JU - Apesar
de nova, a universidade brasileira desempenhou
um papel fundamental na implantação
de políticas públicas e na qualificação
do quadro político do país. O que
representa, para o senhor, a reforma da previdência
para a universidade?
Ricardo Antunes Vou começar
com uma consideração mais geral.
Vejo com muita reserva o futuro do país,
se essa política continuar a ser seguida.
Meu comentário é comparativo. Quando
Fernando Henrique tomou posse no seu primeiro
mandato, ele enfrentou a greve dos petroleiros.
Aquela greve estampou a fisionomia do governo
FHC. Para aqueles que não tinham até
aquele momento uma intelecção plena,
aquela greve foi esclarecedora.
JU Quais são
as semelhanças com o cenário atual?
Ricardo Antunes É triste,
mas a greve do funcionalismo e o embate que o
governo Lula está travando contra o estado
em sua dimensão pública, contra
a res pública [coisa pública],
vai dar a fisionomia do governo. E esta reforma
não está na história passada
ou recente do PT e nem no seu programa. É
triste constatar que a primeira reforma do governo
Lula é em verdade uma contra-reforma
da imprevidência. Destrói direitos
sociais de um segmento da classe trabalhadora
organizada, mas que não é privilegiada.
É evidente que uma minoria tem altos salários.
Mas isso decorre de um traço deformado
do Estado brasileiro, que poderia ser claramente
controlado, bastando que se implementasse a legislação
coibidora existente. É triste também
por satanizar o funcionalismo público,
criando um aparente inimigo. Mas os inimigos reais
são outros e, quando o governo age desse
modo, deixa de enfrentar os verdadeiros inimigos.
JU Quais seriam esses
inimigos?
Ricardo Antunes Via recentemente
manifestações da imprensa que diziam
que agora sim o mercado, em especial o sistema
financeiro internacional, está mais satisfeito
porque todo o serviço da dívida
será pago com essa reforma da previdência.
Essa é a questão essencial. O governo
Lula, na sua primeira reforma, subordinou-se servilmente
a uma contra-reforma que é da alma, do
ideário e da pragmática neoliberais.
Nós poderíamos esperar do governo
do PT até quatro anos, ninguém está
exigindo mudanças de uma vez só,
mas os sinais teriam que ser outros. Por exemplo:
nós vamos enfrentar corajosamente a questão
da dívida interna e externa e dos juros;
vamos enfrentar a questão da concentração
da estrutura agrária, a explosão
urbana e a falta de habitação, a
questão do arrocho salarial, a financeirização
da economia, a oposição à
Alca, à autonomia do Banco Central, dentre
tantas outras questões. O problema é
que já estamos entrando no nono mês
de governo e os sinais são de que o capital
financeiro está feliz, o FMI está
satisfeito e os movimentos sociais sentindo-se
órfãos e em boa medida incrédulos.
JU Qual será,
na sua opinião, o resultado dessa política?
Ricardo Antunes A res pública,
a previdência pública, a saúde
e a educação públicas vão
perder. Não só perderão os
trabalhadores dessas respectivas atividades, como
a população assalariada pobre vai
perder. Quem procura a previdência, a escola
e o hospital públicos? É a população
trabalhadora. É triste imaginar que o papel
a que essa esquerda se prestou é de criar
um sistema que vai gerar um manancial de recursos
que alguns economistas dizem ser superior a todo
o volume de privatizações do governo
FHC. Esse volume de dinheiro vai para os fundos
de pensão, para uma lógica financista
e especulativa. O governo vai transferir um enorme
volume de recursos para os fundos privados de
pensão.
JU - O senhor acha que
a reforma vai afastar os docentes da universidade
pública? E para as futuras gerações,
quais seriam os efeitos?
Ricardo Antunes - A universidade obviamente
vai sofrer com isso. Por que muitos de nós
nos dedicamos integralmente à universidade
pública? Pelo ideal de que no espaço
público a reflexão científica
é livre, menos permeada pelas injunções
de mercado. Se sabíamos que nossa remuneração
era limitada quando comparada à remuneração
do mercado, era porque tínhamos certeza
de que, depois de uma vida dedicada ao ensino
público e à pesquisa, teríamos
compensações por meio de um sistema
de previdência pública que você
pagou durante décadas de ativa. Tudo isso
cai por terra. Além disso, a carreira universitária
(o nosso RDIDP) vai ser destruída. A carreira
pública será duramente afetada.
