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Jornal da Unicamp - Setembro de 2000
Página 3
SERVIÇOS
Garantindo
a merenda e o livro didático
MEC
reformula programas educacionais baseado em pesquisa do
Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da Unicamp
Maria Alice da Cruz
Buscando
sanar velhos problemas do sistema educacional brasileiro,
e com base
nos resultados de uma pesquisa realizada pelo Núcleo de
Estudos de Políticas
Públicas (Nepp) da Unicamp, o Ministério da Educação
está reformulando três
programas nacionais financiados pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento da
Educação (FNDE). Aos pesquisadores foi confiada a
responsabilidade de
investigar a eficiência na utilização dos recursos
desembolsados para o Programa
Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), Programa
Nacional do Livro Didático
(PNLD) e, o mais inovador deles, Programa de Dinheiro
Direto na Escola (PDDE).
Realizada pela terceira vez desde 1996, a pesquisa teve
como primeiro objetivo
levar ao ministério informações sobre a forma como os
recursos eram repassados
e gastos em todos os estados. "A segunda
responsabilidade era oferecer ao MEC
uma avaliação externa não apenas do repasse, mas dos
gastos diferenciados no
País", explica Pedro Luiz Barros Silva, coordenador
do Nepp.
A equipe verificou de maneira sistemática quais eram, no
ano passado, os fatores
institucionais que influíram positiva e negativamente na
implantação dos
programas, apresentando soluções para minimizar ou
extinguir os problemas
detectados. As adequações propostas na pesquisa já
estão refletidas em recentes
iniciativas do governo. No dia 18 de agosto, o MEC
transferiu a responsabilidade
do controle sobre a merenda para a sociedade. As escolas
devem apresentar a
composição de seus "conselhos de
alimentação" até 30 de setembro.
Uma análise comparativa feita pelo Nepp comprova que,
desde 95, o governo vem
cumprindo o compromisso de executar um programa
educacional que atenda
primeiramente às necessidades do aluno. Os indicadores
coletados mostram que
finalmente as autoridades da área estão saindo do
discurso teórico para a prática.
Questionário O núcleo da Unicamp enviou um
questionário a diretores de 11.100
escolas, obtendo retorno de metade deles. A partir das
respostas, 50 pessoas
foram a campo entrevistar prefeitos, coordenadores e
funcionários das unidades e
também a população. "Foi um desafio montar toda
essa logística", comenta
Barros Silva.
Levando em conta as diferenças culturais e sociais em
cada região do País, os
pesquisadores puderam apontar problemas como
irregularidade no serviço de
correios, inviabilidade das datas de repasse dos recursos
e pouca eficiência ou
negligência de algumas unidades executoras dos programas
educacionais. A partir
desses elementos foi possível avaliar a possibilidade de
sucesso ou não dos
programas nas escolas, conforme a localização.
Merenda é a principal refeição das crianças
Antes, o programa de merenda do governo federal
resumia-se a latas de leite em
pó misturado com chocolate, morango ou aveia, que
chegavam às escolas
públicas em caminhão do governo federal, vez ou outra.
Esse programa
"cinqüentão", como diz o coordenador
científico do projeto do Nepp, José Roberto
Rus Peres, hoje está descentralizado e alimenta 35
milhões de crianças
matriculadas no ensino fundamental. A merenda deveria
servir como
suplementação alimentar, mas tornou-se a principal
refeição do dia para 60% dos
alunos.
A descentralização do programa, que teve início na
década de 90, está sendo
efetivamente concluída esse ano, com a destinação às
escolas de R$ 0,13 por
estudante. Uma vantagem desse sistema é a autonomia dada
às unidades para
aquisição de produtos que façam parte da culinária
regional.
É um projeto que ainda precisa ser aprimorado, tendo em
vista que até o ano
passado apenas 27% das escolas responsabilizavam-se pela
compra dos
ingredientes da merenda. As demais unidades, 67%, ainda
dependiam do envio de
gêneros alimentícios pelo governo.
Escolas aprovam descentralização
Um dos programas mais elogiados pelos diretores de
unidades é o Programa
Nacional de Dinheiro Direto nas Escolas. A transferência
de recursos permite que
cada instituição de ensino fundamental gerencie suas
despesas de maneira
autônoma, sem nenhum tipo de burocracia, promovendo
reparos, manutenções,
compra de materiais e mesmo contratação de professores
conforme suas
necessidades.
A partir desse ano, o envio da verba foi antecipado para
julho, já que antes o
dinheiro chegava às escolas somente no final do ano, o
que dificultava a prestação
de contas. Na maioria das unidades, o dinheiro fica sob
responsabilidade da
Associação de Pais e Mestres, o que garante a
participação e fiscalização das
famílias dos alunos .
A pesquisa do Nepp indica que o PNDE vem sendo o programa
de melhor
desempenho dentre os executados pelo MEC. "Muitas
vezes a escola funcionava
mal por causa de pequenos problemas, que nunca eram
sanados. Esse projeto é
o que diretores, professores e as comunidades queriam.
Faltava apenas resolver a
questão do repasse", afirma Barros Silva.
Reutilizando os livros didáticos
"Este livro não presta" é uma reclamação
que se ouvirá cada vez menos nas
escolas, caso as propostas apresentadas pela equipe do
Nepp sejam inseridas no
Programa Nacional do Livro Didático. Elaborado nos anos
60, o PNLD prevê a
distribuição de livros para todos os alunos do ensino
fundamental. A compra é
centralizada, mas os títulos podem ser escolhidos de
acordo com a linha
pedagógica de cada unidade. Os livros são sugeridos
pelos diretores de escolas
na metade do ano, cabendo ao MEC distribuí-los até o
início do ano letivo, em
fevereiro.
José Roberto Rus Peres afirma que professores e
estudantes resistem à idéia de
reciclagem do material somente de três em três anos.
"Os gastos são enormes.
Imagine comprar dois ou três livros para cada um dos 35
milhões de alunos, todos
os anos".
Campanhas veiculadas na mídia pelo Ministério tentam
conscientizar a sociedade
sobre a importância de se conservar e reutilizar o livro
didático. A troca de
professores, segundo Pedro Barros Silva, também
dificulta a reutilização do
material, já que o livro adotado pelo antecessor muitas
vezes não é aceito pelo
docente que está chegando. "Se a escolha do livro
se desse de acordo com a
meta pedagógica traçada pela escola, esse problema
seria inibido", insiste.
Apesar de os meses de novembro e dezembro serem os mais
conturbados para
entrega de correspondências, em 1999, 51,2% das escolas
receberam os livros
em tempo hábil, até fevereiro. Em 29,6% das
instituições, parte do material
chegou antes do início do ano letivo e outra parte,
depois. E em 8% das unidades
os livros chegaram com atraso.
Os pesquisadores do Nepp atentam para o fato de que os
livros, em grande parte,
são postados no final do ano, período em que os
serviços de correio aumentam
consideravelmente. Todos os dados da pesquisa, negativos
e positivos, foram
encaminhados ao MEC, possibilitando uma readequação do
Programa do Livro
Didático.
Errata
Os professores João Carlos Setúbal e João Meidanis
são do Instituto de
Computação da Unicamp, e não do Centro de
Computação, como saiu publicado
na edição julho/agosto do Jornal da Unicamp, em
matéria intitulada "Capa da
Nature consagra pesquisa brasileira".
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