9 a 15 de setembro de 2002
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A psicóloga Maria Angélica Sadir: escala adaptada de avaliaçãoPsicóloga revê
desenvolvimento
de portadores de Down

ISABEL GARDENAL

Como se desenvolvem os portadores da síndrome de Down, que causa retardo mental e lhes atribui 47 cromossomos, um a mais que o normal? A psicóloga Maria Angélica Sadir, do ambulatório de Síndrome de Down do HC da Unicamp, tem uma proposta: utilizar uma escala adaptada que avalia o desenvolvimento dos portadores da doença. 

Esta conclusão, contida na sua dissertação de mestrado "O desenvolvimento do comportamento das crianças com síndrome de Down no primeiro ano de vida", orientada pela professora Denise Norato, da Faculdade de Medicina da Unicamp, dá a entender que, se as instituições tiverem uma escala adequada, os pais terão respostas mais precisas, do que empregar modelos fora de contexto.

Com uma escala brasileira, criada pela professora Elisabeth Pinto, da Universidade de São Paulo, Angélica avaliou 60 portadores da doença com até um ano de vida, fase decisiva no desenvolvimento da criança. Nesta idade, está comprovado que alguns comportamentos motores, como sentar-se, arrastar-se, são os mais comprometidos. No estudo, por exemplo, 83% das crianças tiveram este atraso, seguidas de 81% que apresentaram comportamento de não atender a solicitações como bater palmas e dar tchau.

Em campo - A psicóloga selecionou 44 crianças do Ambulatório de Síndrome de Down e percorreu a região de Campinas para completar sua amostra, buscando o apoio das Apaes (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), chegando a outras 16 crianças com até um ano de vida.

As crianças foram separadas em dois grupos: com e sem intercorrências, diferentemente dos estudos usados, que não fazem esta distinção. Em seguida, foram avaliados 64 comportamentos, divididos em oito grupos (ver quadro nesta página). 

Exames - As características dos portadores da síndrome, notórias já ao nascer e confirmadas por cariótipo – exame genético de sangue – são em geral a hipotonia (flacidez muscular), olhos puxados, pescoço achatado, prega palmar única e dedos dos pés afastados. Para Angélica, a hipotonia talvez explicaria por que as crianças não sentam, não engatinham e têm atraso motor. "Mas pode ser que essa falta de prontidão se deva ainda à cognição."

Além do cariótipo, no HC a criança faz hemograma, exame de tireóide (20% têm hipotireoidismo) e cardiológico (40% têm o problema), entre outros, acompanhada pelo Grupo de Acolhimento Interdisciplinar e de Orientação (Gaio) no mesmo ambulatório. 

Há três décadas, a expectativa de vida dos portadores da síndrome era de 40 anos e, hoje, está em torno de 60 anos.

MITOS E VERDADES
A criança com a síndrome tem um atraso significativo
Na pesquisa, três não apresentaram déficit. As meninas se saíram melhor que os meninos, sobretudo no comportamento de linguagem e de coordenação motora fina (destreza em atividades minuciosas). 

Crianças com hipotireoidismo, cardiopatias e com internação prolongada têm um atraso maior
A análise estatística dos dois grupos não demonstrou isso. Uma hipótese de Angélica Sadir é que essas crianças estão sendo avaliadas mais precocemente nos serviços especializados e, por isso, todas tiveram avanços satisfatórios na avaliação.

A cognição é pouco notada no primeiro ano de vida
Angélica constata que, quanto mais estimulado, o portador da Síndrome de Down poderá levar uma vida mais independente. "Numa criança que explora o ambiente, brinca e é incentivada, o seu cognitivo melhora bastante."