É evidente que as novas gerações,
quando olharem uma carreira pública desmontada,
arrebentada, precarizada e sem perspectiva de
uma aposentadoria pública, vão buscar
sua alternativa no admirável mundo
do mercado. As conseqüências
para as universidades serão grandes. Minha
expectativa é de que esse movimento do
funcionalismo público consiga pelo menos
atenuar, diminuir essas conseqüências
nefastas, mesmo que a alternativa hoje mais plausível
seja de vitória do governo no Senado, órgão
que é muito mais suscetível às
pressões do capital financeiro, do mundo
produtivo e dos latifúndios, do que do
mundo do trabalho. O governo Lula, em nenhum momento
da campanha, disse que viria a ser o paladino
do neoliberalismo, contra a res publica
e em particular, contra a universidade pública.
JU - O senhor acha que
ele traiu as diretrizes do partido? A campanha
política já não sinalizava
que o PT assumiria posições mais
conciliatórias?
Ricardo Antunes Sim, houve uma mutação
visceral, profunda no PT, antes e depois das eleições.
Trata-se de uma questão muito complexa
que aqui vamos apenas indicar. Em primeiro lugar,
na década de 90 houve uma verdadeira tempestade
mundial, com fortes conseqüências para
a América Latina e para o Brasil: neoliberalismo,
reestruturação produtiva em escala
intensificada, fim do Leste europeu, social-democratização
da esquerda, neoliberalização da
social-democracia. Foram de tal intensidade que
o PT não passou ao largo delas. Sofreu
essa mutação e chegou, ao final
dos anos 90, como um partido cada vez mais distante
dos movimentos sociais do campo e da cidade, de
onde ele se originou. Cada vez mais se tornou
um partido institucionalizado, um Partido da Ordem.
Nesse sentido não é uma completa
surpresa essa conversão do PT. Mas é
uma surpresa a virulência, a intensidade
e a rapidez com que isso se deu. Ao invés
de resistir, age como um paladino dessa ordem.
Em segundo lugar, o PT integrava uma esquerda
que tinha como maior força seu vínculo
com as lutas sociais. Mas sempre foi enormemente
lacunar no plano da formulação teórica.
Em seu ideário, sempre oscilou entre um
socialismo muito vago, uma social-democracia de
espectro variado e um republicanismo radical.
JU - O senhor quer dizer
com isso que essas mudanças seriam previsíveis?
Ricardo Antunes Costumo dizer que
a vitória eleitoral em 2002 foi tardia.
A vitória que não veio em 1989,
ano que condensou uma década que se costuma
equivocadamente chamar de década
perdida. Talvez para o capital, mas para
a classe trabalhadora e para as lutas sociais
foi uma das décadas mais ricas da história
social e política do país. Bastaria
dizer que PT nasceu em 1980, a CUT em 1983 e o
MST, em 1985/6, houve a campanha das Diretas,
a Assembléia Constituinte etc. Os três
primeiros exemplos são as melhores expressões
orgânicas do mundo do trabalho. A disputa
Collor X Lula era a condensação
política dessa impulsão social.
A vitória veio uma década e meia
depois, 2002, num momento de refluxo. O PT fez
concessões de toda a ordem para chegar
ao poder. A campanha eleitoral parecia uma campanha
americanizada era a prevalência do
marketing em relação às propostas
políticas concretas. E o resultado foi
a vitória do PT com um programa bastante
alterado e sem aquela ênfase em mudanças
profundas que o país necessitava. Ainda
assim o eleitorado acreditava em Lula e no PT,
por serem ambos herdeiros dessas lutas sociais
nos anos 80 e da resistência ao neoliberalismo.
Mesmo o PT e a CUT, passando pela mutação
nos anos 90, cada um a seu modo resistiu ao neoliberalismo.
