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Tese mostra pioneirismo dos ginásios vocacionais

Estudo revela a importância dos estabelecimentos escolares, que foram extintos pela ditadura

ANTONIO ROBERTO FAVA

O pesquisador Daniel Ferras Chiozzini: colégios foram um marco na educação nacionalHá exatos 34 anos, por força do regime militar, chegava ao fim uma das mais inovadoras experiências educacionais implementadas no Brasil: os ginásios vocacionais. A dissertação de mestrado Os Ginásios Vocacionais: a (des)construção da História de uma experiência educacional transformadora, apresentada recentemente pelo pesquisador Daniel Ferraz Chiozzini à Faculdade de Educação, investiga as origens, as contradições e as crises desses estabelecimentos dirigidos ao ensino de alunos de 5ª a 8ª séries.

Inspirados no projeto pedagógico da Escola de Sèvres e da Escola Compreensiva Inglesa, que defendiam a participação ativa e consciente do aluno em uma sociedade democrática, os ginásios vocacionais apresentavam baixíssimos índices de reprovação, de faltas e de evasão escolar.

Os colégios constituíram um marco na história da educação brasileira, caracterizado também pelo compromisso com os "excluídos" da sociedade. "Foi uma experiência tão bem-sucedida que a ditadura militar, com receio de sua repercussão, dos propósitos da escola e de sua expansão, violentamente os extinguiu. Além disso, seus idealizadores e professores foram presos e fichados como subversivos", observa o pesquisador Chiozzini, que em seu estudo foi orientado pela professora Ernesta Zamboni.

Segundo Chiozzini, a inovação dos ginásios vocacionais começava pelo currículo dos cursos. Os alunos tinham, além das matérias convencionais, disciplinas que para a época eram novidade, como Artes Industriais, Práticas Comerciais, Práticas Agrícolas, Educação Doméstica, juntamente com Educação Física e Artes Plásticas.

O conteúdo dessas disciplinas, além de proporcionar uma formação ligada ao mundo do trabalho, tinha ainda o propósito de desenvolver atividades práticas, associadas às demais disciplinas classificadas como "teóricas". Esse tipo de formação permitia ao aluno aperfeiçoar-se em todas as suas potencialidades e, a partir daí, identificar a sua vocação e o campo de trabalho onde poderia atuar de maneira mais competente e prazerosa. Por isso, o projeto trazia em seu nome o conceito "vocacional".

Difícil retorno – Os vocacionais foram implantados em escolas de seis cidades do Estado de São Paulo, entre 1961 e 1969: Americana, Barretos, Batatais, Rio Claro, São Paulo e São Caetano do Sul, por onde passaram quase seis mil estudantes. De acordo com Daniel, que se debruçou sobre o tema durante três anos, a pesquisa possibilitou constatar, em primeiro lugar, como foi possível a experiência verificada nesse estabelecimento de ensino que, em pouco tempo, revolucionou o ensino brasileiro.

Havia um projeto pedagógico e uma estrutura institucional diferenciados, que possibilitaram a implementação de uma série de inovações em relação à escola tradicional. Isso proporcionou que o método dessas escolas avançasse de maneira significativa em termos de interdisciplinaridade, processo de avaliação do aluno, currículo e vínculo da comunidade com a escola.

"É o que denominávamos de Estudo do Meio, que proporcionava um contato direto do aluno com o objeto de estudo, o que contribuía para a formação de uma consciência crítica e de um cidadão compromissado e atuante", explica o pesquisador.

O projeto curricular da época era marcado pela integração entre os problemas comuns da comunidade, onde o aluno estava inserido, e o conteúdo convencionalmente trabalhado no ensino fundamental. Dentro dessa perspectiva é que foi implementada uma série de inovações pedagógicas.

A cidade de Americana, situada a cerca de 30 quilômetros de Campinas, um dos mais importantes pólos da indústria têxtil do país, apesar de ter perdido muito de suas características, serve como bom exemplo da aplicação dessa metodologia. Ao estudar a industrialização, os alunos visitavam fábricas e discutiam questões relacionadas ao tema. "Os alunos estudavam desde questões associadas à fabricação de tecidos e os reflexos da industrialização no meio ambiente, até as relações de trabalho existentes na região". Tudo isso, porém, incluindo visitas a regiões que sofriam com o problema da poluição e entrevistando operários.

Chiozzini, no entanto, não acredita que os colégios vocacionais possam voltar um dia da maneira como foram originalmente concebidos. "Algumas instituições particulares de ensino têm condições de levar adiante um projeto com algumas semelhanças. Já o atual sistema público não permite a implementação de iniciativas educacionais como essa", conclui o pesquisador.

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