeno, que também serão debatidos no seminário, mas os dados do crescimento são impressionantes. A explosão da renda per capita é um deles”.
Antunes não só teve a oportunidade de constatar in loco essa pujança, como testemunhou o início das tratativas que culminaram na assinatura do acordo de cooperação. Em 2005, o docente do IE participou em Berlim de um seminário promovido no contexto do projeto Global Labour University, cujo foco era a implantação de um de mestrado internacional para a formação de líderes sindicais na Unicamp, na Índia (Instituto Tata de Ciências Sociais), na África do Sul (Universidade de Witswatersrand) e em duas universidades alemãs, a Escola de Economia de Berlim e a Universidade de Kassel.
Questões estruturais Ao longo do seminário, colegas chineses da SWUFE manifestaram interesse em estabelecer uma agenda que contemplasse análises da realidade econômica dos dois países. “Eles se interessaram, particularmente, pelo fato de o Instituto de Economia apostar em linhas de pesquisa que privilegiam as questões estruturais e históricas, sempre sob uma perspectiva comparativa. Ademais, o IE tem um histórico de sempre buscar o desenvolvimento, a exemplo do que ocorre hoje na China”.
Os economistas chineses sugeriram então que os docentes da Unicamp visitassem a SWUFE. A universidade, historicamente responsável pela formação dos principais quadros do Banco Central e do Partido Comunista chinês, fica na província de Sichuan, em Chengdu, cuja região metropolitana conta com 10 milhões de habitantes.
No final do ano passado, Antunes e os professores Márcio Percival Alves Pinto e Carlos Alonso Barbosa de Oliveira, à época respectivamente diretores do Instituto de Economia (IE) e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit/IE), permaneceram um mês no país asiático.
De lá para cá, as conversas evoluíram para a assinatura do convênio, cuja coordenação ficou a cargo da Coordenaria de Relações Institucionais e Internacionais (Cori), da Unicamp. “Se de um lado, o Instituto de Economia teve um papel importante na viabilização do convênio, de outro foi fundamental o interesse da Reitoria em implementá-lo. O reitor, por exemplo, mostrou muito interesse na criação do centro de estudos chineses”.
Antunes destaca os ganhos acadêmicos gerados por acordos desse tipo. “O intercâmbio de estudantes e docentes será muito importante. A realidade chinesa certamente gerará estudos e linhas de pesquisa”, afirma o docente, ressaltando que o convênio é extensivo a todas as unidades da Universidade. “O curso de mandarim, por exemplo, deve ser ministrado no Instituto de Estudos da Linguagem [IEL]”.
No caso específico dos estudos acerca da China, o docente acredita que a melhor maneira de conhecer a cultura e o funcionamento da sociedade é por meio dos próprios chineses. Isso possibilita, observa Antunes, que essa visão não esteja contaminada por eventuais filtros, sobretudo os midiáticos. Ademais, prossegue o docente, será franqueado o acesso a uma universidade de excelência que forma quadros para o governo e para a área de finanças. “Isso será importante não só para os alunos, mas também para os professores”.
Outro aspecto mencionado por Antunes é o fato de ter partido dos chineses a iniciativa de viabilizar o convênio. Segundo o professor do IE, os docentes da SWUFE têm muito interesse em conhecer a realidade brasileira. “A despeito de estarmos patinando, eles nos vêem ainda como um país de futuro”.
Para o reitor Tadeu Jorge, o acordo tem grande importância para a Unicamp dada a oportunidade de se estabelecer laços com um país que tem muitos pontos de identificação com o Brasil e cujo protagonismo no mundo inclusive nos planos científico, tecnológico e cultural é cada vez mais acentuado.
A instituição
A SWUFE tem cerca de 20 mil estudantes. Uma das primeiras universidades de finanças e economia na China, a instituição foi criada como Sichuan Institute of Finance and Economics em 1952, quando faculdades e departamentos de cursos de economia e finanças de 17 universidades foram reestruturados. Em 1980, o Banco Central da China assumiu a direção da escola, trocando sua denominação para SWUFE em 1985. Há seis anos, a administração da universidade foi transferida para o Ministério da Educação.
A instituição oferece 29 programas de graduação, 43 de mestrado e 28 de doutorado nas áreas de administração, economia, finanças, indústria e negócios, entre outros. Possui mais de 1.300 funcionários, entre professores, pesquisadores e pessoal das áreas administrativa e de manutenção. Nos seus 55 anos de existência, formou aproximadamente 130 mil profissionais.
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