MUNDO
- DIMENSÕES INVISÍVEIS |
O jogo-da-velha e a luz síncrotron Passatempo
ajuda a explicar uma das mais altas tecnologias disponíveis no Brasil O
jogo-da-velha, nas suas mais variadas traduções mundo afora, é
estigmatizado como um passatempo para pessoas menos qualificadas intelectualmente.
Na Cientec, porém, o jogo foi utilizado para ilustrar como funciona uma
das mais altas tecnologias disponíveis no Brasil: o Laboratório
Nacional de Luz Sincrotron (LNLS). Com o slogan Tecnologia não é
brincadeira, o laboratório expôs um robô que pratica
com maestria o jogo-da-velha embora até perca para os humanos
e que foi produzido em tempo recorde por uma equipe de cientistas. Levamos
um mês para a concepção da idéia e outro para colocá-la
em prática, informa o assessor de comunicação do LNLS,
Roberto Medeiros. O slogan foi criado para ser utilizado na Cientec 2001.
O jogo é mero pretexto para a gente mostrar como um aparato, uma ferramenta,
um determinado utensílio pode ter por trás dezenas de tecnologias
agregadas, necessárias para o funcionamento desse utensílio,
acrescenta. No
caso deste robô campeão, ele traz tecnologias relacionadas a corte
com laser, eletrônica de potência e tecnologias associadas à
construção de bobinas, eletroímãs e controles digitais.
Os visitantes, aparentemente, fazem um jogo contra a tecnologia e podem
ganhar ou perder. Não tem cartas marcadas, garante Medeiros. Mas
o que importa é passar uma mensagem de que tecnologia não é
brincadeira, exige muitas pessoas para ser feita, é uma coisa muita séria.
Tudo o que está ali é fruto da equipe de engenheiros e físicos,
justifica. Síncrotron
é uma palavra cuja origem etimológica está em elétrons
sintonizados. Trata-se de um acelerador de partículas, que tem como
finalidade essencial produzir quatro faixas do espectro eletromagnético:
a luz visível, o raio-x, o ultravioleta e o infravermelho que nossa visão
não percebe, explica o assessor. Estas
faixas, sobretudo de raio-x e ultravioleta, são fundamentais para os cientistas
pesquisarem átomos e moléculas, os componentes básicos de
todos os materiais existentes na natureza. No LNLS existe uma máquina funcionando
em torno de estações de trabalho, onde chegam feixes de raio-x ou
ultravioleta. Tecnólogos e engenheiros de materiais, entre outros pesquisadores,
usam essas estações para fazer experimentos com os mais variados
materiais. As
máquinas começaram a surgir nos anos 50, mas eram máquinas
aceleradoras que foram adaptadas para produzir raio-x e ultravioleta. Os aceleradores
mais contemporâneos, como o brasileiro, têm em torno de 15 anos e
são projetados especificamente para produzir a luz síncrotron, e
não para fazer choques de partículas, que é uma outra área
da física, informa. Alto
nível O LNLS é mantido com recursos públicos do
Ministério da Ciência e Tecnologia e, como tal, tem a missão
de dar infra-estrutura para que se faça ciência de bom nível
no Brasil. Ciência feita por grupos de universidades brasileiras, mas que
também atende a demanda de outros países. A vizinha Argentina, que
possui tradição muito grande na área de física, envia
regularmente pesquisadores ao laboratório. Recebemos cientistas da
Suécia, Estados Unidos, França, e outros dez estados brasileiros
usam a infra-estrutura, acrescenta Medeiros. Além
da fonte de luz, o laboratório oferece outros recursos, como o Centro de
Microscopia Eletrônica. Atualmente ele está abrindo itens da
infra-estrutura do Centro de Microbiologia Molecular Estrutural, anuncia
Medeiros. Desde que começou a funcionar, em julho de 1997, o LNLS já
registrou a entrada de 981 projetos solicitando espaço na fonte de luz
síncrotron. Esses projetos são analisados por comitês e, comprovando
o mérito científico, os pesquisadores asseguram um tempo em uma
das estações de trabalho adequada ao tipo de pesquisa idealizada.
Em quatro anos, a média tem sido de 250 projetos anuais demandando
por luz síncrotron. Cada pesquisa reúne de quatro a seis pesquisadores
normalmente um chefe, um ou dois doutores ou mestres, e estudantes de mestrado,
doutorado ou iniciação científica. Portanto, para além
da pesquisa realizada, o LNLS contribui na formação de recursos
humanos qualificados, afirma. O
período de pesquisa é muito variado. O laboratório oferece
um hotel com 24 apartamentos, pois os pesquisadores trabalham em tempo integral,
aproveitando ao máximo sua permanência, mesmo porque a luz síncrotron
funciona das 8h às 24h. ---------------------- >>
Produto
valioso que poucos produzem Coquetel
anti-Aids
Na
prática os pesquisadores de luz síncrotron estão em busca
de informações sobre fenômenos físicos, químicos
e biológicos que ocorrem no plano dos átomos e das moléculas.
Querem entender os materiais em seu sentido lato, inclusive o biológico,
e decifrar certos fenômenos que possam significar a criação
de um novo material ou a modificação de um material que já
existe. No caso da biologia, quando estuda as proteínas, o que o cientista
quer é entender sua estrutura e, entendendo, estudar qual a sua função;
e, sendo uma função maligna, analisar como a proteína pode
interferir nessa função de forma que não provoque aquela
malignidade no organismo.
Desde
1996, um dos medicamentos do coquetel anti-Aids é obtido em laboratório
de luz síncrotron dos Estados Unidos. Os americanos descobriram a função
de uma proteína no vírus HIV e criaram um medicamento que inibe
a ação dessa proteína, a protease; ela perdeu parte de sua
função, passando a abrandar o vírus e criando uma nova expectativa
de vida para os portadores da doença.
No
futuro, muitos medicamentos serão produzidos graças, em boa parte,
ao conhecimento que hoje está sendo gradativamente acumulado em laboratórios
síncrotron, inclusive no brasileiro. Será útil em outras
áreas de materiais, como os eletrocrômicos, que reagem a estímulos
externos as lentes de óculos, por exemplo. Há muito mais
a ser descoberto sobre materiais avançados para usos mais específicos,
adianta o assessor Roberto Medeiros.
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