Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 264 - de 30 de agosto a 12 de setembro de 2004
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Beleza se vê pelos dentes
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Professor da Faculdade de Odontologia sugere
cuidados diante do uso generalizado de produtos para branqueamento

Quando a beleza
se vê pelos dentes



LUIZ SUGIMOTO



O professor Luís Roberto Marcondes Martins, da FOP: "Os pacientes precisam ser monitorados" (Fotos: Antoninho Perri)Aos que visitam sua página na Internet, uma clínica dentária de São Paulo lembra que, “de todas as espécies animais, a humana é a única que pode sorrir”, que dentes brancos e perfeitos indicam “saúde nutricional, amor próprio, status econômico e sexualidade”, e que os comuns já podem exibir o mesmo sex appeal das celebridades. “A cobrança da sociedade em relação à estética, em que a mídia acaba contribuindo para estabelecer parâmetros de beleza, reflete diretamente na odontologia”, afirma o professor Luís Roberto Marcondes Martins, da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP).

Soluções podem ser agressivas e prejudiciais

Dentro do Departamento de Odontologia Restauradora, por exemplo, abriu-se uma linha de pesquisa voltada apenas para o clareamento dos dentes. “A procura generalizada por esta técnica traz algumas preocupações e questionamentos para a classe odontológica. Sabemos que as soluções utilizadas hoje não apresentam efeitos colaterais muito sérios, mas os pacientes precisam ser monitorados. Garantir esse acompanhamento se torna um drama quando as pessoas já podem adquirir produtos para branqueamento dos dentes diretamente no mercado, utilizando-os por própria conta”, observa Martins.

O especialista em dentística adverte que as soluções para clareamento podem ser agressivas e prejudiciais à estrutura do esmalte dos dentes, às vezes de forma irreversível, caso a concentração e o tempo de uso não sejam adequados. Explica que o processo de branqueamento segue o princípio da água oxigenada, por meio de A cirurgiã-dentista Claudia Cia Worschech: “As pessoas devem buscar orientação adequada”uma reação que libera o oxigênio e fragmenta as moléculas responsáveis pela pigmentação do dente, expulsando-as. “Existem diferentes tipos de tratamento. O mais utilizado pelos dentistas, atualmente, é o chamado tratamento caseiro: fazemos um molde dos dentes e depois uma moldeira flexível, na qual se coloca um gel com uma concentração de 10% de peróxido de carbamida, uma solução já bastante estudada e que não afeta a gengiva nem o esmalte”, assegura.

Seguindo o protocolo mais usual, a pessoa deve colocar a moldeira antes de dormir, por um período mínimo de 5 horas, repetindo o procedimento por três noites seguidas; depois do intervalo de uma noite, inclusive para que se possa identificar algum problema de sensibilidade, vêm mais três com o molde, cumprindo o prazo de uma semana para retorno ao consultório. “Comparando com a cor inicial, verificamos o grau de branqueamento obtido. Se for o caso, o uso pode ser prolongado por até quatro semanas”, informa Luís Roberto Martins.

No consultório – Cresce a procura, no entanto, pelo tratamento em consultório, onde a concentração de peróxido de carbamida é elevada a 35%, o que permite o branqueamento dos dentes numa sessão de hora e meia ou duas horas. O custo é obviamente bem mais elevado, devido ao tempo na cadeira. “Essas pessoas nos procuram por causa da rapidez, geralmente pressionadas por uma festa ou outra atividade social. Mas é preciso observar que a reversibilidade desse tratamento rápido é maior que a do caseiro, que por ser mais paulatino acaba se tornando mais duradouro”, acrescenta o professor da FOP.