Ambos tentaram, por exemplo, dificultar as privatizações
e o desmonte da universidade. Quando o PT chegou
ao poder em 2002, esse quadro se altera. Essa
tendência de direitização
se acentuou intensamente e isso criou uma situação
muito difícil para a esquerda.
JU - Quais seriam as conseqüências
para a esquerda, que invariavelmente já
carrega a pecha de historicamente cindida?
Ricardo Antunes - Como podemos explicar
para o eleitorado que, em pouco mais de seis meses,
o PT está fazendo as (contra)reformas do
governo Fernando Henrique com mais virulência?
As conseqüências disso para a esquerda
são grandes e negativas.
JU - E para o governo?
Ricardo Antunes É evidente
que, se mantido esse curso, o governo Lula estará
cavando sua própria derrota, pois daqui
a quatro anos voltará uma direita que se
elegerá em cima dos cacos que terão
restado.
JU - O senhor não
acha prematuro o vaticínio? Não
existe a possibilidade de ocorrer uma reviravolta
ou até mesmo uma espécie de depuração?
Ricardo Antunes A América
Latina não suporta mais neoliberalismo,
venha de Menem, de FHC, de Gutierrez, de Lula,
venha de onde vier. Por isso, na Argentina, é
possível perceber que o governo Kirchner,
mesmo não tendo um passado de lutas sociais
como o de Lula, vem tomando medidas que mostram
que outras alternativas são possíveis.
Claro que o quadro argentino não é
igual ao do Brasil. Mas, atenção:
fazendo como o Lula está fazendo, na primeira
crise internacional cujo epicentro seja no Brasil,
vamos perceber a enorme vulnerabilidade dessa
política.
JU - O que o faz antever
um cenário convulsionado?
Ricardo Antunes É ilusão
imaginar que, sendo dócil, você conquista
os capitais financeiros globais. Quando mais servil
é a política econômica, mais
os capitais globais exigem e claramente vão
pressionar o governo Lula num momento de maior
tensão social. E o governo parece não
perceber a erosão de parte da sua base
social, que já começou com os assalariados
do setor público. E é risível
imaginar que ele será sustentado pelos
capitais financeiros transnacionais. Como você
vai segurar um país com o desemprego aumentando?
O sistema produtivo está parado, e a violência
toma conta das grandes cidades e do estado brasileiro.
Nesse quadro, a falácia espetáculo
do crescimento é quase risível.
Sabemos que, com as enormes mutações
no mundo do trabalho, o crescimento não
é sinônimo direto de aumento expressivo
de emprego. Claro que crescendo tende a haver
um aumento do emprego, mas o nível de desemprego
no Brasil é de tal brutalidade, que é
preciso uma política de desenvolvimento
ancorada nos interesses da maioria da população
assalariada, completamente contrária à
que vem sendo levada a cabo pelo Palocci.
JU - No caso do surgimento
de uma nova esquerda, qual seria o seu papel e
em que campo atuaria?
Ricardo Antunes Ela será
herdeira dos anos 80, dessas lutas sociais, recusando
esse movimento de institucionalização
à la Terceira Via, à la Tony Blair,
à la New Labor. Sabemos que a clássica
social-democracia foi completamente dizimada na
Europa, que foi seu berço. E torna-se uma
idéia fora de lugar imaginar que a social-democracia
possa encontrar seu leito natural na América
Latina desertificada. O desafio maior será
reinventar uma esquerda social que seja capaz
de articular com vivacidade a luta social e a
luta política, neste início do século
21. Há sinais disso em várias partes
do mundo desde Seatlle, Nice, Genova, Florença,
Praga e que expressam essa rebeldia frente
à destrutividade atual, quer representando
forças sociais do trabalho, quer representando
forças sociais que foram de algum modo
expulsas do trabalho, mas que têm vínculos
com as classes trabalhadoras. E esse é
também o desafio que vai se colocar para
o sindicalismo brasileiro.
JU - Como o senhor avalia
o papel desempenhado pela CUT nos recentes acontecimentos
envolvendo a reforma da previdência?
Ricardo Antunes Ela parece, em sua
cúpula, como um apêndice do governo.
