CLAYTON
LEVY
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O
secretário estadual de Ciência e Tecnologia,
João Carlos Meirelles: “A Unicamp será o núcleo
duro do sistema” |
A Agência
de Inovação da Unicamp (Inovacamp)
deverá concluir dentro de nove meses o
estudo de viabilidade econômica e plano
de investimentos para a implantação
de um novo parque tecnológico no entorno
da universidade. Os primeiros levantamentos do
estudo, que conta com a participação
de pesquisadores do Núcleo de Estudos Sociais
e Urbanos da Unicamp (Nesur), foram apresentados
na última quinta-feira ao secretário
estadual de Ciência e Tecnologia, João
Carlos Meirelles, pelo reitor Carlos Henrique
de Brito Cruz. O desenvolvimento do estudo já
conta com financiamento no valor de R$ 2,8 milhões.
Os recursos virão do governo federal, através
da Financiadora de Estudos e Projetos (R$ 1,3
milhão); governo estadual (R$ 1,2 milhão);
e administração municipal (R$ 300
mil).
Nessa primeira
fase do estudo foram realizadas duas simulações
de custos e taxa de retorno. Com uma densidade
baixa de ocupação, utilizando-se
metade da área para residências e
outra metade para indústria e comércio,
o valor global do empreendimento ficaria em torno
de US$ 1,1 bilhão. Com uma densidade média,
sendo 40% para residências e 60% para indústria
e comércio, o valor global do empreendimento
subiria para US$ 1,6 bilhão.
Os autores
do estudo deixaram claro, porém, que se
trata apenas de estimativas iniciais. O estudo
completo terá nove grandes levantamentos,
que incluirão o perfil da área,
engenharia financeira para incorporação,
aspectos jurídicos e plano urbanísticos,
entre outros. O parque está previsto para
ocupar uma área de sete milhões
de metros quadrados formados por propriedades
particulares.
A área, no entorno da Unicamp, também
fica próximo de outros centros de pesquisa,
como o Laboratório Nacional de Luz Sincrotron
(LNLS); Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD);
e Núcleo de Bioinformática da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
A região também já abriga
diversas empresas de base tecnológica,
entre elas a ABC Xtal, pioneira na produção
de fibra ótica nacional, e a AsGa, maior
fabricante de equipamentos para comunicações
óticas do país. Além do parque
no entorno da Unicamp o governo estadual também
está viabilizando estudos para implantação
de outros dois parque tecnológicos, um
deles em São Carlos e outro em São
Paulo. Leia a seguir os principais trechos da
entrevista concedida por Meirelles após
a apresentação do estudo.
JU Os três parques a serem instalados
no estado têm as mesmas características?
Meirelles Não. São
características específicas porque
cada um tem uma vocação peculiar
em função do entorno industrial.
Nesta etapa estamos tratando exatamente disso.
Aqui em Campinas estamos ouvindo a Reitoria da
Unicamp para identificarmos essa vocação.
Agora entramos na fase de ajustes para verificar
a vocação específica dos
três parques e a área que irão
ocupar no conceito real de parque tecnológico.
JU Que conceito
é esse?
Meirelles - Uma unidade central na qual
estaria concentrada a inteligência que será
disponibilizada para um conjunto de empresas que
se localizariam nessa área com seus centros
de pesquisa e desenvolvimento ou com suas linhas
de produção. O parque tem um conceito
imobiliário, não no sentido vulgar
de lotear uma área, mas no sentido de planejar
as áreas disponíveis para que as
empresas interessadas em instalar-se nesse centro
de alta tecnologia possam ser viabilizadas. No
caso de Campinas, o centro estaria diretamente
ligado ao talento da Unicamp nos setores específicos
eleitos para esse parque. A Unicamp já
está identificando alguns setores considerados
prioritários e, no futuro, surgirão
outras demandas que também serão
contempladas. É uma nova dinâmica
para a colocação do talento da universidade
à disposição da produção,
que por sua vez se transformará numa enorme
fronteira de oportunidades para alunos da própria
universidade que, depois de formados, terão
condições de engajar-se numa dessas
empresas ou fazer o seu próprio empreendimento.
A Unicamp funcionará como o núcleo
duro do sistema.
JU O momento econômico
é apropriado para esse tipo de empreendimento?
Meirelles Agora mais do que nunca.
No momento em que temos uma estagnação
da economia, com recessão em alguns setores,
é exatamente o melhor momento para colocarmos
o talento da universidade a serviço de
novas oportunidades, que se conjugam com empresas
importantes no setor tecnológico. As empresas
que se instalarão no parque tecnológico
têm uma visão de médio e longo
prazo e não ficam circunscritas à
conjuntura de crise em que vivemos. Isto faz parte
de um novo plano de desenvolvimento do estado
de São Paulo. Nós precisamos subir
um degrau nesse desenvolvimento. O parque tecnológico
faz parte desse novo conceito. Colocar o talento
para que empresas do setor tecnológico
possam incorporar todo esse talento à sua
produção e rapidamente gerar uma
nova fronteira de trabalho, renda e desenvolvimento,
com produtos não só para o mercado
interno, mas também para exportações.
JU A implantação
dos parque tecnológicos faz parte da estratégia
do governo estadual para aumentar as importações
em 50% dentro de cinco anos?
Meirelles Sim. No ano passado exportamos
US$ 20 bilhões e, a partir de uma série
de ações iniciadas este ano, esperamos
aumentar as exportações em torno
de 10% ao ano a partir do ano que vem. Teremos,
portanto, a partir de 2004, um aumento efetivo
de US 2 bilhões na soma das exportações
como decorrência desse novo modelo que inclui
arranjos produtivos organizados em pelo menos
30 segmentos mapeados, como calçados, móveis,
equipamentos médicos e softwares. São
arranjos produtivos que envolvem vários
municípios de uma mesma região.
Estamos entrando nessas cadeias e verificando
quais são os grandes gargalos, que podem
estar concentrados na carência de matéria
prima, de tecnologia, mão-de-obra ou na
gestão das empresas. A idéia é
criar um conceito de agregação de
valor e habilitação para que esses
produtos sejam exportados.
JU Como está
sendo feito esse trabalho com a produção
de softwares na região de Campinas?
Meirelles Estamos organizando. Há
um problema cultural na origem de todos esses
arranjos. Cada empresário vê o vizinho
como um adversário e não como um
parceiro. Queremos organizar uma grande parceria.
Não é possível a uma empresa
com pequena produção ter mercado
próprio. Ela terá de associar-se
a outras empresas para oferecer os produtos em
bloco, ainda que cada uma preserve a sua marca.
Temos um grupo na Secretaria de Ciência
e Tecnologia trabalhando especificamente com várias
empresas de software.