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Congresso de sociologia
discute dilemas da
sociedade contemporânea
Unicamp sedia encontro nacional
que terá conferências,
mesas-redondas, grupos de trabalho e míni-cursos
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O
professor Octavio Ianni, que será homenageado
por sua contribuição às Ciências Sociais |
Violência urbana, meio
ambiente, discriminações de raça
e gênero, o novo papel do estado, e o impacto
social das novas tecnologias, estão entre
os temas que serão discutidos de 1 a 5
de setembro, na Unicamp, durante o XI Congresso
Brasileiro de Sociologia. O evento, que deverá
contar com público de duas mil pessoas,
reunirá alguns dos principais nomes das
Ciências Sociais no cenário mundial,
entre eles o polonês Pior Sztompka, presidente
da Associação Internacional de Sociologia.
Também está prevista para terça-feira,
dia 2, a presença do ministro de Segurança
Alimentar, José Graziano, num debate sobre
políticas de combate à fome.
Queremos aprofundar a
análise sociológica sobre as questões
científicas e sociais da sociedade contemporânea,
diz o sociólogo e professor do Instituto
de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da
Unicamp, Tom Dwyer, um dos organizadores do evento.
Segundo ele, as questões enfrentadas pelo
sociologia hoje são muito diferentes daquelas
que marcaram a época de sua fundação,
quando os temas sobre integração
social e adaptação das sociedades
às tensões produzidas pelos processos
de industrialização e burocratização
estavam no centro. Esta tradição
deixou múltiplas questões em aberto,
como a discriminação das mulheres,
a fome, o meio ambiente, e a segurança,
entre outras, completa.
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Sérgio
Adorno coordenará mesa-redonda sobre Políticas
Públicas de Segurança |
De acordo com Dwyer, as matrizes
marxistas, que centralizaram as pesquisas durante
um bom tempo, perderam força nos últimos
anos, em função da queda dos blocos
socialistas. Isso abriu espaço para
o desenvolvimento e estudo de outras teorias,
com olhares diferentes, diz. Atualmente,
segundo o sociólogo, estão em maior
evidência pesquisas sobre os conflitos sociais,
conflitos no campo, a violência mundial,
meio ambiente, trabalho, e novas tecnologias.
O Congresso será composto
por oito conferências, 35 mesas-redondas,
25 grupos de trabalho, seis mini-cursos, e quatro
sessões especiais. Entre os convidados
nacionais, estão os cientistas sociais
Sérgio Adorno, do Núcleo de Estudos
da Violência (USP), que coordenará
uma mesa-redonda sobre Cidadania e Políticas
Públicas de Segurança; Benício
Schmidt (UnB, SBS), que coordenará uma
mesa redonda sobre Sociologia e América
Latina; José Vicente Tavares dos Santos
(UFRGS e diretor da Associação Latino-Americana
de Sociologia);e Ricardo Antunes (Unicamp), que
coordenará uma mesa redonda sobre Trabalho:
entre e perenidade e a superfluidade. O reitor
da Unicamp, Carlos Henrique de Brito Cruz, participará,
no dia 3, da mesa-redonda Fronteiras do Conhecimento
nas Ciências Contemporâneas.
Entre os convidados estrangeiros,
além de Sztompka, também participarão
do evento os cientistas sociais Boaventura de
Souza Santos (Universidade de Coimbra e Universidade
de Wisconsin); Göran Therborn (Swedish Collegium
for Advanced Study in the Social Sciences); Michel
Wieviorka (École dês Hautes Études
em Sciences Sociales); e Oskar Negt (Iniversidade
de Hannover).
O Congresso será aberto
às 19h30 desta segunda-feira, no centro
de convenções da Unicamp, com uma
conferência do presidente da Associação
Internacional de Sociologia. Também está
prevista uma homenagem a intelectuais e pesquisadores
que deram grande contribuição às
Ciências Sociais, como Octavio Ianni, Heliete
Safiotti, Antonio Candido e Maria Izaura de Queiroz.
Esta é a primeira vez que a Unicamp sedia
o congresso. O programa completo e informações
sobre o evento estão disponíveis
no site www.sbsociologia.com.br/xicongresso/.