A CUT só começou a dizer que era
parcialmente contra a reforma da previdência
quando muita água já tinha rolado.
Ela não teve participação
efetiva em nenhuma nas manifestações
contra a previdência. E qual é grande
arma do governo Lula para os sindicatos?
É implementar aquilo que podermos chamar
de capitalismo sindical. A CUT daria um salto
de qualidade, tornando-se sócia,
partícipe dos fundos de pensão,
um agente interessado na especulação
financeira. É elucidativo ver o exemplo
de parte importante do sindicalismo norte-americano
e europeu. Configura-se como um sindicalismo
de negócios financeiros, que está
preocupado não mais com o salário
e os direitos da classe trabalhadora, mas com
as ações da bolsa. Seria, é
bom antecipar, a perversão completa do
sindicalismo brasileiro.
JU - O senhor acha que
a CUT caminha para isso?
Ricardo Antunes Não tenho
dúvidas de que os setores hoje dominantes
da CUT caminham para essa direção.
Por que a CUT não foi visceralmente contra
essa reforma da previdência? Porque muitos
segmentos estão preparando-se para entrar
nessa grande simbiose financeiro-sindical.
JU - Mas dá para
generalizar?
Ricardo Antunes Não, a CUT
abriga uma esquerda importante e conseqüente.
São vários sindicatos comprometidos
com lutas sociais. É engano imaginar, por
exemplo, que os sindicatos do funcionalismo público
vão desaparecer. Eles vão passar
por uma nova fase: haverá um embate com
o governo, que no passado recente era seu principal
aliado.
JU - Nessa linha de raciocínio,
a depuração não vai se dar
apenas no nível da esfera política,
mas também no campo ideológico?
Ricardo Antunes Seguramente. A era
taylorista e fordista que dominou o Brasil dos
anos 30 até recentemente e em certo
sentido ela ainda se mantém era
dominada por empresas verticalizadas, às
quais desenharam-se sindicatos verticais. O sindicato
social-democrático é vertical. O
sindicalismo brasileiro tem, também, historicamente,
uma estrutura verticalizada. O mundo do capital
dos nossos dias horizontalizou-se, na medida em
que terceirizou-se enormemente. O capital se esparrama
pelas suas redes. O sindicato que deve nascer
deve ser profundamente horizontalizado e desverticalizado.
JU - O que o moveria?
Ricardo Antunes O caráter
polissêmico de sua representação.
Ao mesmo tempo vai ter que representar o trabalhador
e a trabalhadora; os trabalhadores/as estáveis,
os trabalhadores semi-precarizados, precarizados
(terceirizados) até chegar nos desempregados,
que também devem ser objeto da ação
organizativa do sindicato. O sindicato deve ser
hoje, por isso, contemporaneamente de classe.
Precisa ser capaz de atar as diversas pontas que
compõem a heterogênea classe trabalhadora
brasileira. Isso vai permitir a reaparição
de um (novo) tipo de sindicato que faz, ao mesmo
tempo, luta social e luta política, é
menos institucionalizado e menos verticalizado.
JU - O senhor acha que
há espaço no Brasil para vertentes
de atuação tão distintas?
Ricardo Antunes Sem dúvida.
Um, seria o sindicalismo negocial, o capitalismo
sindical dos fundos de pensão. O outro,
um sindicalismo mais comprometido com o cotidiano
das lutas sociais que emergem da classe trabalhadora.
E, no meio disso tudo, uma burocracia sindical
nefasta que vai ficar oscilando entre a direita
sindical e as benesses do Estado.
JU - Na Europa, existia
uma expectativa de que a vitória de Lula
pudesse resgatar alguns dos paradigmas da esquerda...
Ricardo Antunes No momento em que
a social-democracia vive sua situação
mais crítica, derrotada na Áustria,
na Itália, em Portugal, a vitória
de Lula foi saudada como a vitória da esquerda.
Mas as primeiras medidas do governo Lula estão
mais para Tony Blair e para o neoliberalismo do
que para aquilo que poderíamos chamar de
uma política de esquerda.
