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Material reduz riscos
de coagulação de sangue
MARIA ALICE DA CRUZ
O engenheiro mecânico Juan Carlos Valdés Serra desenvolveu um revestimento para tubos de PVC utilizados em procedimentos cirúrgicos. A função do material testado pelo pesquisador é reduzir a possibilidade de coagulação nos tubos utilizados para conduzir o sangue de transplantados até o oxigenador durante a cirurgia. Segundo o professor da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp Celso Arruda, orientador do projeto de doutorado, a preocupação dos pesquisadores foi desenvolver um material que pudesse revestir todas as superfícies com as quais o sangue possa ter contato fora do corpo. Ele explica que o sangue pode coagular ao se misturar com materiais estranhos ao organismo, como é o caso do PVC atualmente utilizado.
O produto desenvolvido por eles foi testado por profissionais do Hemocentro da Unicamp, que fizeram estudo de hemocompatibilidade in vitro, apresentando resultados altamente positivos. A utilização do revestimento em processos industriais de fabricação de equipamentos médico-hospitalares depende ainda de um teste para se assegurar a inalteração da estabilidade física e química da película por até cinco anos.
A base do revestimento criado pelos pesquisadores é heparina e cloreto de benzalcônio. A heparina é um componente produzido pelo corpo que está presente nos pulmões e no fígado capaz de retardar a coagulação do sangue. Unida à capacidade de aderência do cloreto de benzalcônio, que está presente nos fármacos germicidas, transformou-se no revestimento desenvolvido por Juan. O processo deve ser concluído com o tratamento da superfície com um plasma de baixa pressão. O resultado é uma camada muito fina de um mícron, com uma textura próxima do tecido vascular, que passou a atuar como isolante do plástico de PVC. "A película formada promove uma resistência muito grande à formação do trombo", explica o orientador.
Atualmente, o método utilizado por perfusionistas -- profissionais responsáveis pela retirada e devolução do sangue -- para evitar a formação de trombos é a adição de heparina ao sangue retirado. A droga foi escolhida para este fim por apresentar poucos efeitos colaterais e ser bem tolerada pelo organismo, mas alguns estudos, de acordo com informações da tese, comprovam que o uso não-fracionado dessa substância pode resultar em hemorragias e tromboses fatais. O revestimento pode também favorecer a redução do uso de heparina diretamente no sangue.
Celso Arruda explica que as condições agressivas das paredes internas dos tubos assim como o tempo elevado de permanência do sangue em contato com materiais estranhos ao organismo humano, como é o caso dos plásticos, pode comprometer o procedimento cirúrgico. Uma das reações mais importantes pode ser uma resposta inflamatória sistêmica ou generalizada chamada de síndrome de pós-perfusão (processo de retirada do sangue)."Esta reação é exacerbada em crianças de baixo peso", esclarece. Esta resposta inflamatória pode ser caracterizada por aumento da permeabilidade vascular, formação de edema, lecocitose, febre, vasoconstrição periférica, hemólise e maior suscetibilidade às infecções e disfunções pulmonar e renal.
A qualidade da heparina, segundo o professor Celso Arruda, foi descoberta acidentalmente, no início do século 20, por um estudante de medicina que realizava investigações com extratos de tecidos do coração e do fígado, buscando substâncias tromboplásticas (cicatrizantes). A tese desenvolvida por Valdés Serra teve inspiração em uma pesquisa orientada por Celso Arruda na qual o engenheiro mecânico Waldyr Novello, co-orientador do trabalho, desenvolveu um oxigenador infantil de plástico descartável como substituto dos antigos oxigenadores de disco fabricados em inox. Apesar da eficiência na substituição dos antigos equipamentos, os novos oxigenadores ainda estimulavam a formação de trombos. A pesquisa de Juan, desta forma, pretendeu dar uma aplicabilidade também aos equipamentos de plástico testados no projeto de Novello.
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