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Brasil comemora
perda de um recorde:
o de cesarianas
Procedimentos caem de 34% dos nascimentos em 1998
para 25% em 2001; Chile passa à frente
ISABEL GARDENAL
O Brasil não é mais o recordista em cesarianas. Foi suplantado pelo Chile, que registrou 292 mil nascimentos (40%) por meio deste procedimento num total de 730 mil partos realizados entre 1995 e 2000. Segundo dados do Sistema Único de Saúde (SUS), a redução tornou-se mais evidente a partir de 1998, quando o índice de cesáreas era de 34%, caindo para 25% dentre os 3,3 milhões de partos em 2001.
Esses números serão apresentados pelo obstetra José Guilherme Cecatti, responsável pela área de Obstetrícia do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism), durante o simpósio internacional "Cesárea: Avaliação e Propostas de Ação", que ocorre em 5 e 6 de setembro na Unicamp (veja matéria nesta página).
Cecatti ressalta que não há informações para se fazer uma relação direta, mas esta redução importante coincide com uma medida adotada há quatro anos pelo Ministério da Saúde, fixando um limite de 40% nas cesarianas feitas via SUS em cada região, deixando de pagar a conta hospitalar do excedente.
Até então, a cesariana era realizada em 46% dos partos do Sudeste (1,3 milhão), em 43% (915 mil) do Centro-Oeste e em 42% (470 mil) do Sul percentuais acima da média brasileira de 37%. Por outro lado, ficavam abaixo da média o Norte (27% dos 285 mil partos), e o Nordeste (25% em 234 mil). Tais índices geraram, a partir da década de 70, a preocupação de autoridades d profissionais da saúde, Previdência e movimentos organizados de mulheres.
Em suas primeiras avaliações, o Ministério procurou controlar se uma provável redução de cesarianas faria crescer a morbidade e a mortalidade materno-fetais. Isso porque as cesarianas eram supostamente feitas em gestantes de alto risco. "Obviamente não seria este o efeito desejado, uma vez que se partia da premissa que um número elevado desses procedimentos eram feitos sem indicação", diz o obstetra do Caism.
O fato é que a diminuição de cesáreas nos hospitais públicos não trouxe aumento nas complicações. A letalidade materna até diminuiu no mesmo período. O avanço foi significativo, de acordo com Cecatti, embora persistisse a preocupação de que, quando considerados os partos financiados por convênio ou privados, esta queda não ocorreria. Pelo Sistema de Informação de Nascidos Vivos (Sinasc) do Ministério da Saúde, observou-se o contrário: uma redução nas cesarianas de 41% para 37% no último biênio.
Desejo da mulher - Para o médico José Guilherme Cecatti, as discussões hoje estão mais centradas na escolha do tipo de parto pela mulher. "Se a maior parte preferia a cesariana, porque ela era vendida como um produto de qualidade, atualmente, estabelecidos o valor do parto normal bem-feito e as possíveis complicações da cirurgia, a visão passa a ser mais favorável ao processo natural", comenta.
Dentre os últimos trabalhos que investigam a preferência das mulheres, Cecatti destaca dois principais: um realizado pelo Centro de Pesquisas Materno-Infantis de Campinas (Cemicamp) e outro pelo Núcleo de Estudos da População (Nepo) da Unicamp, coordenado pelo professor Joseph Potter, da Universidade do Texas. Este último aponta que, não obstante o extrato socioeconômico das regiões do Brasil e o tipo de convênio, aproximadamente 80% das mulheres expressaram o desejo de ter um parto normal, o que talvez possa ser extrapolado como atitude global. "Está claro que a cesárea está ligada à disponibilidade de tecnologia e não à qualidade da atenção", conclui o obstetra.
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