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Jornal da Unicamp - Setembro de 2000
Páginas 4 e 5
SERVIÇO
Estudantes
saem do campus para periferia
Empresas
juniores da Unicamp se associam em projetos sociais para
oeferecer melhor alimentação, educação e moradia à
população carente
RAQUEL DO CARMO SANTOS
A
direção da Febem Parelheiros, em São Paulo, não sabia
o que fazer com uma
área ociosa de 1.600 m² em suas dependências; procurou
a Unicamp e os
estudantes de engenharia agrícola deram a idéia de
desenvolver culturas no
sistema de hidroponia. O Instituto de Solidariedade para
Programas de
Alimentação (ISA), entidade não-governamental, estava
preocupado em diminuir a
perda de alimentos doados pela Ceasa para famílias
carentes; estudantes da
engenharia de alimentos se prontificaram a repassar
técnicas de conservação. No
Parque Oziel, grande área de ocupação em Campinas,
alunos da engenharia civil
ajudam proprietários na construção da casa própria;
outro grupo, também de
alimentos, idealiza uma cozinha semiprofissionalizante; e
estudantes de
computação elaboram um banco de dados para
cadastramento de pacientes no
posto de saúde local.
Um número cada vez maior de estudantes estão rompendo
as fronteiras do
campus e ocupando seu espaço dentro de instituições,
escolas e associações de
bairros da periferia, participando de projetos que
melhorem e potencializem as
ações voltadas para a população carente. Apesar do
registro de outras iniciativas
desse tipo, nunca se observou na Unicamp tantos projetos
sociais simultâneos,
havendo quem aposte que se desenha um novo e importante
canal entre
Universidade e população.
"O Brasil está acordando e tomando atitudes que
melhoram as estatísticas sociais
e econômicas. O momento pede e nós, universitários,
não podemos ficar de fora
desse processo", concordam as estudantes Juliana
Leite e Priscila Efraim, do
Projeto Social FEA. Outro consenso é de que os
"trotes da cidadania"
contribuíram muito para a percepção deste momento. A
partir dos trotes, muitos
projetos foram nascendo. As ações, antes independentes
e isoladas, hoje são
voltadas em seu conjunto para comunidades carentes,
ocupações, instituições e
hospitais.
Novas disciplinas O despertar dos estudantes para
projetos sociais levou à
criação pela Unicamp, neste semestre, de duas novas
disciplinas de graduação
que incentivam o desenvolvimento desse tipo de trabalho.
As matérias são
multidisciplinares, o que permite ao aluno de qualquer
curso apresentar e executar
um projeto, orientado por um docente, e com isso somar de
dois a quatro créditos
em seu histórico escolar.
O pró-reitor de Graduação, Angelo Cortelazzo, explica
que a nova realidade exigiu
que se oferecesse um respaldo curricular a esses
discentes. "Muitas vezes o
aluno se ressentia por não ter tempo para esta
atividade, que também é de
extrema importância na sua formação".
A satisfação por participar de trabalhos junto à
comunidade, ninguém esconde.
"Nos dá outra visão da vida", comenta
Natália de Oliveira Amoedo, diretora de
projetos sociais da Propeq, empresa júnior de engenharia
química. A empresa
criou esta diretoria em abril último, com a principal
missão de viabilizar atividades
voluntárias junto ao Centro Boldrini, hospital
especializado no tratamento de
crianças com câncer.
Cleber Valgas Gomes Mira, aluno de computação, atua na
empresa júnior Conpec,
que vem dando cursos gratuitos de informática em bairros
da periferia. "É
gratificante levar o conhecimento adquirido dentro da
Universidade para pessoas
que não teriam condições de custear um aprendizado
semelhante". Cleber conta
que a comunidade também se mobiliza: no Jardim Rossim, o
mezanino da igreja
do bairro virou sala de aula; no Jardim São Marcos,
jovens e adultos participam
dos cursos de informática básica e o projeto será
levado agora para uma escola
estadual da periferia. "Não queremos parar por aí.
Estamos procurando novas
parcerias para criar e viabilizar outros projetos",
garante o estudante de
computação.
Núcleo 3º Setor Para impulsionar ainda mais esta
nova concepção de extensão,
as empresas juniores da Unicamp se uniram para criar o
Núcleo 3o Setor, com o
propósito de potencializar os projetos desenvolvidos nas
várias áreas da
Universidade. "Percebemos que os estudantes, cada um
na sua, estavam
trabalhando em projetos que poderiam ser otimizados se
uníssemos forças", relata
Cleber Mira, da Conpec. Nas reuniões são relatadas
experiências e discutidas
novas formas de aumentar a integração entre os
projetos. A formação do Núcleo
também permite detectar as necessidades de cada empresa,
suprindo-as em
grupo.
A ambição é grande e a força de vontade também.
"Queremos acolher uma
determinada instituição, selecionar os programas das
diversas áreas e viabilizar
ações conjuntas. Sabemos que isso é possível",
garante Alexandre Borin Cardoso,
da empresa júnior de engenharia elétrica 3E, lembrando
o caso do Parque Oziel.
