A cidade de Santa Bárbara d’Oeste poderá ter um aumento das áreas inundadas nos próximos anos, caso não sejam tomadas medidas preventivas. O estudo conduzido pelo geógrafo Daniel Henrique Candido indica que, mesmo áreas que nunca sofreram as conseqüências do fenômeno, podem ser inundadas, principalmente se for mantido o elevado ritmo de expansão urbana, fato que está conduzindo a uma modificação na distribuição temporal dos eventos de precipitação, ou seja, das chuvas. “Nota-se que as chuvas têm apresentado maior concentração nos anos mais recentes. Desse modo, o risco de ocorrência de alagamentos e inundações tende a aumentar”, explica.
Segundo Candido, os mesmos elementos utilizados para compor o estudo desenvolvido no Instituto de Geociências (IG), sob orientação da professora Luci Hidalgo Nunes, podem ser projetados para outras cidades da região. Ele explica que o clima é semelhante e os municípios estão concentrados na mesma área de abrangência. “Guardadas as devidas proporções, as precipitações extremas podem ser observadas em vários pontos da região, provocando danos semelhantes”, explica.
Afora as conseqüências mais visíveis, como a perda material, Daniel Candido lembra que os impactos secundários das inundações também constituem aspectos a serem considerados. “São doenças e muitos problemas psicológicos que acompanham a população depois do evento”, argumenta. As águas poluídas podem contaminar as casas e poços artesanais. Depois de alguns meses, conta o geógrafo, é possível aparecer problemas, como doenças de pele e respiratórias, em decorrência do contato com a água contaminada.
Em Santa Bárbara d’Oeste, por exemplo, a vinhaça, resíduo do processamento de cana-de-açúcar, é utilizada como adubo nas plantações. Assim, nos períodos de chuva, pode ocorrer a proliferação de bactérias nocivas à população. Um outro exemplo é uma lagoa de chorume, situada há menos de cem metros da nascente de um córrego que migra para o Rio Piracicaba.
Daniel Candido usou notícias veiculadas na mídia impressa da cidade para mapear 15 eventos ocorridos no período de 1970 a 2000. O estudo de caso levou em conta diversos fatores observados no município, como a rápida urbanização. “A população se agrupou justamente nas áreas inundáveis. Por isso, na década de 1980, o número de eventos cresceu consideravelmente”, destaca.
Uma inundação ocorrida em fevereiro de 1970, na área próxima ao Ribeirão dos Toledos, não teve danos muito graves e, no entanto, outro evento, desta vez em 1982, contemplou uma área espacial relativamente menor, mas com prejuízos mais sérios. Isto porque a área já abrigava boa parte da população. “O local deveria ter sido mantido com vegetação ou área pública e não autorizada a instalação de residências”, acredita.
Candido alerta ainda para um local que está sendo urbanizado, próximo às instalações da Câmara Municipal. Em seu entorno, está sendo erguido um condomínio de classe média, o que significa que outros empreendimentos podem se estabelecer no local. O problema, no entanto, seria o declive elevado, sendo que nas proximidades existe uma área naturalmente suscetível às inundações. “Se não forem consideradas algumas medidas que impeçam a ocupação desordenada e a conseqüente impermeabilização do solo, num futuro próximo as conseqüências poderão ser danosas”, alerta.