Clubes paulistas tradicionais, como Pinheiros, Corinthians, Esperia, Monte Líbano, Palmeiras e Sírio-Libanês, que mantinham fortes equipes de basquete, foram gradativamente se afastando do cenário do esporte, dando lugar a empresas patrocinadoras que buscam a visibilidade de sua marca. O esporte ganha com a entrada de recursos para sustentar as equipes nos campeonatos, mas a prática esbarra em sérios problemas, entre os quais o de identidade.
A equipe da cidade de Suzano, para citar apenas um exemplo, teve seu nome alterado quatro vezes desde 1991, em razão da mudança de patrocinadores. Atualmente, sequer figura entre as equipes participantes do Campeonato Paulista Masculino da Divisão Especial.
Antes da década de 1980, as práticas esportivas eram consideradas símbolos de pertencimento dos clubes mais tradicionais, e os atletas eram tidos como amadores. Com a entrada das empresas, a manutenção ficou mais cara e os clubes, sem opção, acabaram saindo de cena.
“O processo de profissionalização e de mercantilização do basquetebol tornou-se, ao longo do tempo, inevitável. As equipes ficaram extremamente vulneráveis e dependentes dos patrocinadores. Se a empresa sai, a equipe acaba”, diagnostica o professor e ex-atleta Leandro de Melo Beneli, que apresentou dissertação de mestrado sobre o tema na Faculdade de Educação Física (FEF).
Beneli, orientado pelo professor Paulo Cesar Montagner, fez um estudo do panorama geral do basquetebol masculino brasileiro, passando por seu histórico e transformações, para chegar à discussão sobre a apropriação de características do esporte profissional nas categorias de base. Para ele, o mesmo processo observado nos times profissionais é evidenciado também nessas equipes de base. Hoje em dia, garotos com 14 anos de idade já ganham para treinar e participar dos campeonatos.
Estes aspectos, segundo o educador físico, remetem a uma reflexão sobre o papel do esporte, principalmente na faixa etária em questão. “Em busca de resultados, bom desempenho em campeonatos, com a finalidade de formar atletas, outros objetivos importantes do basquete são ignorados. O esporte é saúde, além de trabalhar valores como autonomia, disciplina, respeito e cooperação. Não é só desempenho em competições”, defende.
Ex-atleta do clube Francana, de Franca, o autor da pesquisa não discute se o processo de profissionalização é negativo ou positivo. A proposta de Leandro Beneli segue na direção de propor uma reestruturação da modalidade em razão das transformações ocorridas ao longo dos anos, principalmente para os atletas que estão no início da carreira e inseridos nas bases.
Medidas como a relativização das regras para os iniciantes, levando em conta o esporte voltado para os adolescentes, e a diminuição do tempo de jogo, entre outras, já poderiam caracterizar melhor o basquete voltado para as categorias de base.