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Alunos da Unicamp são escolhidos para
mediar debate inédito no evento “DNA Brasil”

Da arte de ‘provocar’
cabeças pensantes




CLAYTON LEVY



Patrícia Regina Kitaka, aluna do quarto ano de Biologia, entrevista o antropólogo Hermano Vianna: provocando o "conflito de idéias" (Fotos: Divulgação)Um grupo de 19 alunos da Unicamp participou, de 16 a 18 de setembro, do evento DNA Brasil, que reuniu em Campos do Jordão 50 cabeças pensantes do País, entre eles o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Num formato inédito no país – sem platéia, com muita preparação prévia, mediação e divulgação imediata das conclusões – o evento reuniu durante três dias especialistas brasileiros de diversas áreas do conhecimento e do trabalho, com o objetivo único de pensar os desafios do país nos próximos 50 anos.

Evento reuniu intelectuais de diversas áreas

“Foi uma experiência bastante ativa e instrutiva”, disse ao Jornal da Unicamp o estudante Alysson Fernandes Mazoni, de 21 anos, que cursa o quarto ano de Engenharia de Controle e Automação. Ele estava entre os 19 estudantes da Unicamp treinados para mediar o evento. Divididos em dois grupos, eles desempenharam as funções de “analistas” e “provocadores”.

Acima, alguns dos participantes reunidos e, abaixo, Regina Casé  (Fotos: Divulgação)Os “analistas”, oito ao todo, estavam encarregados de acompanhar os debates através de monitores instalados em salas separadas dos locais onde ocorreram as discussões. Eles anotaram os pontos mais importantes, catalogaram essas informações e depois as transferiram para o site do evento.

Tudo foi gravado. “A idéia é fazer uma compilação para elaborar um livro sobre o encontro”, explicou Patrícia Regina Kitaka, que cursa o quarto ano de Ciências Biológicas.

Já os provocadores tiveram uma missão diferente. Eles acompanharam os debates nos próprios locais onde estavam ocorrendo e elaboraram questões que foram apresentadas aos debatedores. “O objetivo foi provocar o conflito de idéias para enriquecer a discussão”, explica Patrícia. Segundo ela, o grupo precisou de muita habilidade, perspicácia e organização para desempenhar as duas tarefas.

Segundo os organizadores do encontro, os estudantes da Unicamp foram escolhidos por sua capacidade analítica e pelo projeto de ensino diferenciado adotado pela instituição. Para chegar aos 19 alunos que participaram do evento, os organizadores realizaram três seleções. Na primeira, foram escolhidos 200 estudantes com os melhores rendimentos em projetos de iniciação científica. Numa segunda etapa, foram classificados 34, que chegaram a participar da produção de um dossiê dos convidados. Desses, apenas 19 foram relacionados para acompanhar os debates. O grupo passou por um treinamento intensivo através de dinâmicas de grupo, a fim de atender às expectativas.

(Fotos: Divulgação)De acordo com os organizadores, a participação dos estudantes foi fundamental para a dinâmica do evento.

Os 50 brasileiros de diversas áreas que integram os debates puderam usar apenas suas cabeças para conversar entre si e responder às indagações previamente preparadas.

Ninguém pôde levar computador, trabalhos escritos, papers ou apresentações para os salões de debate – somente a cabeça.

Além do grupo de estudantes, a Unicamp também foi representada pelo Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP), que teve uma das mais importantes missões do encontro: elaborar o “Índice DNA Brasil”.

A idéia é montar um índice que reflita de maneira bem abrangente a qualidade do país, como ele está indo segundo todos os aspectos que possam indicar se o país melhora, piora ou continua na mesma de acordo com indicadores sociais, econômicos e ambientais. Pretende-se ter uma visão em 360 graus e também poder comparar o país, em suas várias dimensões, com outras nações.

Com a ajuda de especialistas em economia, sociologia e estatística, o NEPP articulou uma “cesta de indicadores” para ser levada aos participantes do evento DNA Brasil.

No encontro, os convidados tiveram de dar uma “nota” para cada indicador. Estas notas serão ponderadas pelos especialistas do NEPP e daí vai surgir o primeiro Índice DNA Brasil. Uma vez estabelecido esse índice, ele será divulgado com uma freqüência que se pretende seja trimestral. O Instituto DNA Brasil vai se encarregar de sua divulgação.

Os especialistas do NEPP trabalham no sentido de criar um índice que possa inclusive retroagir e mostrar a qualidade do país no passado.

Como ele será feito a partir de indicadores existentes e publicados com regularidade, será bastante simples retroagir historicamente para ver de onde vem o país e para onde vai.

Também participaram como debatedores o reitor Carlos Henrique de Brito Cruz, o ex-reitor e atual presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Vogt, o coronel Geraldo Cavagnari, do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp, o educador Rubem Alves, e o físico Rogério Cerqueira Leite.

Da propriedade intelectual
aos desafios da educação


Um dos debates mais acalorados do encontro foi “Propriedade intelectual x Competitividade”, na primeira manhã do evento. As discussões foram mediadas pelo reitor da Unicamp, Carlos Henrique de Brito Cruz. Foi consenso que há uma cultura de não-valorização da produção de idéias no Brasil. Discutiu-se também a proteção ao investimento e produção de inovações, julgando-se que o sistema legal brasileiro não satisfaz este papel efetivamente.

Abordou-se também que o Brasil deve focar sua capacidade inovadora nas áreas em que tem maior capacidade de ganhos, e que a tendência de pesquisa é sobre organismos vivos. Participaram do debate o médico Adib Jatene; o coordenador do Projeto Genoma brasileiro, Fernando Reinach; o professor de Ciência da Computação Imre Simon; o professor de medicina Paulo Saldiva; o pesquisador em imunologia Victor Nussenzweig; a economista Dorothea Werneck; e o antropólogo e pesquisador musical Hermano Vianna.

Na segunda parte do debate, “Educar Para Quê?”, na tarde de sexta-feira, os participantes chegaram ao consenso de que o ensino básico e fundamental é prioritário em relação ao ensino universitário.

Os convidados concordaram com a necessidade do resgate do prestígio e formação do professor, assim como da importância de um ensino abrangente e humanista. Os presentes concluíram também que o sistema educacional deve preparar os alunos para o mundo do trabalho. Concluíram que um aspecto negativo da situação educacional no Brasil é que a sociedade como um todo transfere para a escola todas as perspectivas de educação.

Finalmente, concluíram que as novas tecnologias devem ser inseridas na educação, mas não como um fim em si. Participaram do debate, com mediação de Silvio Genesini: o físico Moyses Nussenzweig; o físico Rogério Cerqueira Leite, professor emérito da Unicamp; a poeta Adélia Prado; o médico Miguel Nicolelis; a geneticista Mayana Zats; o pedagogo Fernando de Almeida, a filósofa Olgária Matos e o educador Rubem Alves, também da Unicamp.

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