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Medicina inspira
poesia de Paulo Madureira
Escreveu os primeiros poemas aos 18 anos. Aos 25, tinha pilhas de inéditos acumulados até terminar o curso de medicina. Depois disso, deu um tempo para a literatura. Agora, o médico infectologista Paulo Madureira, do HC da Unicamp, selecionou 160 trabalhos, e reuniu-os no livro de poesia O eu e os nós, que acaba de ser lançado pela Editora Hucitec.
O médico explica que seu livro de estréia revela situações simples do cotidiano, de forma lírica, quando os textos se referem a temas familiares, às ações corriqueiras observadas sob um viés peculiar e tratados de forma original. "O duplo sentido, que normalmente uso, perpassa -- senão todos -- por diversos poemas do livro. Como a solidão, a vida, a alegria e a felicidade, por exemplo", diz o médico-poeta. A obra destaca temas como os de cunho filosófico, "que tratam de questões essenciais, como matéria versus espírito, solidão, memória, tempo, busca de sentido do ser, da vida; e os de caráter estético, que tratam de questões relacionadas à palavra e ao sentido essencial da poesia", como diz no prefácio a professora Maria Helena Grembecki.
Paulo Madureira diz que não tem nenhuma maneira peculiar de trabalho. "O surgimento da idéia, do conteúdo inicial do poema, é quase sempre a base da inspiração. No entanto, acredito pouco no fator inspiração. O difícil mesmo vem depois, um trabalho que exige dedicação, paciência, concentração e muito suor, que é o trabalho de acabamento do poema", diz o médico, professor do departamento de Medicina Preventiva da FCM. Ele explica que às vezes até mesmo as poesias mais curtas chegam a ocupar várias laudas. Paulo tem o hábito de escrever os seus textos a mão. Depois digita no computador e, às vezes, deixa-os dependurado diante da escrivaninha num processo de decantação. "Pego, corrijo, corto, acrescento, corto... Invariavelmente faço várias versões até verificar que já não tenho mais nada a acrescentar", conclui.
Inspiração - Os corredores de um hospital são um ambiente onde o sofrimento e a dor são constantes. No entanto, para o médico é um lugar que pode ser também fonte de inspiração -- ainda que o resultado final possa ser um poema triste. De resto, tudo que o rodeia pode servir de tema: "Normalmente são as coisas da vida, em casa, no trabalho, a natureza. Não raro, surge um tema na cabeça e você fica por semanas pensando. Uma frase ou a imagem de um paciente podem se transformar num novo texto. Basta que para isso estejamos atentos", explica.
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