Um novo mundo rural Especialistas
defendem MST e transformações no modelo agrícola brasileiro A
falta de uma política agrícola efetiva e permanente no Brasil não
impede que movimentos espontâneos e isolados direcionem algumas atividades
produtivas no sentido de atender às necessidades de mercado, ou ainda que
pressões sociais obriguem o governo a tomadas de posições
no sentido de consolidar a reforma agrária e o crédito ao pequeno
produtor da agricultura familiar, mudando a realidade agrícola brasileira. Temas
controversos foram abordados durante o módulo Política Agrícola,
no Fórum de Debates da Cientec. Para Plínio de Arruda Sampaio (PT),
ex-consultor da FAO (Food and Agriculture Organization, das Nações
Unidas), a primeira solução para a política agrícola
é a reforma agrária. O poder camponês do MST fez nascer
um fortalecimento cultural e econômico no Brasil rural, com uma obra civilizatória
espantosa, que começa com a educação das crianças.
Não temos as Farc (guerrilha colombiana) porque temos o MST. Se o movimento
for derrubado, teremos a guerrilha, alerta Sampaio. O
modelo de desenvolvimento adotado a partir da década de 90 provocou uma
mudança radical de conceito da produção rural: o que era
considerado até a década de 80 como agricultura de subsistência,
tornou-se de desenvolvimento sustentado. Segundo Carlos Castro, do IAC (Instituto
Agronômico de Campinas), o termo agricultura de subsistência, no âmbito
da pesquisa, deveria ser banido, e os processos substituídos pela geração
de tecnologias destinadas à melhoria da produtividade do setor rural familiar. Para
Ivamney Augusto de Lima, da CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica
Integral), a questão hoje é reduzir a migração
e gerar renda de forma desconcentrada, e dessa forma apoiar a retomada do desenvolvimento,
analisa. O Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar),
que financia projetos de produção agrícola para famílias
de baixa renda, é visto como a única política agrícola
em vigor no país, por viabilizar a pequena produção. Mas
a desestruturação da assistência técnica um
dos requisitos do programa é apontada como um retrocesso no setor.
Criando novas possibilidades para a produção de pequeno porte,
haverá a revalorização do mundo rural, acredita Lima.
Quadro
teimoso Na visão do agrônomo Ivan Silveira, do Itesp (Instituto
de Terras do Estado de São Paulo), que presta assistência técnica
em assentamentos, existe uma incompatibilidade no modelo agrícola brasileiro,
como entre desenvolvimento e equilíbrio, e concentração e
democratização. Existe um quadro teimoso da definição
das políticas públicas sobre o uso da terra, diz. No Brasil,
mais de 4,3 milhões de propriedades de agricultura familiar somam pouco
mais de 100 milhões de hectares, enquanto cerca de 500 mil propriedades
patronais detém 250 milhões de hectares, segundo o mais recente
censo da terra. A agricultura familiar gera um emprego para cada nove hectares,
enquanto a patronal gera um emprego a cada 60 hectares, relaciona Silveira. Omar
Assaf, presidente da Apas (Associação Paulista de Supermercados),
destaca os contrastes gritantes na carga tributária e carência social,
quando se compara a política agrícola dos países desenvolvidos
e em desenvolvimento. A carga tributária no Brasil é muito
alta: calcula-se que representa em torno de 28% do custo da cesta básica,
enquanto em alguns países paga-se em torno de 5%. Nos países desenvolvidos
a política de subsídios mantém o homem no campo. Fica mais
barato que combater a pobreza nos grandes centros, pondera. Mercado
se abre para a agricultura familiar Do
pesque-pague à depilação de gado --------------- Dados
Pronaf
ASegundo
informações do professor João Luiz Cardoso, da Faculdade
de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, até 1993 os pequenos
produtores eram desfavorecidos no sistema oficial de crédito agrícola,
com 71,4% dos contratos e 19,4% do volume de crédito. Os grandes produtores
detinham 8,2% dos contratos e 20,2% do volume. Com o Programa Nacional de Fortalecimento
da Agricultura Familiar (Pronaf), a situação se inverteu e o maior
volume passou a ser destinado aos pequenos produtores. Em 2000, apesar das dificuldades
iniciais do programa, os pequenos proprietários respondiam por 85% dos
contratos e 78,2% do valor. Segundo
Fernando Gaiger, do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), uma
pesquisa do perfil do crédito agrícola do Pronaf revela que a maioria
dos contratos (52%) é do grupo B, classificação de renda
bruta anual até R$ 1.500,00; depois vem o grupo C (35%), renda de R$ 1,5
mil até R$ 8 mil; e o grupo D (10%), com renda de R$ 8 mil até R$
27 mil. A média dos contratos de financiamento é de R$ 2 mil, a
maioria destinada a custeio de plantio.
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