A popularização da Internet Ministério
das Comunicações anuncia projeto que prevê ligação
de qualquer telefone à rede A
pesar de todo o marketing sobre ela, a Internet ainda é um produto para
poucos no Brasil. Apenas 400 municípios do país são servidos
por provedores de acesso. Em conseqüência de sua concentração
nas grandes e médias cidades, estima-se que 14 milhões de usuários
estejam interligados em redes (menos de 10% da população). Uma
das saídas visando a massificação do sistema pode ser a ligação
de qualquer telefone à rede de provedores, e sem o custo da tarifa telefônica.
O usuário pagaria apenas uma taxa de uso à Agência Nacional
de Telecomunicações (Anatel), estimada entre R$ 15,00 e R$ 20,00
por mês. O edital da concorrência para tornar esse projeto uma realidade
estava previsto para sair ainda neste mês. A novidade foi anunciada por
Artur Nunes de Oliveira Filho, subsecretário de Planejamento, Orçamento
e Administração do Ministério das Comunicações,
durante a Cientec.
Mas
há outras frentes de trabalho para permitir que as telecomunicações
e a Internet sejam tão populares como já foi o rádio antes
do advento da televisão, nos anos 50. Uma delas é a aplicação
de recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telefonia
(Fust) para a informatização de 13.300 escolas públicas de
ensino médio e fundamental, Brasil afora. Existem controvérsias,
entretanto, quanto ao formato com o qual o edital dessa concorrência saiu
dos gabinetes de Brasília. A celeuma girou em torno do favorecimento dos
produtos Microsof, em especial o Windows, que pilotaria os computadores em rede
nas escolas. Uma liminar, obtida através de ação popular
dos deputados federais Sérgio Miranda (PcdoB-MG) e Walter Pinheiro (PT-BA),
desacelerou a implantação da inovação. Os
autores do pedido alegam que há softwares abertos e gratuitos no país,
com igual qualidade dos americanos, e que o projeto não constava do Plano
Plurianual do governo. Polêmica à parte, a informatização
das escolas pode trazer ao Brasil um grande salto na difusão pela Internet.
Quando todo o processo estivesse consolidado, seriam, pelo menos, novos 6,5 milhões
de estudantes puglados (acima de 50% a mais que o número atual). De
acordo com Artur Nunes, uma parcela das unidades já deveria estar sendo
informatizada ao final deste ano. Outros 40% seriam cobertos até meados
do próximo ano e o restante ao final de 2002. Além dos estudantes,
287 mil professores teriam os mesmos benefícios. ---------------------- Rede
com banda infinita APara
solucionar o congestionamento de veículos na cidade de São Paulo,
principalmente em dias de chuva, seria necessário alargar as vias públicas
em dez, cem ou quantas vezes preciso, eliminando o gargalo. Um novo modelo de
Internet segue a mesma lógica: para que o trânsito virtual
flua sem problemas, são necessárias bandas infinitas. É o
que propõe o engenheiro Leonardo Mendes, da Faculdade de Engenharia Elétrica
e de Computação (FEEC) da Unicamp. É uma colocação
de pesquisa, provocativa, mas perfeitamente viável, trata de esclarecer. O
modelo de uma rede aberta é a coluna de sustentação desta
proposta, em teste em países como o Canadá, EUA e na Europa. Quando
se fala em regulamentação da Internet, o meu termo é desregulamentação,
ou seja, manter o que existe hoje. Quando se fala em convergência das telecomunicações
para a rede IP, minha proposta é investir em RMs, abandonando as redes
de Telecom, provoca Mendes. O
professor da FEEC tem levado suas teo-rias para as aulas de engenharia. No dia
em que apresentou o protótipo do que denomina Rede Metropolitana (RM),
em um dos debates da Cientec, o assunto foi discutido em grupos. Traçou-se
um comparativo com Campinas,que possui 1 milhão de habitantes. Para o professor,
bastariam algumas centenas de fibras ópticas para suportar o tráfego
global da cidade, com banda de 2,5 megabytes por ponto de acesso e se possível
mais, sem limite. O custo disso representaria relativamente pouco diante do orçamento
do município (R$ 800 milhões/ano). Supondo que cada ponto custasse
R$ 500,00, em dez anos poderia ser oferecido acesso para 10% da cidade, a um custo
anual de R$ 5 milhões. Não
é preciso, obrigatoriamente, qualquer controle governamental. A rede
de pacotes, em ambiente de alta velocidade, atende à demanda clássica
de dados e é capaz de oferecer o serviço de Telecom com a mesma
qualidade que as redes atuais de telecomunicações. ---------------------- O
trem tecnológico
Como
serão as telecomunicações do Brasil nos próximos anos?
A pergunta, natural, surgiu no painel que discutiu o planejamento e serviços
das telecomunicações, em uma tarde de debates da Cientec. O
futuro das telecomunicações depende, essencialmente, do desenvolvimento
tecnológico que, via de regra, é realizado fora do país,
afirmou Ivanil Bonatti, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação
(FEEC) da Unicamp. Percebia-se em suas palavras um misto de ceticismo e desapontamento. O
pesquisador aponta que o desenvolvimento tecnológico, em um país
carente de recursos financeiros, depende da ação do Estado,
acrescentando que, no Brasil, em um passado recente esta ação se
caracterizou pela criação de empresas de desenvolvimento, como a
Telebrás. Atualmente, em um modelo orientado para o mercado, o Estado limita-se
a uma ação reguladora dos agentes econômicos. Este modelo,
válido para os países economicamente desenvolvidos, é desastroso
para os países financeiramente dependentes que passam a ocupar o papel
de consumidores de tecnologia. Resumindo,
segundo Ivanil, o Brasil desceu do trem tecnológico e precisa voltar.
Espero que o bom senso tecnológico volte aos nossos governantes.
Suas palavras denotam, uma vez mais, a decepção com os rumos atuais
e a saudade dos tempos em que a Telebrás, por exemplo, investia em novas
tecnologias. Último
dos debatedores da mesa, o coordenador de engenharia elétrica do Instituto
de Computação da PUC-Campinas, David Bianchini, preferiu um discurso
mais filosófico, provocando ao debate. O planejamento não
é uma visão puramente técnica. Não basta exigir qualidade
de serviço, mas de vida, prognosticou. Não adianta serviço
de alta qualidade para pessoas que não sabem usá-lo. Vai ser um
fracasso. Queremos um país onde as pessoas não apenas deixem de
ser analfabetos digitais, mas onde também ganhem consciência crítica.
Não para serem escravizadas novamente. E pediu ao público
que não se esquecesse de uma questão: A quem vão atender
as transformações? A sociedade deve participar das discussões
e influir em seus resultados.
|
| |