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Jornalismo on-line
ainda engatinha
Pesquisador conclui
que noticiário na Internet
está longe de ser unanimidade
ROBERTO COSTA
Não existe jornalismo on-line, mas, sim "em construção". A afirmação é do jornalista Ricardo Luís Nicola e parte de sua tese de doutorado defendida junto ao Departamento de Pós-Graduação em Multimeios do Instituto de Artes da Unicamp. Nicola pediu a 512 usuários da Internet, estudantes e profissionais de comunicação, que respondessem a um questionário com 14 perguntas qualitativas e quantitativas. Além de concluir que está longe de se chegar ao desejado jornalismo on-line, a maior parte de seus entrevistados não lê os jornais na rede.
Para o professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru esse fato derruba, em parte, mitos de que o jornal on-line acabaria com o jornal impresso. "É coisa ridícula e não vai acontecer", conclui. Além disso, segundo ele, um texto com 120 linhas de um jornal impresso é lido por muita gente. "Na Internet, ninguém lê texto tão longo assim."
O fato de os jornais de circulação nacional estarem na Internet não significa que se faça jornalismo on-line, conforme Nicola. Trata-se, na realidade, de suporte, de um banco de dados. Ninguém vem reescrevendo os textos para a mídia virtual. Normalmente, as pessoas lêem o jornal on-line e acabam retornando ao impresso, destaca Nicola. Outra constatação do jornalista é que "jornalista não lê os jornais na Internet. Ele entra no UOL mas dificilmente acessa a Folha".
Entre as conclusões do trabalho de Nicola, orientado pela professora Nelly de Camargo, está que "nas comunidades virtuais é que acontece o jornalismo on-line, mas com um perfil comunitário. O cibernauta se encontra e constrói sua identidade", diz. Para levantar estes dados, pesquisou comunidades como a dos negros, dos homossexuais, política, empresarial e religiosa. "Nestas comunidades, as pessoas têm segurança e não revelam quem são", explica Nicola.
Uma dessas comunidades pesquisadas, a CommonBond (xjwbrazil.tripod.com), formada por gays, lésbicas, travestis, transexuais e simpatizantes, que são ou já foram Testemunhas de Jeová, mostra o contra-senso. Mesmo com a respectiva orientação sexual, a liberdade pregada pela mídia on-line permite a eles que continuem falando para as pessoas "aceitarem a Jesus", apesar dos dogmas da religião.
Para traçar o cenário de sua tese de doutorado, Ricardo Nicola criou algumas situações, que vão do histórico do jornalismo on-line, a que denominou "do leitor para o ciberleitor". Passa pelo "ciberleitor para o cibercidadão", que não está atrás de notícias, mas compartilhando, o caso das comunidades virtuais. Por fim avaliou a transformação do "cibercidadão em cibernauta", o usuário que compra na rede.
Para este último, concluiu que se trata de um usuário que não tem tempo para nada: "é lacônico, lê blocos, geralmente compulsivo, pensa nos lucros e vantagens antes de tudo e o seu sinônimo é a segurança".
Modelo para jornalismo on-line? Nicola cita www.orj.org (Online Jornalism Review), "o que se pretende de uma revisão de jornalismo on-line". Mas no Brasil não há um único padrão. "Existe jornal on-line à medida que não fazemos publicidade dos jornais impressos", cita Ricardo.
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