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CIÊNCIA E TECNOLOGIA

 

Treinando inventores
Professor defende pesquisadores dentro das empresas
privadas e afirma que invenções raramente são revolucionárias

Apontado como o mais popular e versátil dos inventores americanos, que no século passado desenvolveu a lâmpada incandescente e o gramofone, Thomas Edison talvez não encontrasse nos dias de hoje espaço para as suas criações. Embora suas invenções ainda perdurem, ele possuía pouco conhecimento prático em comparação ao seu extraordinário talento para a tecnologia.

Ciência e tecnologia sempre caminharam juntas, muito mais nos dias de hoje. “É necessário ter um conhecimento maior sobre os aspectos da ciência fundamental para que se possa fazer tecnologia avançada”, observou o professor Carlos Henrique Brito Cruz, do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) e presidente do Conselho Superior da Fapesp, durante conferência na Cientec sobre “Políticas de incentivo e financiamento à produção científica e ao desenvolvimento econômico, social e tecnológico”.

Para o físico da Unicamp, um dos aspectos mais importantes para se produzir ciência é a capacidade de treinar pessoas. “Isso porque somente pessoas treinadas para tal finalidade são capazes de entender a ciência que os outros cientistas produzem”, afirma. A idéia de que ciência (ou conhecimento) é cumulativa, social, muitas vezes também provoca dificuldades no Brasil. “Queremos sempre que as descobertas científicas tenham resultados já no dia seguinte. Não é assim, as descobertas avançam devagar. Raramente temos invenções realmente revolucionárias”, argumenta o cientista. Para ele, a decodificação do código genético é uma das mais extraordinárias descobertas dos últimos tempos.

Mas, no Brasil, observa-se uma considerável distorção, referente à questão da formação de cien-tista no país, quando se verifica que há pouca pesquisa feita dentro dos laboratórios das empresas. Uma dessas distorções refere-se à universidade-empresa, vista muitas vezes como a grande saída para atender às necessidades tecnológicas da iniciativa privada. Brito julga, porém que esse tipo de instituição de ensino não é a melhor opção: “A grande oportunidade está em se ter mais pesquisadores diretamente dentro da empresa”, defende.

Início na Unicamp — O Brasil, hoje, tem 56 mil cientistas e engenheiros envolvidos em pesquisas em franco processo de desenvolvimento nos laboratórios das universidades, enquanto que 8.700 deles operam nas empresas privadas. Esse número incomoda os cientistas brasileiros, se comparado com os Estados Unidos, onde há 960 mil cientistas – doze vezes mais que o Brasil – sendo que 760 mil atuam no setor privado.

O professor da Unicamp cita o caso das comunicações ópticas, campo no qual as pesquisas, mesmo que timidamente, se iniciaram há 30 anos no Instituto de Física da Unicamp. A idéia era considerada um delírio, “não só no Brasil, mas no resto do mundo”, recorda-se. “Coisa de cientista maluco”, diziam na época. Como é que se fabrica a fibra e consegue-se pôr luz nela?, questionavam. Hoje há, na região de Campinas, um conjunto de empresas que fabricam fibras ópticas, laseres e equipamentos para telecomunicações, cujo faturamento ultrapassa R$ 250 milhões por ano. São empresas que, nascidas de uma unidade da Unicamp, faturam metade do orçamento da Universidade. “Um faturamento que cresce ano a ano”, observa.

Para Brito, a descoberta da energia nuclear, que apareceu de maneira tão chocante com as bombas atômicas lançadas no Japão, trouxe também um ensinamento sobre os caminhos tortuosos que a ciência percorre. “Os cientistas da época, em 1945, certamente estavam pensando no desenvolvimento da estrutura do átomo e não imaginavam produzir uma bomba atômica. Assim como também não pensavam produzir toca-discos a laser, nem telefone celular”.

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A propriedade intelectual

Nos últimos cinco anos, o número de pedidos de patentes vem crescendo de modo significativo no Brasil. Ano passado foram realizados aproximadamente 20 mil depósitos, 10 mil a mais que o registrados no ano de 1999. A expectativa do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), órgão responsável pela análise dos registros de pedidos de patentes, é que 22 mil solicitações sejam feitas neste ano.