O Núcleo 3º Setor não está aberto apenas a empresas
juniores. Grupos de
estudantes que tenham interesse em participar de projetos
sociais serão bem
recebidos nas reuniões. Foi criada inclusive uma sala de
discussões na Internet:
3setor_unicamp@egroups.com.
Projeto pioneiro da FEA
Em 1998, um aluno da Faculdade de Engenharia de Alimentos
lançou entre seus
colegas o desafio de participar do "Programa Brasil
500 anos" da Fundação
Educar-DPaschoal, com a qual mantinha vínculos. Na
época, eles teriam que
viabilizar ações incentivando a higiene e a
reeducação alimentar junto a 1.500
alunos da Escola Estadual 31 de Março, no Jardim Santa
Mônica. Perto de 50
voluntários participaram do projeto.
Esse grande envolvimento dos estudantes motivou a
criação do Projeto Social
FEA, o pioneiro em ações solidárias entre os discentes
da Unicamp. Hoje, a
equipe, formada por 11 alunos, mantém três trabalhos em
andamento e muitos
sonhos para colocar em prática. Dois projetos estão
diretamente ligados ao
Instituto de Solidariedade para Programas de
Alimentação (ISA), entidade que atua
junto a comerciantes da Ceasa na coleta, seleção e
distribuição de
aproximadamente 5 mil toneladas anuais de hortifrutis,
beneficiando 1.700 famílias
carentes e 158 entidades assistenciais de Campinas e
região. A outra ação é a
cozinha semiprofissionalizante do Parque Oziel (ver
matéria nesta página).
Juliana Leite, 5o ano, dá aulas sobre manuseio de
alimentos no curso de culinária,
aos sábados, em período integral. "Não é só
para ensinar que participamos desse
trabalho. Também queremos aprender com essas
profissionais que cozinham há
mais de 20 anos", afirma.
O ISA Qualidade, outro programa do Projeto Social da FEA,
procura observar "o
caminho do alimento". A partir de visitas
periódicas à Ceasa, os alunos tentam
descobrir as causas da deterioração rápida dos
produtos nesse percurso, que vai
da armazenagem até a sua chegada nas entidades
assistidas pelo ISA. "Muitas
vezes o manuseio incorreto ou a temperatura da câmara
alteram o processo de
amadurecimento do produto", esclarece Priscila
Efraim.
Ensinando hidroponia na Febem
Mais importante do que dar o alimento é ensinar a
população carente a obtê-lo.
Seguindo esta premissa, a empresa de engenharia agrícola
Agrológica também
criou um núcleo de projetos sociais. "Nele, as
várias ações voltadas para a
comunidade são tratadas com a seriedade que o assunto
merece", afirma o aluno
Félix Kan Cheng Huang Chen.
A opção por planejar o cultivo em sistema de hidroponia
(na água) nos 1.600
metros quadrados disponíveis da Febem, em São Paulo,
partiu dos estudantes da
Agrológica. Além do retorno financeiro rápido em
relação ao tradicional plantio na
terra, pesou na proposta a possibilidade de os internos
poderem ocupar boa parte
do tempo ocioso nesta atividade.
Orientado pelos professores Antonio Bliska e Silvio
Honório, o projeto prevê o
cultivo de hortaliças como rúcula, agrião e alface
para consumo dos próprios
internos. Serão ensinados todos os passos, do plantio
até a colheita, a fim deles
mesmos poderem cuidar das estufas. A Febem aguarda a
liberação de verba do
governo estadual para dar início ao projeto.
Ações conjuntas para os sem-teto
A interdisciplinaridade estimulada nos trabalhos
acadêmicos também pauta os
projetos sociais desenvolvidos por estudantes da Unicamp
no Parque Oziel, uma
das maiores ocupações de sem-teto do País. O projeto
de autoconstrução de
residências, executado por alunos de engenharia civil e
arquitetura, já mereceu
matéria ampla em nossa edição anterior. Esse projeto
permite, graças ao software"Automet"
desenvolvido por professores da FEC, que famílias
carentes recebam a planta futura da casa, contendo
orientações sobre todas as etapas de
construção,inclusive com fachada e em perspectiva
tridimensional.
Na mesma linha, o Projeto Social FEA ambiciona construir
uma cozinha
semiprofissionalizante, onde funcionará uma padaria e um
restaurante. Além de
servir refeições, os equipamentos permitirão oferecer
cursos profissionalizantes
nessas áreas. O croquí idealizado pelos alunos da
engenharia civil prevê que o
local abrigará 30 pessoas. Os interessados serão
treinados na produção de
alimentos.
A Conpec, por sua vez, desenvolve projetos para
informatização do Posto de
Saúde da ocupação. A empresa júnior está trabalhando
em um banco de dados
para cadastro de pacientes, não apenas com informações
clínicas que interessam
aos médicos, mas também com as de caráter
sócio-ecônomico. Esses dados
possibilitarão um levantamento das principais
necessidades dessa população. A
idéia partiu do Centro Boldrini, que faz um primeiro
atendimento médico naquela
região.
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