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A caminho da fusão nuclear
A natureza sempre foi motivo de inspiração para as pesquisas científicas. Reproduzir em laboratório alguns de seus fenômenos continua sendo um grande desafio. Membros do Grupo de Física de Plasmas e Fusão Termonuclear Controlada, também do Departamento de Eletrônica Quântica do IFGW, integram um seleto time de especialistas que se dedicam, em várias partes do mundo, ao estudo da fusão nuclear, tecnologia que promete ser uma fonte inesgotável de energia com baixo impacto ambiental. Por meio do confinamento magnético do plasma, processo que "imita" a produção de energia pelas estrelas como o Sol, os cientistas já conseguem gerar descargas elétricas. A missão a ser enfrentada ao longo dos próximos anos é comprovar que essa fonte alternativa é viável economicamente.
De acordo com o professor Munemasa Machida, que coordena o Laboratório de Plasmas do IFGW, pioneiro no Brasil nessa linha de pesquisa, a comunidade científica internacional está a poucos passos de atingir esse objetivo. Ele lembra, porém, que em ciência isso pode levar algumas décadas. "Acredito que dentro de uns 50 anos nós já poderemos ter nossas casas abastecidas por esta energia alternativa", prevê. O especialista explica que em países como Estados Unidos, Canadá, Japão, Rússia e integrantes da Comunidade Européia, os estudos em torno da fusão nuclear estão muito avançados. Eles participam de um consórcio formado exatamente com esse objetivo e que conta com investimentos da ordem de bilhões de dólares.
No Brasil, diz o professor, as pesquisas encontram-se num estágio intermediário. "Temos que ampliar o esforço brasileiro para fazer parte das nações que dominam essa tecnologia. Trata-se de uma ação estratégica, que assegurará um futuro melhor para a sociedade", afirma Machida. Atualmente, o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) está analisando a retomada da implantação do Laboratório Nacional de Plasma, medida que daria um grande impulso aos estudos na área.
Copo d'água - O equipamento que mais ilustra o nível de avanço das pesquisas sobre o plasma é o tokamak, que em russo significa "câmara toroidal magnetizada". É numa dessas máquinas que os especialistas do IFGW desenvolvem seus experimentos. Uma das vantagens dessa tecnologia sobre a que é empregada pelas usinas nucleares convencionais, conforme Machida, é que ela não utiliza como fonte energética o urânio enriquecido, elemento radiativo e portanto altamente perigoso, mas sim o deutério, presente na água. Ao superaquecer a água, os cientistas separam as suas moléculas, produzindo assim o átomo ionizado (gás ionizado), que é o plasma.
Em seguida, o plasma, que está confinado numa câmara, recebe uma carga maior de energia. O resultado é fusão de suas partículas, o que gera uma terceira partícula mais leve do que as que lhe deram origem. Essa conversão de matéria em energia reproduz o mesmo processo que acontece na radiação solar, conforme o professor Machida. "Trata-se de uma energia pura e não poluente. A fissão, método usado pelas usinas nucleares, gera lixo atômico. Quando promovemos a fusão de átomos de hidrogênio, isso não ocorre. O subproduto do processo é o hélio, um gás nobre e inerte", explica.
Também não há o risco de explosões e vazamentos porque o plasma só permanece quente enquanto está confinado. No caso de haver quebra da câmara, por exemplo, o reator é automaticamente desligado. Além disso, destaca o pesquisador do IFGW, o combustível para a produção de energia a partir da fusão nuclear é abundante, barato e reaproveitável. Afinal, há água em praticamente todos os lugares. Só para se ter uma idéia do potencial energético dessa tecnologia, basta saber que um copo d'água deuterada daria para gerar 1 gigawatt de eletricidade, o que é suficiente para abastecer 5 mil residências com consumo médio de 200 kw ao mês.
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