Para
Candotti, governo terá que investir mais
em C&T
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O
presidente da SBPC, Ennio Candotti:
maiores entraves estão no âmbito econômico
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Dez anos depois de deixar
a presidência da Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência (SBPC),
o físico Ennio Candotti reassume
o cargo convencido da necessidade de o Brasil
compreender melhor a função
da ciência e tecnologia (C&T).
A começar pelo governo federal, que
na sua opinião tem conferido um peso
pequeno ao Ministério que cuida da
área. Há muitas prioridades,
sem dúvida. Mas está se pensando
muito em infra-estrutura e pouco em C&T
e educação. Eu vejo muitas
manchetes de jornais discutindo o primeiro
assunto, mas nunca vi espaço para
os outros dois, afirmou. Candotti
visitou a Unicamp no último dia 21
de agosto, quando se encontrou com o reitor
Carlos Henrique de Brito Cruz e falou a
diretores de Unidades de Ensino e Pesquisa
e coordenadores de Centros e Núcleos
de Pesquisa.
O presidente da SPBC considerou
que ocorreram algumas mudanças importantes
nos últimos dez anos no segmento
de C&T. No início da década
de 90, por exemplo, a participação
da indústria no esforço para
promover o desenvolvimento científico
do País era considerada impossível
e desnecessária. Hoje, essa
cooperação é tida como
possível e indispensável,
destacou. Candotti disse que tem identificado
uma certa retomada do interesse em se investir
na pesquisa científica brasileira.
Mas esse otimismo, como ele próprio
deixa transparecer, é contido. Na
sua opinião, ainda existem entraves
a serem superados, sobretudo no âmbito
econômico.
O principal deles está
relacionado à alta taxa de juros
praticada pelo País, atualmente no
patamar de 22%. Os investimentos em
C&T são caros, oferecem risco
e só dão retorno no longo
prazo. Não há possibilidade
de alavancar recursos para a área
com essa taxa de juros, sustentou.
Além disso, prossegue o presidente
da SBPC, o Brasil precisa fazer melhor a
sua lição de casa, notadamente
na esfera da educação. Nos
países hegemônicos, assinalou,
o nível de escolaridade dos trabalhadores
é muito superior ao dos brasileiros.
Para completar, essas nações
conhecem melhor as suas potencialidades,
seja em termos de mão de obra, seja
em relação aos recursos naturais.
Nós ainda precisamos fazer
um mapeamento disso tudo. Somos um País
de extrema diversidade. Só perdemos
para Índia e China nesse quesito,
analisou.
De maneira geral, conforme
Candotti, a comunidade científica
tem sido pouco ouvida pelo governo, inclusive
sobre temas afetos à C&T. Um
exemplo disso, afirmou, foi a indefinição
quanto à condução dos
programas de fomento à pesquisa,
como os Fundos Setoriais, gerenciados pelo
Ministério da Ciência e Tecnologia
(MCT). Durante seis meses, disse o presidente
da SBPC, os responsáveis pela Pasta
ficaram sem saber se a iniciativa era uma
invenção do governo anterior,
que precisava ser reformulada, ou se tinha
raízes mais profundas. Quando
descobriram que eram resultado de uma reflexão
mais longa e ampla, os programas estavam
com a unidade e consistência quase
ameaçadas.
Candotti avaliou que há
boas razões para acreditar que essa
crise tenha sido superada, pelo menos em
parte. Os reflexos dela, no entanto, deverão
ser sentidos no próximo ano. Perdemos
seis meses, tempo que poderia ter sido gasto
com a criação de novos instrumentos
de fomento à pesquisa. Chegamos à
negociação do orçamento
de 2004 com atraso, o que pode representar
uma perda de R$ 300 milhões a R$
400 milhões nos recursos dos Fundos.
O orçamento do MCT também
foi reduzido de R$ 2,5 bilhões para
R$ 2 bilhões.
O presidente da SBPC ressaltou,
ainda, que a participação
da comunidade científica nas discussões
em torno de políticas públicas
voltadas ao desenvolvimento de C&T é
fundamental. Ele lembrou que o Brasil colhe
atualmente nessa área os frutos de
programas implantados há 20 anos.
É o caso do bem-sucedido sistema
de pós-graduação, que
hoje é responsável pela formação
de recursos humanos altamente qualificados
e por estudos cuja aplicação
tem tido largo alcance social e econômico.
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