191 - ANO XVII - 23 a 29 de setembro de 2002
Jornais anteriores
Unicamp Hoje
PDF
Acrobat Reader
Unicamp
Assine o JU
8
Capa
Indústria
Autonomia
Verba
Biblioteca
Fusão Nuclear
Aço
Educação
História Universitária
Acupuntura
Saúde
Na Imprensa
Depressão
Jovem Cientista
Sarao
Vida Acadêmica
Agronegócio
Nova diretoria
Á
frica
Incidência de toxocaríase
é alta na periferia

ROBERTO COSTA

Córrego do Jardim S. Marcos: um em cada cinco moradores da região tem o parasitaOs moradores de favelas cortadas por córregos ou pequenos rios estão sujeitos a diversos fatores de risco. Um deles é a convivência diária com as fezes de cães e gatos espalhadas pelas vielas. Dentre as doenças parasitárias passíveis de serem transmitidas por animais domésticos destaca-se a Toxocaríase Humana, que pode levar a sérios problemas de saúde e algumas vezes o ao comprometimento da visão do indivíduo. Levantamento realizado pelo ecólogo Francisco Anurama Filho em três bairros periféricos de Campinas, os jardins Campineiro, Santa Mônica e São Marcos, mostrou que a cada cinco moradores pelo menos um tem o problema. Destes, 66,7% são crianças com até 10 anos.

A novidade da pesquisa de Anaruma, sua tese de doutorado junto ao Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, é que os dados da toxocaríase até então eram originados de compilação de dados já existentes, de pessoas internadas em hospitais ou a demanda espontânea de unidades básicas de saúde. Segundo levantamento realizado nos arquivos do Instituto Adolfo Lutz pelo orientador da tese de Francisco, Pedro Paulo Chieffi, de 2025 exames, a média de positividade foi de 3,6%. Anaruma fez dois levantamentos de base populacional entre 1999 e 2000 nos três bairros. Visitou 40 domicílios e 138 moradores fizeram coletas de sangue para imunoensaio (Elisa). A população fazia parte de um universo de 5.000 pessoas e 940 famílias.

A ocorrência de infecção humana pelo Toxocara estava presente em 23,9% das amostras na primeira avaliação, número que caiu para 20,9%, um ano depois. Paralelamente foram colhidas 75 amostras do solo das favelas. Foram confirmados indíces de 12,3 e 14,0% de contaminação ambiental por ovos de Toxocara, em igual período.

O Toxocara não é um parasita intestinal humano. A contaminação ocorre acidentalmente e o verme fica perdido quimicamente no organismo, provocando a Síndrome da Larva Migrans Visceral ou Ocular. O quadro clínico dos pacientes com toxocaríase depende de diversos fatores como o número de larvas que infectou o indivíduo e a resposta imunológica do hospedeiro, estimulada pela presença de larvas no organismo.

A visceral caracteriza-se por febre, alterações pulmonares, palidez e edemas, entre outros sintomas. A ocular pela presença de larvas ou restos larvários no globo ocular, normalmente com envolvimento unilateral. A lesão mais comum encontrada é a endoftalmia crônica, correspondendo a metade dos casos. Pode ainda ocorrer acometimento da coróide, vítreo e retina e, em alguns casos mais severos, resultar em perda da visão.

Francisco Anaruma Filho, docente e coordenador de curso na Associação Cultural e Educacional de Garça, explica que o estabelecimento de política pública de controle antiparasitário nos cães (principalmente nos jovens) pertencentes à comunidade com o problema é uma solução. Poderia ainda aproveitar um dia de vacinação anti-rábica para o procedimento. O recolhimento de cães vadios, embora complicado em uma favela, seria outra atitude, além de delimitar e quantificar o problema por meio de inquéritos sorológicos na população, da educação sanitária e de cursos de atualização aos profissionais da saúde. O problema do Toxocara não se restringe a áreas de favelas. Pode atingir também escolas e creches em que crianças tenham contato direto com o solo que estejam contaminados com fezes de cães e gatos parasitados.