Atirando para todos os lados Debate
sobre produção de softwares rende acusações pesadas
contra o governo FHC Por
ter opiniões radicalmente diferentes das dominantes na política
econômica do país, como ele próprio definiu, Cláudio
Mammana, professor do Instituto de Física da Universidade de São
Paulo (USP), optou pelo silêncio. E escolheu a Unicamp para pôr fim
ao jejum. Esta é uma oportunidade especial, porque há muito
tempo não tenho falado em público. A Unicamp é um centro
de liberdade de expressão e estou me sentindo um pouco à vontade,
justificou, durante o painel que discutiu a política de exportação
e incentivos fiscais para softwares, na Cientec. Mamanna
é direto em suas críticas. Nosso presidente acabou de dizer
que é exportar ou morrer. Parece que se deu conta disso com
um pouco de atraso, alfinetou contra Fernando Henrique Cardoso. O
Ministério da Ciência e Tecnologia deveria se chamar Ministério
da Ciência, Cemitério da Tecnologia, emendou. O
professor da USP contesta a aplicação em educação
dos recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de
Telefonia (Fust), uma contribuição que as empresas de telecomunicações
repassam ao governo e que pode ser conferida por qualquer usuário nas contas
de telefones (juntamente com o Funttel). Não há nenhum sentido
em o sistema telefônico começar a tutelar a educação.
As decisões vão ser tomadas por um sistema que não entende
nada de educação e não está interessado nela,
acusa. Isso é uma forma de renúncia fiscal. O Fust é
uma forma de dirigir um dinheiro que é público para determinado
investimento. A
indignação de Mamanna aumentou quando soube pelo jornalista Luís
Nassif, em sua coluna na Folha de São Paulo, que o Fust resolveu
fazer reserva de mercado para o Windows nos equipamentos que vão para as
escolas. O texto se referia a um edital da Anatel (Agência Nacional
de Telecomunicações), cujo prazo de propostas se encerrou em 31
de agosto e previa a informatização em rede de 13 mil unidades de
ensino médio e fundamental do país uma liminar acabou suspendendo
a concorrência em 3 de setembro. Outra bronca do físico na área
é dirigida contra a Secretaria de Educação do Estado de São
Paulo. Fizeram uma reserva de mercado para um software francês de
geometria e estão abastecendo todas as escolas, denuncia, reclamando
que, não bastasse a reserva de mercado para a compra, ainda estão
aplicando dinheiro público para treinar os professores no uso do programa.
Para
Cláudio Mamanna é preciso que a renúncia fiscal venha acompanhada
de algum objetivo a atingir. Ele acredita que as escolas beneficiadas pelo Fust
não vão conseguir trocar seus micros antes de cinco anos. É
preciso equilibrar inovação tecnológica com taxa de longevidade
tolerável, para que os investimentos não se tornem obsoletos tão
rapidamente, defende. Pessimismo
O Brasil sofrerá um déficit de 40 bilhões de dólares
com a importação de softwares em 2010, caso o mercado apresente
a evolução atual. A projeção sombria é de Artur
Pereira Nunes, coordenador geral da Sociedade para a Promoção da
Excelência do Software Brasileiro (Softex). Ele arrisca esta previsão
com base nos US$ 100 milhões que o país arrecadou em 2000, contra
US$ 1 bilhão em importações de softwares no mesmo período.
Se não for US$ 40, de qualquer forma será um número muito
alto. Estamos
preocupados e atentos com esses números, e seguros de que devemos aliar
competência técnica com política industrial, afirma
o coordenador geral da Softex. Segundo Nunes, a qualidade do software brasileiro
é reconhecida internacionalmente. Não somos uma lojinha de
software de shopping. É preciso uma política industrial. A
comparação com a lojinha tem fundamento. Hoje a maior parte dos
softwares brasileiros é produzida por pequenas e médias empresas,
que necessitariam de maior aporte financeiro para conquistar competitividade no
mercado internacional. ---------------------- Tendência
parao software livre A
tendência na Unicamp é o uso generalizado de softwares livres, segundo
o reitor Hermano Tavares, presente na platéia que discutia a produção
e uso de softwares. A vontade é caminhar nesse sentido, mas não
sei se vamos conseguir, disse, acrescentando que a Coordenadoria Geral de
Informática (CGI) já cuida dessa proposta. Ele ressaltou ainda que
boa parte da comunidade é favorável à migraçäo.
O
reitor fez a intervenção quando o palestrante César Pagan,
prefeito de Amparo e professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de
Computação (FEEC), foi questionado por um participante se indicaria
para a Unicamp a substituição de softwares proprietários
por livres, dentro do modelo que vem implementando na cidade que administra. Segundo
Pagan, o uso de software livre já é um hábito entre grande
parte de seus colegas na Universidade. Tavares citou o exemplo da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, que já fez a migração completa
para o Linux. Aquela universidade é de porte um pouco maior que a
Unicamp. Se foi possível lá, pode ser aqui. As
dificuldades de migração não ocorrem em Amparo, cidade de
60 mil habitantes, a 60 quilômetros de Campinas. Eleito pelo Partido dos
Trabalhadores, César Pagan segue com tranqüilidade na sua meta de
inovar, lembrando que quando assumiu, em janeiro, o processo de informatização
no município era ainda pequeno. Pioneira no Estado nessa iniciativa, Amparo
deverá economizar, segundo Pagan, R$ 100 mil reais apenas com as licenças
de software. Por enquanto, existem 25 máquinas que rodam em Linux e em
rede. Também vem sendo feita uma adaptação para o Star Office,
outro programa livre. Os
gaúchos oferecem outro modelo bem-sucedido de transformação
de conceitos, quando se fala em softwares livres. O governo possuía softwares
e hardwares desatualizados no início de 99. Eram apenas cinco mil micros
em rede no estado todo. De acordo com Marcos Vinícius Ferreira Mazoni,
da Companhia de Processamento de Dados do Rio Grande do Sul (Procergs), hoje são
15 mil e serão 60 mil em 2002 , sempre baseados em plataformas
abertas. Em 98 o estado gastava R$ 3 milhões de reais com informatização;
passou a R$ 1,5 milhão em 99, R$ 350 mil em 2000 e deve encerrar o ano
consumindo apenas R$ 80 mil. ---------------------- FARPAS
Não
conheci em minha vida dois economistas que se entendessem. Se um não consegue
entender o outro, deve ser uma ciência muito complicada A
economia é uma ciência arrasada. Os economistas soviéticos
desmoralizaram as teorias marxistas e, os brasileiros, todas as outras Minha
esposa teve de viajar para Curitiba. Passei ao meu filho um telefone de um amigo
em Boston e disse: Se quiser se comunicar com a mamãe, você
liga para Boston, deixa um recado lá, que depois ela pega o recado. É
muito mais barato do que ligar para Curitiba Já
na primeira aula de engenharia de software, digo para meus alunos: software é
como salsicha: se vocês soubessem como é feito, não confiariam Existe
uma enorme base de hindus instalada em centros importantes de pesquisas e desenvolvimento
nos EUA. Logo, os americanos importam software da Índia. Os brasileiros
que estão lá são garçons, engraxates... Não
existe aporte de recursos para a área tecnológica no sistema bancário
convencional. No Banco do Brasil ou na Caixa Federal, seja para tecnologia de
ponta ou para uma sapataria, você terá o mesmo tipo de tratamento.
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