Para a diretora-substituta do INPI, Maria Alice Camargo Calliari, esses números revelam a preocupação por parte dos empresários brasileiros com relação à proteção dos direitos de propriedade intelectual. A constatação foi feita durante palestra sobre Mercado Aberto, Dependência Tecnológica, Patentes e Balança Comercial, durante a Cientec 2001.

Maria Alice estima que a abertura do mercado, ocorrida em 1995, contribuiu para que as empresas procurassem mais pela proteção legal de seus inventos. “É preciso salientar que muitas empresas estrangeiras estão entrando com pedido de patentes sobre tecnologias que foram desenvolvidas no Brasil e que muitas delas acabam por se transformar em parte do ativo da empresas”, explica.
No entanto, muitas vezes ocorre que a firma que consegue uma patente pode desenvolver o produto ou licenciá-la para uma outra empresa. Com isso, quem produziu o invento acaba ganhando com os royalties. “A IBM é um bom exemplo de empresa que ganha muito com royalties”, acentua Maria Alice.

Ela revela que o Instituto onde trabalha freqüentemente enfrenta dificuldades para desenvolver o processo de análise dos pedidos de patentes. A falta de pessoal e recursos emperra o andamento dos trabalhos, enquanto que, na Europa, um processo leva menos tempo para ser aprovado, em média três anos. No Brasil, mesmo com tantas dificuldades, esse tempo, que antes era de cinco anos, passou para quatro. “A meta é chegar a três anos”, espera Maria Alice. Ela explica que foram contratados, em regime temporário, 65 examinadores que foram incorporados ao quadro de 90 pertencentes ao Instituto.

No ranking das empresas nacionais que solicitaram registro de patentes, a Petrobrás está em primeiro lugar, com 611 depósitos. Em seguida, vem a Usiminas com 360 pedidos. As empresas brasileiras, segundo Maria Alice, estão “acordando agora para a importância do registro das patentes”.

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Exemplo pitoresco

Ciência e tecnologia. Para a professora Alaíde Mammana, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp, essas são áreas que não podem, hoje, ser dissociadas. “Quanto mais detivermos conhecimentos científicos, mais condições teremos de fazer previsões para um desenvolvimento rápido e abrangente, e chegar a resultados interessantes”, diz.

Para ela, os programas brasileiros estão focados no desenvolvimento básico. “E acho que fazemos isso muito bem. Vários resultados dessas pesquisas são proveitosos do ponto de vista tecnológico. É um trabalho árduo e difícil, nem sempre contemplado pelos programas de fomento ou de apoio, que é o de fazer protótipos de laboratório. Já tivemos todos os méritos, todas as glórias em pesquisas que possam ser convertidas em produtos destinados ao mercado consumidor”, explica Alaíde.

Principalmente quando não se tem expe-riência na área. “Com a preocupação do que pode virar produto, tenho que analisar sob o aspecto tecnológico, que requer intenso trabalho de repetição de processo para o controle das diversas etapas que, num laboratório de pesquisa, não são tão importantes. Isso porque no laboratório pode-se fazer um ou dois experimentos, mas quem faz tecnologia tem que fazer cem, um milhão”, argumenta Alaíde. A pesquisadora da Unicamp cita um “exemplo folclórico” que compara os Estados Unidos e o Japão. O que há de diferente na história industrial desses dois países? Nos Estados Unidos verifica-se que há uma absoluta separação entre o pesquisador do operário da fábrica.

“Pude observar, no Japão, pesquisadores e trabalhadores juntos trocando chinelos na porta do prédio e entrando para trabalhar”, conta. Ao contrário dos americanos, onde os pesquisadores permanecem o tempo todo no Olimpo, nos bonitos e bem instalados laboratórios da Costa Oeste, trabalhando a seis mil quilômetros da fábrica. Esse distanciamento faz com que o processo de desenvolvimento seja seqüencial. Quer dizer, primeiro aperfeiçoa-se em laboratório para depois falar com o pessoal da fábrica. Já os japoneses tiveram sucesso em fazer o processo paralelo, ou seja, todos opinam e discutem conjuntamente o problema, avaliando as suas várias nuances, no desenvolvimento propriamente dito.

 

 

 


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