Confecção de molde para aplicação de gel: tratamento caseiroA alteração significativa da cor dos dentes e a sensação de bem-estar fazem com que os pacientes, intuitivamente, busquem o clareamento em intervalos cada vez mais curtos, mas o aconselhável é que o tratamento não seja repetido antes de um ano e meio. “Este prazo deve ser monitorado pelo odontologista. O dente volta a escurecer por causa de pigmentos externos, como os de café, chocolate, chá, refrigerante e de alimentos como a beterraba. Recomenda-se, inclusive, que durante o tratamento o paciente retire esses itens do cardápio, pois o dente, estando mais permeável, assimila e retém esses pigmentos com facilidade”, aconselha.

Limitações – Segundo Martins, o branqueamento não afeta a matiz dos dentes, visto que aspectos genéticos influem para diferentes padrões, não apenas quanto à forma anatômica, mas também quanto à cor, que pode ser branca ou nem tão branca assim. Ele lembra, ainda, que os produtos para branqueamento podem potencializar a sensibilidade que impede certas pessoas de tomarem um sorvete, por exemplo. “Esses casos pedem cuidados como o de impermeabilizar essas regiões do colo ou associar a aplicação com produtos fluoretados que ajudam a amenizar o problema. Outro detalhe é que quanto menor o nível de concentração de peróxido, menor a sensibilidade”, esclarece.

Já se levantou a possibilidade de que o peróxido de carbamida seria cancerígeno, mas o professor da FOP afirma que, ao longo de quase um século de uso desta substância para o clareamento dental, não houve relatos de prejuízos à saúde que contra-indicassem esse tratamento rotineiramente. Luís Roberto Martins enumera apenas algumas limitações, como em pacientes grávidas, com hipersensibilidade severa, recessão gengival severa, portadores de deficiências mentais ou psicomotoras e pessoas com histórico de alergia a qualquer item da composição do produto.

Estudo relaciona clareamento com escovação


A cirurgiã-dentista Claudia Cia Worschech, ex-aluna de graduação, iniciação científica e mestrado na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), acaba de obter na Unicamp também o título de doutorado, com uma tese em que vincula o processo de escovação à superfície do esmalte submetido a técnicas de branqueamento, sob orientação do professor Luís Roberto Marcondes Martins. Nos testes in vitro, ela realizou estudos com duas concentrações diferentes de peróxido de carbamida para clareamento de dentes, a 10% e 35%, e recorreu a um aparelho próprio para escovação, utilizando dentifrícios abrasivos fluoretados e não-fluoretados e analisou alterações sofridas pelo esmalte.

“A maioria dos cremes dentais que as pessoas usam no dia-a-dia contém abrasivos, que aumentam o poder de limpeza, mas podem tornar a superfície do esmalte mais rugosa, com mais riscos e ondulações. Isto facilita o acúmulo de placa bacteriana e uma maior deposição de pigmentos”, afirma Claudia Worschech. Uma idéia foi avaliar se o flúor poderia minimizar a formação de riscos e seria capaz de aumentar a dureza superficial do esmalte enquanto o clareamento era aplicado. “O flúor não influenciou de forma significativa nos resultados. O creme dental abrasivo, com ou sem flúor, proporcionou alterações nos valores de dureza do esmalte e aumentou os valores de rugosidade. Isso significa que as pessoas devem buscar orientação adequada do odontologista para que tais problemas possam ser controlados”, recomenda.

Por outro lado, o gel com a concentração de 10% de peróxido de carbamida não promoveu alterações no esmalte, enquanto a concentração elevada a 35%, segundo a cirurgiã-dentista, alterou a dureza ou a rugosidade. Para o professor Luís Roberto Martins, o resultado traz certa tranqüilidade para a aplicação do tratamento caseiro, pois temia-se que o gel implicasse em algum dano ao esmalte dos dentes. “Mesmo utilizando o gel a 10%, deve-se ter cuidado para selecionar o creme dental, pois se ele for muito abrasivo provocará alterações”, adverte Claudia Worschech. Ela explica que todos os cremes dentais possuem certo grau de abrasividade, sendo que os menos abrasivos são os infantis e os mais abrasivos os produtos com bicarbonato de sódio ou com efeito branqueador.

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