Edição 190
16 a 22 de setembro de 2002
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Primeiros capítulos

Livro investiga raízes da televisão no Brasil e lança luz sobre a produção teatral paulista entre 1940 e 50

ANTÔNIO ROBERTO FAVA

Um vasto painel da formação histórica e cultural do país, por meio do teatro e da televisão em São Paulo, do início do século até a década de 50. A definição é do professor e ex-ator de cinema e televisão David José Lessa Mattos, que acaba de lançar um livro sobre o assunto: O Espetáculo da Cultura Paulista - Teatro e TV em São Paulo (Editora Códex, 2002). Resultado de sua tese de doutorado, o ponto de partido do livro são dois acontecimentos que David José considera seminais: a inauguração do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), em 1948, e da PRF-3 TV Tupi- Difusora (1950), considerada a pioneira das emissoras de televisão no Brasil.

Oduvaldo Viana (em primeiro plano) durante filmagem em 1948; Walter Avancini, com 12 anos de idade, ao lado da atriz Lia Aguiar; Assis Chateaubriand, de terno branco, recebe abraço de Lucas Nogueira Garcez, na inauguração da TV Tupi-Difusora, em 1950; Cassiano Gabus Mendes gesticula nos estúdios da TV Tupi no bairro do Sumaré

"Tentei reconstruir historicamente esse período, que vai do início do século até o final da década de 50. Preocupo-me com as gerações mais novas, impossibilitados de compreender o que se passava no país, como se desenvolveram histórica e culturalmente o rádio e a televisão em virtude de certos acontecimentos políticos. Como o período em que durou a ditadura militar, por exemplo", diz David, que desde 1984 é professor do Instituto de Artes (IA) da Unicamp. Ele explica que o golpe militar de 1964 prendeu operários, estudantes e professores, além de líderes sindicais e camponeses. Exilou políticos e militares contrários ao regime.

"Por sorte ou contingências, a área cultural os anos 60 foi maravilhosa, período em que se produziram os mais significativos espetáculos teatrais, o aparecimento do cinema novo, tendo como expoente o diretor Nelson Pereira dos Santos. Tivemos a MPB, representada por Caetano Veloso e Chico Buarque. Enfim, uma efervescência cultural notável. Curiosamente, pode-se observar que de 64 a 68 nunca tivemos a interferência direta dos militares, que não tocaram na produção artística e cultural do país", lembra David. No entanto, esse entusiasmo durou até que, em 13 de dezembro de 68, veio o famigerado AI-5, permitindo aos governos militares plenos poderes e completa liberdade de legislar em matéria de política, eleitoral, econômica e tributária.

Um outro tema amplamente abordado por David José – o primeiro Pedrinho da série do Sítio do Pica-pau Amarelo, na antiga TV Tupi, nos anos 50 – refere-se à história da telenovela. "Um dos produtos mais característicos da indústria cultural que se organizou no Brasil a partir dos anos 60. A TV Tupi-Difusora, centrada principalmente na realização de programas de televisão e de shows musicais - com destaque tanto para a música popular quanto para a erudita - lançou as bases da produção artística da televisão brasileira, que foi acompanhada pela TV Paulista, TV Record e outras emissoras".

É interessante observar que a novela da época não tinha o peso e a importância que tem hoje. A programação daquele tempo privilegiava shows musicais, que constituíam os principais atrativos do telespectador. "As telenovelas eram curtas, apresentadas em apenas dois capítulos semanais, geralmente com duração de quinze minutos cada, e dificilmente podem ser comparadas com as novelas de hoje", explica o professor.

SERVIÇO
Título: O Espetáculo da Cultura Paulista-Teatro e TV em SP
Autor: Davi José Lessa Mattos
Páginas: 271
Editora: Códex
Preço: R$ 33,00