Campinas
integra a Rede Mercocidades O
intuito é repensar o conceito tradicional de metrópole e o papel
das grandes cidades em áreas de conurbação ANTONIO
DA COSTA SANTOS Entre
os dias 3 e 4 de setembro, estive na cidade de Valparaíso, Chile, para
participar da 7a Assembléia Geral da Rede Mercocidades, assinando termo
de compromisso para Campinas integrá-la. Esta rede é formada por
cidades de países integrantes do Mercosul há seis anos, sendo que
existe a possibilidade de integração com municípios de outros
países latino-americanos. Com
esta nova iniciativa, também pioneira na Região Metropolitana de
Campinas (RMC), o governo municipal continua trabalhando, como vem fazendo desde
o início deste ano, para o sucesso dessa região. Essa disposição
vem sendo buscada por meio de ações suprapartidárias e intermunicipais
para trocar disputas políticas e formar consenso para o sucesso da RMC.
Preconiza-se também a cooperação multilateral entre os 19
prefeitos e o governo do Estado de São Paulo para permitir consistência
e inovação na definição de uma política de
desenvolvimento econômico e urbano regional. Nesse
sentido, o governo de Campinas: I) firmou convênio com a Fecamp para elaborar,
inclusive, análise econômico-financeira do potencial de desenvolvimento
da RMC, que ajudará na construção de gestão urbana
planejada estrategicamente; e II) promoveu em 24-08-01 um ato público suprapartidário
e intermunicipal contra a perda de titularidade municipal sobre saneamento ambiental
e pela maior liberação de recursos da União, do Estado, do
BNDES e da Caixa Econômica Federal para expandir as obras de tratamento
de esgoto, destacando o Rio Atibaia e as Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari
e Jundiaí. Esta
disposição responsável de consolidar a RMC com sucesso está
sendo reafirmada com a integração de Campinas na Rede Mercocidades.
O intuito é repensar o conceito tradicional de metrópole e o papel
das grandes cidades em áreas de conurbação e com interdependência
de problemas socioeconômicos complexos para definir a participação
de Campinas na consolidação da RMC. O
objetivo da Rede Mercocidades é impulsionar a cooperação
multilateral entre prefeitos nas soluções de problemas análogos.
Pretende ajudar na definição de estratégias de desenvolvimento
econômico e urbano que promovam a integração entre cidades
latino-americanas, preservando-se a autonomia e a identidade de cada uma delas
diante dos blocos econômicos, especialmente Nafta, Mercosul, Alca, e das
negociações recentes entre Mercosul e Bloco Europeu.
Estes contextos econômico e institucional, sobre os quais se buscam implementar
políticas de desenvolvimento econômico e urbano regional, exigem
novos paradigmas de gestão urbana que considerem, por exemplo, novas funções
na prestação de serviços, novas demandas por infra-estrutura
urbana, novas competências relacionadas ao desenvolvimento econômico,
social, cultural e novas formas de inserção das cidades no âmbito
regional e internacional. Centro
polarizador A concepção tradicional de metrópole,
que tem nas grandes cidades o centro polarizador e irradiador do desenvolvimento
econômico e da organização do espaço urbano, não
foi suficiente para resolver problemas semelhantes aos vividos hoje em nossa região,
sobretudo diante da introdução de novas tecnologias no padrão
de industrialização da Segunda Revolução Industrial,
acompanhadas por mudanças contemporâneas (países reunidos
em blocos econômicos e mercado mundial de capitais). Por
isso, a produção industrial tornou-se mais fragmentada e permitiu
novas formas de organização do espaço, ultrapassando os limítrofes
de países, metrópoles e grandes cidades, possibilitando o crescimento
dos setores de serviço e de comércio. Assim, houve modificações
nos papéis das grandes cidades e na gestão de política urbana
em regiões metropolitanas, como também nos critérios de localização
industrial porque decisões empresariais podem ser tomadas em bolsas de
valores do centro ou da periferia do capitalismo. Essas
razões justificam a substituição de disputas políticas
e ações isoladas de prefeitos pela cooperação multilateral
para criar as melhores alternativas técnicas, socioeconômicas e ambientais
consubstanciadas num planejamento estratégico, considerando-se que, embora
cada cidade tenha seus principais problemas, alguns são comuns aos vários
municípios e permitem ações compartilhadas por meio de uma
política de desenvolvimento econômico e urbano regional. Ajuda
da ciência A cooperação multilateral deve contar
ainda com especialistas em diferentes áreas da ciência e com ampla
participação da sociedade civil organizada nas câmaras temáticas,
que serão constituídas pelo Conselho de Desenvolvimento da RMC de
forma interdisciplinar para subsidiar na definição de estratégias
de desenvolvimento.
A
política de desenvolvimento econômico e urbano regional deve ser
compatível com a caracterização e a estrutura da rede de
cidades da RMC, visando: I) aprofundar o potencial local de desenvolvimento e
compensar dificuldades diante das especificidades de cada município; II)
transformar a infra-estrutura existente para corrigir distorções
da ocupação e uso do solo urbano desordenados e redistribuir no
espaço, de forma racional, a localização e o funcionamento
da produção, comércio e serviços; e III) captar recursos
federais, estaduais e internacionais para viabilizar projetos e concretizar soluções
compartilhadas por meio de parcerias e consórcios intermunicipais, bilaterais
ou multilaterais.
As
iniciativas do governo municipal para buscar o sucesso da RMC contrastam com as
disputas políticas pelo comando do Conselho de Desenvolvimento entre parte
dos prefeitos; e também quanto à posição pública
do Governo do Estado de São Paulo sobre a criação da Autarquia
e do Fundo de Desenvolvimento Metropolitano, que será essencial para implementar
planejamento estratégico. A disputa política é uma forma
limitada de tratar a RMC, principalmente considerando-se que a Lei Complementar
870, que a criou, não contempla os novos papéis das cidades em regiões
metrópoles diante das mudanças no mundo contemporâneo. Situação
grave Considere-se ainda a grave situação do poder público
no país diante da instabilidade econômica dos anos 80 e da política
neoliberal nos anos 90. Na RMC seus efeitos foram: dívidas elevadas, sendo
a de Campinas a maior da região (cerca de R$ 1,6 bilhão); fragilização
das políticas públicas e das condições de manutenção
do espaço urbano; dissimulação da guerra fiscal, que permitiu
evasão de recursos sem diminuir o desemprego; e privatizações
do sistema ferroviário, dos serviços de manutenção
das rodovias resultando na multiplicação de praças
de pedágios, que foram majorados e dos serviços de distribuição
de energia, que passa por uma crise devido à redução de investimentos
públicos para ampliar a geração. Por tudo isso, o governo
de Campinas sugeriu consenso em torno de uma terceira candidatura, que não,
necessariamente, deva ser a do prefeito de Campinas, mas que também pode
vir a ser a de um representante do próprio Governo do Estado de São
Paulo no Conselho de Desenvolvimento, como preconiza a Lei Complementar 870. Neste
momento significa trocar disputa política pela concepção
suprapartidária e intermunicipal, colocando a RMC acima de interesses imediatos
para permitir seu sucesso no futuro. ---------------------- >>A
hora de cooperar |