JU - Não seria ingênuo
imaginar que o governo Lula mudaria as coisas
da noite para o dia?
Ricardo Antunes Não tinha
nenhuma ilusão de que o governo Lula fosse
revolucionar o estado brasileiro, mudar tudo da
noite para o dia. Lula não é um
líder de um movimento revolucionário.
Lula foi vitorioso no processo eleitoral. O que
os movimentos sociais e parte importante do eleitorado
esperavam é que o PT iniciasse a desconstrução,
a descontinuidade do neoliberalismo no Brasil,
iniciando algumas reformas importantes para resgatar
a dignidade do povo brasileiro.
JU - Quais seriam?
Ricardo Antunes Vamos sinteticamente
enumerá-las. 1) É inaceitável,
por exemplo, que a mais importante economia da
América Latina tenha um dos salários
mínimos mais baixos do continente. 2) Se
nós temos um contingente de quase 60% no
mercado de trabalho informal, quase 20% de desemprego
em várias capitais, o que esperávamos
do governo Lula, desde o primeiro dia, é
que se iniciasse um processo de diminuição
dessa barbárie. Uma das maiores tragédias
que assolam o trabalhador brasileiro é
o flagelo do desemprego. É imprescindível
uma política de emprego, criando novos
direitos que incluíssem pessoas no mercado,
como, por exemplo, a redução da
jornada de trabalho, que reduziria o desemprego.
Combater a flexibilização da legislação
trabalhista, que os capitais estão fazendo
na prática, burlando as leis. 3) Esperava-se
do governo Lula uma política econômica
que tivesse como ancoragem a produção
de bens de consumo assalariado, de tal modo que
você reativasse a economia incorporando
trabalhadores. 4) Não é possível
arcar com todo o serviço e o endividamento
que decorrem dos juros da dívida interna
e externa, enquanto o país está
completamente paralisado e socialmente desertificado.
Nenhuma dessas medidas foi sequer esboçada.
JU - Numa projeção
hipotética, vamos imaginar que o governo
assumisse de vez posições à
direita. Quais seriam as conseqüências?
Ricardo Antunes Se o PT imaginar
que vai ser a variante brasileira do New Labor,
talvez esteja selando seu fim enquanto partido
de esquerda. Estará desencadeando uma enorme
crise de identidade cuja dimensão nós
vamos sentir daqui a quatro anos. Claro que seu
eleitor mais despolitizado vai recorrer a uma
concepção anti-política do
tipo não adianta votar porque são
todos iguais. E o PT estará dando,
aliás, muitos elementos para que esse preconceito
anti-político se mostre como tal. Espero
que nesse campo polimórfico, heterogêneo
e multifacetado da esquerda social surja algo
novo.
JU - Na votação
da reforma, o governo fez alianças com
a direita e com setores historicamente ligados
ao fisiologismo. Como senhor vê essa prática?
Ricardo Antunes Se a esquerda precisa
assumir a fisionomia da direita para governar,
é melhor ela deixar a direita governar.
O Jospin perdeu a eleição na França
porque assumiu como um governo reformista e foi
incapaz de levar seu projeto adiante. Entre a
esquerda que age como direita e a direita clássica,
os eleitores europeus ficaram, nas últimas
eleições, com a direita. Foi constrangedor
ver, no parlamento, o PT fazer concessões
de todo o tipo. As conseqüências serão
vistas nas próximas eleições.
Não tenho dúvida de que, se não
houver uma mudança profunda dessa política,
o partido vai receber um fragoroso não
de muitos de seus eleitores, os servidores públicos,
formadores de opinião, à frente.
O litígio é tão enorme que
o fosso criado parece irrecuperável. Parece
aquela separação que não
tem mais retorno. Foi tão litigioso o processo
de divórcio, que é praticamente
impossível que ocorra uma retomada posterior.
Rompeu-se o liame fundamental do tripé
que sustentava o PT, formado pelo operariado privado,
pelos trabalhadores do campo e pelos assalariados
médios da esfera pública. Os outros
desdobramentos nós veremos em breve, quando
vierem as demais reformas, em especial a trabalhista.
E seus ensaios já são bastante preocupantes.